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Rafael Silva: “Vivi o pior momento da minha vida pessoal”

Rafael Silva pedala a segunda temporada na equipa continental Efapel, um ano de sentimentos mistos para o corredor de 24 anos que tem vindo a consolidar-se como um dos melhores jovens sprinters lusos da actualidade. Não somos somente nós que o afirmamos, é também a opinião do tetracampeão da Volta a Portugal Marco Chagas, partilhada na RTP aquando da transmissão da prova rainha.

Rafael Silva (© Helena Dias)

Rafa, como é conhecido no pelotão, dedicou-se desde cedo aos pedais. Aos 10 anos enamorou-se da bicicleta e em 2007 já conquistava metas em júnior pelo Sport Ciclismo São João de Ver. Em 2008 esteve presente no Campeonato Europeu de Juniores e em 2011 começou a despontar como um dos melhores sub-23 vencendo no seu escalão duas etapas do Grande Prémio Liberty Seguros. O ano de 2012 foi de total afirmação neste escalão ao conquistar a Volta a Portugal do Futuro, triunfando em duas etapas numa exibição que se tornou inesquecível até aos dias de hoje pela forma como abraçou tão resplandecente vitória. Nesse ano, conquistou a Taça de Portugal Sub-23, agarrou o bronze nos Nacionais de fundo, foi o melhor sub-23 do Ranking Ciclista do Ano da Associação Portuguesa de Ciclistas Profissionais e em Espanha venceu a Clássica de Vigo. Com naturalidade subiu a profissional em 2013 pela LA Alumínios-Antarte, terminando a Volta a Portugal desse ano em 20º da geral. Em 2014 mudou-se para a equipa Efapel e entre diversos pódios destacou-se como o grande vencedor do Grande Prémio Liberty Seguros.

Em 2015 está a viver a segunda temporada ao serviço da Efapel, um ano “a nível colectivo muito bom, estivemos na discussão de todas as provas com vitória em muitas delas e quando não ganhávamos dávamos luta aos rivais. Portanto, o balanço só pode ser positivo, porque sinto que contribui para esses resultados”, disse Rafael ao Cycling & Thoughts.

Ao longo da temporada, Rafael pareceu viver três momentos distintos em competição. Um início de calendário em grande plano, uma fase intermédia mais modesta e desde o final da Volta a Portugal regressou à discussão de vitórias. “Sim, basicamente a minha temporada pode ser analisada dessa forma. Não tinha como objectivo entrar bem no início de época, mas estando mais ou menos consegui alguns bons resultados. Depois, quando tive de disputar vitórias vivi o pior momento da minha vida pessoal, a perda do meu pai por doença, e isso fez com que deixasse de treinar durante algum tempo. O psicológico, a motivação e a ambição também deixaram de funcionar e perdi boas oportunidades de discutir algumas provas, mas a vida é assim mesmo e era impossível ser de outra forma. Depois disso, praticamente só restava a Volta e, como me informaram antecipadamente que iria ser um dos nove elementos a fazer parte da Grandíssima, tive todo o tempo para me preparar convenientemente. A equipa deu-me todo o apoio e pediu-me calma, porque mais cedo ou mais tarde iria voltar ao meu nível e eu próprio não queria falhar com ninguém. Só restava aplicar-me da melhor forma possível. De facto, durante a Volta e mesmo depois da mesma terminada senti-me melhor e mais confiante.”

A Efapel sofreu uma notória mudança em 2015 com a entrada de diversos ciclistas. “Sofremos algumas mudanças, mas os novos reforços vieram com a mesma mentalidade vencedora que tínhamos o ano passado e os resultados falam por si.” Com a temporada na estrada, a chegada do novo director desportivo trouxe uma nova performance à equipa. “O Américo Silva é um director com muita experiência e isso notou-se em algumas das nossas vitórias em que corremos mais com a cabeça do que com o coração.”

Rafael Silva finalizou a Taça de Portugal no 5º lugar, tendo a equipa ganho o troféu no colectivo e individualmente com Diego Rubio. Um saldo muito bom tanto para o grupo como a nível pessoal. “Parti para esta competição com o desejo de vencer, mas pelos motivos acima referidos esse desejo complicou-se um bocado. Como o Diego venceu logo a primeira prova, naturalmente tanto eu como a equipa trabalhámos para que a vitória nos sorrisse e graças a Deus tudo correu na perfeição.”

Na Volta a Portugal foi companheiro de quarto de Joni Brandão, vivendo de perto o dia-a-dia da luta pela vitória do 2º classificado da geral. “Sim, fui companheiro de quarto do Joni e também estive com ele no estágio antecedente à Volta e em muitos treinos durante a temporada. Naturalmente, e porque nos conhecemos há muitos anos, falávamos de tudo e notava que estava mais ansioso, nervoso pelo que podia acontecer do que normalmente está durante o ano.” Questionado sobre a pressão que Joni poderia sentir pela importância do momento, Rafael confessa: “Para ser sincero, nunca o vi com pressão. Talvez por ser ainda muito jovem, ter muitos anos pela frente e tudo o que conquistasse ou não na Volta seria experiência para o futuro.”

O próprio Rafael esteve perto da vitória em duas etapas na Volta. “É verdade, tive duas oportunidades de discutir etapas, em Oliveira de Azeméis e Castelo Branco. Na de Oliveira fiz 4º num tipo de chegada que me assenta na perfeição. Podia ter feito melhor se a colocação fosse melhor, mas foi o que foi e também podia ter sido pior. Na de Castelo Branco, o desgaste da Volta e do trabalho já era enorme e não deu para fazer melhor do que um 6º lugar. Foi o primeiro ano que tive alguma liberdade para me desenrascar nessas duas etapas e penso que foi muito bom para o meu futuro. Tenho a certeza que me serviu de muita aprendizagem para evoluir nos próximos anos.”

Além do 4º e 6º lugares em duas etapas da Volta, Rafael Silva pontuou a temporada com o 4º lugar em duas provas da Taça de Portugal, na Volta a Albergaria e no Grande Prémio Anicolor, 6º na Clássica da Primavera e 8º no Grande Prémio Liberty Seguros. “Nesta fase final restam os Circuitos e devo participar na maior parte deles.” No primeiro Circuito, em Alcobaça, subiu ao pódio pelo prémio da montanha, seguindo-se um 2º lugar em Nafarros e 9º na Malveira.

Sobre o futuro e a renovação com a Efapel para 2016, “posso adiantar que já se falou no assunto”, diz-nos Rafael e acrescenta “quero agradecer mais uma vez a oportunidade de falar sobre a minha época e pelo apoio que tive durante todo o ano por parte do Cycling & Thoughts.” Enaltecemos a dedicação, o profissionalismo, o talento e a força de superação do Rafael, esperando continuar a levar a todos os leitores os seus êxitos e o seu crescimento no mundo do ciclismo. 

Rafael Silva e Efapel no Circuito de S. Bernardo,
em Alcobaça (© Helena Dias)
Rafael Silva vencedor da montanha no Circuito de S. Bernardo,
em Alcobaça (© Helena Dias)
Rafael Silva no pelotão do Circuito de S. Bernardo,
em Alcobaça (© Helena Dias)
Rafael Silva no Circuito da Malveira (© Helena Dias)
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(escrito em português de acordo com a antiga ortografia)

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