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Vidal Fitas: “Ganhar a Volta a Portugal depende de muitos factores”

Perto da Volta a Portugal, perfilam-se os candidatos à vitória da 77ª edição e os ciclistas galegos mostram-se fortes e com blocos sólidos para alcançar a renovação do título. Contudo, um português tem na sua equipa a vitória da rainha portuguesa. Vidal Fitas, director desportivo da Team Tavira, conta este ano com o regresso de Ricardo Mestre à histórica equipa tavirense, vencedor da Volta em 2011 sob o seu comando.

Vidal Fitas, director desportivo da Team Tavira,
no Troféu Joaquim Agostinho (© Helena Dias)
Por ocasião do Troféu Joaquim Agostinho, ante-sala da Volta, Vidal Fitas falou-nos deste regresso de Ricardo Mestre à casa-mãe: “A equipa está mais homogénea do que era. O Ricardo dá-nos outra responsabilidade no que diz respeito a classificações gerais. É um atleta que em determinado tipo de corridas, como a Volta a Portugal e o Troféu Joaquim Agostinho, acaba por ser sempre um candidato à vitória e isso aumenta-nos a responsabilidade. A equipa tem estado bem dentro dos objectivos que delineámos. É evidente que a parte mais importante da época chega agora. Se essa parte correr bem, então toda a época acaba por resultar e cumprir os objectivos que nos propusemos”.

Pela vasta experiência na direcção da equipa com vista ao triunfo da mais importante prova do calendário nacional, Vidal Fitas é bem conhecedor das dificuldades que tem pela frente. “Nós sabemos que é difícil. Ganhar a Volta a Portugal depende de muitos factores, não apenas da qualidade do atleta ou da equipa. Há pequenos pormenores que nos têm de correr sempre bem para que isso possa acontecer. Aquilo que achamos ser possível é lutar pela vitória da Volta e lutar pela vitória significa ganhar, fazer segundo, terceiro ou quarto. Significa um desses lugares. Outra parte terá de vir com a corrida, porque há uma série de circunstâncias que não controlamos e essas só a própria corrida dita quem é o vencedor. Em termos de qualidade, penso que há três ou quatro ciclistas bastante iguais e serão esses pormenores que farão a diferença. No meu ponto de vista o Alejandro Marque, Delio Fernández, Gustavo Veloso, que para mim é o principal favorito, e o próprio Ricardo Mestre são os favoritos, são aqueles que já ganharam a Volta a Portugal. Embora o Delio nunca tenha ganho, por tudo aquilo que fez nos últimos anos podia perfeitamente ter lutado pela vitória. É evidente que há uma série de atletas que também podem chegar à vitória da Volta e só não os incluo nesse lote, porque nunca a ganharam e isso também faz diferença”.

A longa ligação ao ciclismo e a forma como trabalha com os atletas tem conferido a Vidal Fitas um estatuto de grande qualidade em termos de direcção desportiva, que o converte num dos melhores e mais conceituados directores portugueses de equipas continentais dos últimos anos. O relevante papel que desempenha no ciclismo nacional não lhe retira a humildade das palavras nesse natural reconhecimento. “A importância que nós temos é sempre relativa. Para já, é uma responsabilidade. Esta é a vida que eu escolhi, é o meu mundo. Tenho noção que os resultados que consegui ao longo dos anos me dão essa notoriedade e é evidente que o sinto. Da mesma forma que eu sentia pelos directores desportivos de quando era ciclista, directores que respeitávamos por tudo o que conseguiram na modalidade. Na altura o Emídio Pinto, que tinha um palmarés invejável, ou o próprio José Santos, que ainda cá está. Eu sinto essa responsabilidade, porque sinto que consegui alguma coisa que provavelmente não está ao alcance de toda a gente. Mas isso confere-me responsabilidade e não mais do que isso”.

Este trabalho tem, por vezes, frutos bem saborosos como a entrada no pelotão WorldTour de ciclistas que passaram pelas suas mãos. André Cardoso é um desses casos e de bastante sucesso, visto o corredor da Cannondale-Garmin ser uma das peças-chave da equipa norte-americana. Vidal Fitas não esconde, “Qualquer um sentia orgulho, porque acabamos por lidar com pessoas numa determinada fase das suas vidas, provavelmente proporcionando-lhes a nível desportivo algo que lhes é útil. Além de ser um orgulho, também nos confere a tal responsabilidade. De facto, são coisas que não se conseguem todos os dias. Não é todos os dias que se consegue ter um atleta numa equipa daquele calibre. Em Portugal, as nossas limitações em termos orçamentais levam-nos a não ter muitas vezes aquilo que desejamos, mas sim aquilo que é possível. Quando nessa conjuntura há um atleta que se destaca e consegue dar o salto para um patamar superior àquele que nós temos, sentimos aquele sentimento de missão cumprida e acaba por nos tocar”.

Em 10 anos de direcção desportiva, Vidal Fitas já alcançou múltiplas glórias, entre elas a maior que um director pode almejar, a conquista da Volta a Portugal. A questão impõe-se, ainda há sonhos por cumprir? “Há sempre sonhos por concretizar. Se o sonho acabar, já não fazemos nada aqui ou noutra actividade qualquer. Há aquele ditado que diz «o sonho comanda a vida» e, de facto, o sonho é aquilo que nos faz levantar todos os dias e lutar para que as coisas aconteçam. É evidente, há coisas que ainda gostava de fazer. Talvez não em Portugal, porque já fiz praticamente tudo aquilo que sonhei, mas fora daqui sim... penso que é possível. Em Portugal há conhecimento suficiente para podermos ambicionar chegar a sítios diferentes daqueles que normalmente estamos e, sim, penso que será um sonho por concretizar”. Qual será esse sonho, é uma questão que fica no ar.

Ricardo Mestre (Team Tavira) na luta pelo Troféu Joaquim Agostinho
(© Helena Dias)
______
(escrito em português de acordo com a antiga ortografia)

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