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Terpstra conquista a pedra preciosa de Roubaix

Pódio Paris-Roubaix 2014 (Foto © ASO/B.Bade)

Treze anos volvidos, um holandês voltou a segurar a pedra mais desejada da Paris-Roubaix. Em 2001 Servais Knaven, em 2014 Niki Terpstra (Omega) consegue o que muitos corredores sonham, mas poucos alcançam… a vitória da ‘Rainha das Clássicas’.

À partida de Compiègne, a maioria dos 199 corredores tinha apenas um pensamento em mente. Chegar ao final dos 257 km de tão dura batalha e cruzar a meta no Velódromo de Roubaix. Poucos aspiravam realmente à vitória e hoje alguns nomes sobressaíam… Cancellara (TFR), Boonen (OPQ), Vanmarcke (BEL) e Sagan (CAN) pareciam os mais destinados em busca da pedra preciosa. Os quatro foram protagonistas, mas não ao início.

Diferente em quase tudo, Paris-Roubaix não difere porém na tentativa de buscar a sorte numa fuga. Assim aconteceu com David Boucher (FDJ), Kenny de Haes (LTB), Andreas Schillinger (TNE), Michael Kolar (TCS), Clement Koretzky (BSE), Benoit Jarrier (BSE), Tim De Troyer (WGG) e John Murphy (UHC). Numa corrida de opostos, onde o início em asfalto é apenas um leve prelúdio para a dureza que se segue em 28 sectores de pavé, que culminará na macieza da pista, os oito heróis abriram as hostilidades e pedalaram rumo ao ‘Inferno do Norte’.

Nas primeiras horas de prova tinham superado os primeiros sectores... Troisvilles, Viesly, Quiévy, Saint-Python, Solesmes, Saulzoir e Verchain-Maugré foram somente um aperitivo. Seguiram-se Quérénaing à Famars, Monchaux-sur-Ecaillon e Haveluy numa aparente tranquilidade, totalmente destroçada na entrada para um dos mais poderosos sectores. Impiedosos, os 2400m de Trouée d'Arenberg reduziram a fuga a metade, tendo semelhante efeito no pelotão 4 minutos depois. Entre quedas e avarias mecânicas, Paris-Roubaix ia fazendo a selecção de quem cruzaria a meta ao final do dia, estando ainda a 95 km e 17 sectores de distância.
 
Trouée d'Arenberg  (Foto © Presse Sports/B.Papon)

Pelo meio, David Boucher (FDJ) viu-se retido numa passagem de nível a ver passar o comboio, enquanto a corrida continuava rumo a mais dureza… Entre Wallers à Hélesmes e Hornaing, uma queda no pelotão obrigou Cancellara (TFR) a recuperar posições, nada que fizesse ‘Spartacus’ perder o foco. E a dureza das pedras continuava… Warlaing à Brillon, Tilloy à Sars-et-Rosières e Beuvry-la-Forêt à Orchies, onde Boonen (OPQ) encontrou o momento para atacar, mesmo encontrando-se a 66 km e 12 sectores para o final.

Ao alcançar os restantes fugitivos da jornada, o belga reuniu um pequeno grupo e sector após sector foi vendo a vantagem subir e descer ao sabor da passagem das pedras. Foi assim por Orchies, Auchy-lez-Orchies à Bersée, nos 3000m de Mons-en-Pévèle, Mérignies à Avelin, Pont-Thibaut, Templeuve à Moulin e Vertain. Insatisfeitos com o desenrolar da clássica, o ritmo na perseguição aumentou resultando na constituição de três importantes grupos na frente da corrida, separados somente por segundos. O primeiro com Boonen (OPQ), no meio um duo com Sagan (CAN) e logo em seguida o grupo de Cancellara (TFR) e Vanmarcke (BEL).

Enfrentaram o duplo sector de Cysoing à Bourghelles e Bourghelles à Wannehain, onde Sagan (CAN) já pedalava lado-a-lado com Boonen (OPQ) no mesmo grupo. Com os perseguidores cada vez mais perto, ‘Hulk’ decidiu tentar algo diferente, saindo em solitário a 21 km do final. Passou Camphin-en-Pévèle, sendo alcançado logo em seguida nos 2100m do também impiedoso Le Carrefour de l'Arbre por Cancellara (TFR), Vanmarcke (BEL), Stybar (OPQ) e Degenkolb (GIA), que tinham ultrapassado Boonen (OPQ).

Tudo parecia indicar um desenlace protagonizado por este quinteto, estando apenas a três sectores de menor dificuldade para o final. Passaram Gruson, mas o entendimento, ou melhor a falta dele trouxe à sua companhia novamente o grupo de Boonen (OPQ), onde também figuravam Wiggins (SKY), na sua primeira incursão pela dureza de Roubaix enquanto vencedor do Tour de France, e Terpstra (OPQ). Passaram o pavé de Hem e sem pedir licença Terpstra (OPQ) avançou uns metros sem resposta directa e o impensável tornava-se cada vez mais próximo da realidade à passagem pelos últimos 300m de pedras em Roubaix.

À entrada da pista, a quimera perseguida nos últimos quilómetros em solitário ia tomando forma com Terpstra (OPQ) a ouvir o sino do Velódromo de Roubaix a anunciar a sua passagem e enquanto pedalava o sonho materializava-se no erguer dos braços para receber a vitória da 112ª edição da Paris-Roubaix.

Colocar uma corrida como esta no papel (ou numa página da internet) é uma tarefa ingrata, pois nenhuma palavra parece ser suficiente para reflectir a sua verdadeira essência. Só quem vive e sente a dureza de tão imponente prova consegue perceber na totalidade o sentimento de Terpstra (OPQ), Degenkolb (GIA) e Cancellara (TFR), pois além de chegarem ao final dos 257 km, dos quais 55 km em pavé, subiram ao almejado pódio da ‘Rainha das Clássicas’.

Longe do pódio, mais precisamente a 27m46s, mas perto desse sentimento esteve Bradley White (UHC), o último dos 144 heróis que cruzaram neste dia a linha da meta de Roubaix.

Niki Terpstra vence Paris-Roubaix  (Foto © ASO/B.Bade)


Resultados
1 Niki Terpstra (Ned) Omega Pharma-Quick Step 6:09:01
2 John Degenkolb (Ger) Giant-Shimano +0:20
3 Fabian Cancellara (Sui) Trek Factory Racing +0:20
4 Sep Vanmarcke (Bel) Belkin +0:20
5 Zdenek Stybar (Cze) Omega Pharma-Quick Step +0:20
6 Peter Sagan (Svk) Cannondale +0:20
7 Geraint Thomas (GBr) Sky +0:20
8 Sebastian Langeveld (Ned) Garmin-Sharp +0:20
9 Bradley Wiggins (GBr) Sky +0:20
10 Tom Boonen (Bel) Omega Pharma-Quick Step +0:20

(escrito em português de acordo com a antiga ortografia)

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