Com apenas 19 anos, Francisco Campos deu a pedalada de saída
na temporada 2017 triunfando frente aos profissionais. Na Prova de Abertura – Região de Aveiro, o jovem corredor, em estreia pela equipa Miranda-Mortágua,
bateu a concorrência do pelotão sub-23 e elite com um arrebatador sprint na
meta em Ovar. O Cycling & Thoughts esteve à conversa com Francisco Campos.
Qual foi a primeira coisa que te passou pela
cabeça quando ganhaste?
“Bem, quando consegui arrancar para o sprint
final e comecei a passar toda a gente só me passou pelo pensamento: «Eu não
acredito, já está, eu vou ganhar a corrida!». Depois disso foi levantar os
braços e desfrutar daquele momento. Quando parei a bicicleta, apenas procurei
pelos colegas de equipa para que eles vivessem aquele momento comigo. Procurei
também o meu chefe, porque estava ansioso para saber a sua reacção.”
Um triunfo importante para a equipa, que
ganhou em 2017 novo patrocinador e novas cores.
“Claro, este triunfo foi bastante importante
para toda a equipa e ciclistas, pois todos temos trabalhado arduamente e foi
bom ver que o trabalho duro foi recompensado. Foi também muito importante, pois
vimos esta equipa perder o principal patrocinador de 2016 e isto veio dar
confiança a todos os novos patrocinadores, o que considero muito bom. Quanto às
cores, acho que este triunfo fez facilmente esquecer o verde.”
Como foram os momentos na estrada até à
vitória?
“Todos sabiam que teoricamente seria um dia
para os sprinters e recebemos indicações para trabalhar dessa forma. O
resguardo da equipa aos sprinters e a nossa capacidade de comunicação foi
crucial para as coisas correrem deste modo, apesar de ter sido um autêntico ‘free
style mode’ nos derradeiros quilómetros.”
Esta é uma importante vitória na primeira
prova e logo frente aos profissionais. Tem o mesmo sabor da vitória alcançada o ano passado na Galiza ou significam momentos diferentes para ti?
“Ambos os momentos estão no topo das melhores
vitórias de sempre, mas claro que têm sabores diferentes. No ano passado, na
Galiza, foi a minha primeira vitória como sub-23 e, portanto, foi um fecho de
época incrível com a vitória que faltava à equipa. Desencadeou o princípio da
minha afirmação no ciclismo nacional, mesmo tendo sido uma vitória em Espanha. A
vitória na Abertura é diferente, uma vez que é um pelotão maior, com mais
qualidade, e é uma prova que todos querem vencer, pois causa um grande impacto
no início da época. Por isto, considero que esta prova tenha sido o número 1 no
top das minhas vitórias.”
Tens somente 19 anos, mas um crescimento
acentuado principalmente na temporada anterior. Sentes que mudaste a tua
abordagem nas corridas, ou seja, o que mudou em ti para alcançares melhores
performances?
“A minha abordagem a este escalão é o que me
mudou e fez mudar muito. Sabia que isto não eram os juniores, portanto senti
que precisava de mudar a minha vida e pensamento se queria ser bom. Passei a
ser mais exigente comigo, emagreci bastante, passei a ser perfeccionista em
valores de treino e, acima de tudo, tenho um lote de colegas de treino com
qualidade acima da média que me fizeram crescer. Mas nada disto seria possível
sem o apoio dos meus pais e da minha namorada, que me têm seguido nesta
aventura.”
Depois do salto qualitativo no ano transacto,
chegaste a uma nova equipa em 2017. Como tem sido a adaptação e convivência na
Miranda-Mortágua?
“O ano transacto foi um ano de aprendizagem
em que só tenho de agradecer a quem me guiou, porque vão passar os anos e sei
que não vou esquecer as coisas que lá aprendi. Com a chegada à equipa do chefe
Pedro Silva, em poucas horas de convivência já me sentia em casa e isso deve-se
também por ter amigos de longa data na equipa e o conhecimento de 80% da mesma
é também muito importante. O Pedro Silva deixou-me bastante à vontade.”
A par do ciclismo, continuas os teus estudos.
Em que área estás a estudar e como é a conciliação entre desporto e estudos?
“Sim, tenho conciliado desde sempre o
ciclismo e os estudos. Não é uma tarefa fácil, já que às vezes tenho de me levantar
às 6h, outras vezes dormir 6h… Mas apesar disto tem
corrido bastante bem. Neste momento, estou na Universidade no 1º ano de
Engenharia Informática e é quase seguro dizer que acabarei o primeiro semestre
com todas as cadeiras feitas. Uma vantagem da minha mudança para esta equipa é
que ela conta com um licenciado, a tirar mestrado, em engenharia informática. Ele
que também tratou de criar o site da equipa dos pés à cabeça e que tem
sido uma excelente ajuda tanto em cima como fora da bicicleta.”
O que te vês a fazer daqui a 2-3 anos?
“Daqui a 2-3 anos gostaria de ter a minha
licenciatura já terminada, gostaria de poder ver o ciclismo português a
destacar-se com as próprias equipas lusas e comigo incluído. Ou também gostaria,
claro, de seguir as pegadas de ciclistas jovens como Rúben Guerreiro e Nuno
Bico, que conseguiram um grande destaque ao ingressar em equipas ProTour de
grande nível.”
A
dedicação e o empenho de Francisco Campos, aliados à natural qualidade e
aptidão no ciclismo, têm dado frutos através das vitórias e da forma como estas
são alcançadas. Reflexo disso mesmo foram os comentários subsequentes à Prova
de Abertura – Região de Aveiro, feitos pelos ciclistas profissionais do pelotão
nacional:
Frederico Figueiredo (Sporting-Tavira): “Tivemos na
discussão da corrida onde o Fábio faz 3º posto, mas surgiram dois jovens
sprinters que mostraram a sua classe neste tipo de chegadas. Só nos resta
felicitá-los pelo bom desempenho nesta prova de abertura da época 2017.”
Filipe Cardoso (Rádio Popular-Boavista): “De salientar a
vitória na competição de um jovem sprinter sub-23, que venceu os prós com
bastante classe!”
César Fonte (LA Alumínios-Metalusa-BlackJack): “Foram muitos interesses no mesmo, chegada ao sprint e tal
aconteceu. No fim chegou a surpresa, vitória brilhante do jovem Francisco
Campos da Miranda-Mortágua.”
A primeira vitória da temporada de Francisco Campos (© João Fonseca) |
Uma boa entrevista. Parabéns à Cycling & Thoughts e também ao entrevistado. Para ele os melhores sucessos.
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