Fugas. Esses
momentos de corrida em que dás tudo e esse tudo parece não chegar para vencer a
etapa. Mal o km 0 é ultrapassado, a fúria de fugir ao pelotão invade os
ciclistas e ninguém os pára até conseguirem essa almejada distância. Maioritariamente
condenadas ao insucesso, são as fugas que animam dia após dia as corridas por
etapas. Nesta que foi a mais longa jornada da 77ª Volta a Portugal, a fuga foi
protagonista do princípio ao fim, mesmo não alcançando a vitória na linha de
meta. Uma fuga feita de impulsos, de momentos sui generis que só a rainha lusitana consegue oferecer ao longo das
suas edições. Por muitas corridas que veja, nenhuma consegue superar o
interesse da Volta, dona de uma dinâmica muito própria.
Impulso, tudo
se resume a um ímpeto de fracção de segundos que leva à pedalada decisiva de
arranque do pelotão. O impulso de Bruno Silva (LA Alumínios-Antarte) logo ao
início dos 196,8 km entre Pinhel e Bragança, levando consigo mais quatro
aventureiros na procura pelas metas antes da derradeira meta final. Uma luta
muito particular, quase solitária e de pouca colaboração, onde Bruno Silva foi
o mais destemido na frente do quinteto, de cara ao vento, culminando na subida
ao pódio pela camisola da montanha.
O impulso de
Alberto Gallego (Rádio Popular-Boavista) em fazer parte dessa fuga, fugindo às
ordens iniciais do director desportivo, acatando mais tarde a ordem de não
colaborar com uma aventura para a qual não estava destinado. Mas já que estava na
frente, nada melhor do que tentar a sorte e pedalar em solitário com menos de
50 km pela frente, mas sendo alcançado à primeira passagem pela meta a 14km do
desenlace. Culminou numa subida ao pódio pela combatividade. Combativas foram
as palavras do Professor José Santos à RTP, soltando a insatisfação pelo ímpeto
do jovem Gallego em partir para uma fuga e não permanecer junto à equipa como tinha sido delineado no briefing pré-etapa, comparando a sua impulsividade à de Tiago Machado, seu pupilo em
anos anteriores na equipa Boavista.
O impulso de
Florian Nowak (Team Stuttgart), Christopher Hatz (Team Kuota-Lotto) e Héctor
Sáez (Caja Rural-Seguros RGA) em pertencer à fuga inicial, culminando na subida
do espanhol à liderança da juventude e do combinado. Os derradeiros impulsos para
escapar a uma chegada massiva à linha de todas as decisões por David de la
Fuente (Efapel) e Fabricio Ferrari (Caja Rural-Seguros RGA) a 9 km, já dentro
dos 1000m pelo luso José Gonçalves (Caja Rural-Seguros RGA).
Todos os
impulsos foram refreados pela força inabalável da líder Verandas Willems
Cycling Team, presença constante no comando do pelotão ao longo do dia e fiel
guardiã da amarela de Gaetan Bille. Somente nos quilómetros finais a força na frente
do grupo mudou de cores. Se no prólogo o defensor do título Gustavo Veloso deu
tudo num irrepreensível contra-relógio individual, nesta primeira etapa a
W52-Quinta da Lixa arrasou o asfalto nos momentos cruciais da jornada,
reduzindo o pelotão na tentativa de assalto à liderança e triunfo da etapa.
Este impulso de uma equipa que se mostra extremamente sólida quase levava
Samuel Caldeira à vitória, terminando em 2º num forte sprint ganho por Vicente
de Mateos, que brindou a equipa lusitana Louletano-Ray Just Energy com uma
importante vitória. Em 3º na luta pela etapa, um rosto bem conhecido da Volta. O
italiano Davide Vigano (Team Idea 2010 ASD), vencedor em 2014 da segunda etapa
e da camisola dos pontos.
A luta pela geral
permanece envolta numa tranquilidade meramente aparente, esperando um impulso
mais forte de um dos favoritos para marcar a diferença na conquista da Volta. Os
principais contenders estão na geral
em 2º Gustavo Veloso (W52-Quinta da Lixa) a 3s, 8º Hugo Sabido (Louletano-Ray
Just Energy) a 20s, 13º Hernâni Brôco (LA Alumínios-Antarte) a 25s, 17º Ricardo
Mestre (Team Tavira) a 27s, 30º Rui Sousa (Rádio Popular-Boavista) a 34s e 31º
Alejandro Marque (Efapel) a 34s.
Samuel Caldeira, Alberto Gallego, Héctor Sáez, Bruno Silva, Vicente de Mateos e Gaetan Bille (foto Volta a Portugal) |
Resultados Et1
1º Vicente de
Mateos (Esp) Louletano-Ray Just Energy 5:10:04
2º Samuel
Caldeira (Por) W52-Quinta da Lixa m.t.
3º Davide
Vigano (Ita) Team Idea 2010 ASD m.t.
4º Filipe
Cardoso (Por) Efapel m.t.
5º Eduard Prades (Esp) Caja Rural-Seguros RGA m.t.
6º Johannes Weber (Ger) Team Stuttgart m.t.
7º José
Gonçalves (Por) Caja Rural-Seguros RGA m.t.
8º Daniel
Mestre (Por) Team Tavira m.t.
9º Alejandro
Marque (Esp) Efapel m.t.
10º Jasper Ockeloen (Ned) Parkhotel Valkenburg m.t.
C.Geral
1º Gaetan Bille (Bel) Verandas Willems Cycling Team 5:17:26
2º Gustavo
Veloso (Esp) W52-Quinta da Lixa +3”
3º Samuel
Caldeira (Por) W52-Quinta da Lixa +15”
4º José
Gonçalves (Por) Caja Rural-Seguros RGA +16”
5º Ricardo
Vilela (Por) Caja Rural-Seguros RGA +18”
6º Delio
Fernández (Esp) W52-Quinta da Lixa +18”
7º Eduard
Prades (Esp) Caja Rural-Seguros RGA +19”
8º Hugo
Sabido (Por) Louletano-Ray Just Energy +20”
9º Vicente de
Mateos (Esp) Louletano-Ray Just Energy +21”
10º Héctor Sáez (Esp) Caja Rural-Seguros RGA +22”
Camisolas
Geral: Gaetan Bille (Bel) Verandas Willems Cycling
Team
Juventude: Héctor
Sáez (Esp) Caja Rural-Seguros RGA
Montanha:
Bruno Silva (Por) LA Alumínios-Antarte
Pontos:
Vicente de Mateos (Esp) Louletano-Ray Just Energy
Combinado: Héctor
Sáez (Esp) Caja Rural-Seguros RGA
Equipas: W52-Quinta
da Lixa
Resultados completos aqui
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Volta a Portugal: prólogo de sentimentos mistos
(escrito em português de acordo com a
antiga ortografia
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