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Amaro Antunes: “Caso fique em Portugal, os planos não passam por mudar de equipa”

Aos 29 anos, Amaro Antunes alcançou a vitória sonhada por muitos corredores portugueses: a camisola amarela da Volta a Portugal. Semanas volvidas da importante conquista da prova rainha nacional, o ciclista da W52-FC Porto divide o tempo entre a família, os treinos, as inúmeras solicitações para entrevistas e o seu Clube de Ciclismo Amaro Antunes, projecto de formação de jovens ciclistas iniciado em 2017. Entre a azáfama diária, conseguimos falar com Amaro Antunes sobre a vitória da Volta a Portugal e o que o futuro lhe reserva.

 


Passaram duas semanas desde a vitória da Volta a Portugal. Como analisas a tua prestação e da equipa W52-FC Porto?

 

“Penso que fizemos um trabalho bastante coeso. Mostrámos muita união, defendemos um só rosto, que era vencer a Volta a Portugal. Eu consegui fazer a diferença na etapa da Senhora da Graça e, desde aí, a equipa depositou toda a confiança em mim, porque também era um ciclista que dava algumas garantias. Felizmente, consegui confirmar essa confiança, que me foi dada tanto pelo director como pela equipa, e conseguimos vencer a Volta a Portugal. Fiquei bastante contente e irei guardar para toda a minha vida. É algo que qualquer ciclista português ambiciona.”

 

Relativamente aos adversários, quem eram à partida os teus maiores rivais? Tiveste alguma surpresa?

 

“Frisei várias vezes, penso que todos aqueles que estavam no Top 10 eram adversários a ter em conta. Qualquer atleta que entra na Volta a Portugal acaba por ser um adversário a ter em atenção, porque todos os ciclistas preparam aquela corrida afincadamente e com o objectivo de estarem nas melhores condições. Obviamente que cada equipa tem o seu líder e as equipas portuguesas, mesmo as estrangeiras, vão com muita ambição para esta competição. Sem dúvida que os rivais directos passam por ser todos os líderes das equipas portuguesas.”

 

No final da segunda etapa, quando vences na Senhora da Graça e vestes a camisola amarela, pensaste logo naquele momento que este era o ano da tua vitória na Volta?

 

“Na verdade, depois de ganhar e de ver a classificação, senti que tinha dado um passo gigante numa possível vitória. Claro que, na segunda etapa, nunca podemos dizer que a Volta a Portugal estava decidida. Longe disso. A Volta é uma corrida por etapas, em que cada dia tem uma história diferente. Mesmo aquelas etapas aparentemente planas no gráfico, muitas vezes são traiçoeiras, porque pode-se andar a uma velocidade louca ou pode haver ataques, vento, o que muitas vezes dificulta mais do que uma montanha. Por isso, no segundo dia não dei a Volta como ganha, mas senti que tinha dado um enorme passo, porque em relação à classificação tinha sido bastante vantajoso para mim. Sabia também, e era isso que me dava uma enorme confiança, que tinha uma equipa muito forte, unida, coesa e, acima de tudo, um grupo que confiava muito em mim e que nunca me ia defraudar. Foi o que foi visto, tivemos vários atletas que despiram a camisola por mim e isso é muito gratificante.”

 

Quais foram os momentos mais difíceis?

 

“Penso que todas as etapas têm o seu período difícil, mas posso nomear a etapa de Viseu pela questão de termos tido a queda do Ricardo Mestre, que é um elemento fundamental no trabalho e no auxílio à equipa, e também por esse dia ter sido bastante atacado. Tivemos alguns atletas a tomar conta das rédeas da corrida com esses percalços, que nos limitaram um pouco. Felizmente, salvámos o dia.”

 


Esta foi uma edição especial marcada por diversas mudanças, devido à pandemia. O que mudou para os corredores no dia-a-dia da Volta?

 

“Acima de tudo, o barulho infernal dos adeptos. Sem dúvida, foi algo que estranhámos muito. Recordo-me de, quando levantei os braços na Senhora da Graça, sentir aquele momento de alegria pela vitória e ao mesmo tempo baixar os braços rapidamente, porque o silêncio era tanto que houve um misto de sentimentos: a alegria da vitória e a tristeza pelo silêncio que se fazia sentir. Se hoje fechar os olhos ainda sinto isso. Por já conhecer aquela subida com um ambiente fantástico, de milhares de pessoas por toda a subida, foi algo que todos sentimos muita falta e de que nós ciclistas necessitamos, porque o público acaba por ser a nossa fonte de inspiração e uma motivação extra.”

 

Qual o significado de ser felicitado pelo Primeiro-Ministro e pelo Presidente da República?

 

“Foi o que disse ao Professor Marcelo, quando me recebeu no Palácio: agradeço muito e é uma honra ser eu o felizardo. É um orgulho imenso ser recebido pelo Presidente da República e ser congratulado também pelo Primeiro-Ministro. Jamais esquecerei e marca ainda mais a minha vitória nesta edição da Volta a Portugal. Para todo o ciclismo nacional é bom sentir que acompanharam esta competição.”

 

Este foi o teu ano de regresso ao pelotão nacional, após duas épocas no estrangeiro. A vitória da Volta a Portugal torna o teu regresso mais positivo?

 

“Sendo bastante directo e claro, o meu regresso a Portugal foi decidido por mim. Fui eu que tive a decisão de querer regressar e penso que foi a decisão mais acertada. Acima de tudo, um atleta tem de estar motivado, com vontade de fazer aquilo que mais gosta. Quando há aquele momento em que as coisas não estão tão favoráveis ou a motivação não é tão grande como antigamente, algo está mal e tem de mudar. Sou um atleta ambicioso, é verdade. Procuro sempre ser o mais correcto, dar o melhor de mim em prol das equipas que represento, mas penso que um atleta vive de objectivos, de decisões e de vitórias, como é óbvio. Depois de ter estado dois anos no estrangeiro, senti que este era um ano em que tinha de mudar. Tinha algumas ofertas para continuar no estrangeiro, mas optei por regressar a Portugal a uma equipa que muito me acarinhou e continua a fazê-lo. Felizmente, o meu regresso foi contemplado com a vitória da Volta a Portugal. É um marco na minha carreira e algo que me irá motivar ainda mais para continuar a trabalhar, a lutar, e para dar certezas às minhas decisões.”

 


Se surgisse nova oportunidade de ir para o estrangeiro, aceitavas?

 

“Neste momento, o meu foco é assimilar esta vitória. Caso tenha de decidir alguma coisa, porque obviamente poderão haver coisas a decidir, falarei sempre em primeiro com esta equipa e só depois irei analisar e decidir.”

 

Tirando a hipótese de voltar ao estrangeiro, ficar em Portugal passará sempre pela W52-FC Porto ou podem surgir propostas de outras equipas?

 

“Como se costuma dizer na gíria, quando se está bem não se muda. Sinto-me confortável e motivado nesta equipa. Para já, caso fique em Portugal, os planos não passam por mudar de equipa.”

 

Como vão ser estes últimos meses do ano? Se se realizar o Grande Prémio Jornal de Notícias no final do mês de Outubro, irás participar?

 

“À partida, não irei participar. Era muito bom se houvesse esta corrida, porque temos bastantes atletas que praticamente não puderam competir este ano. Será uma oportunidade de competir para grande parte da equipa que não foi à Volta a Portugal. Tenho de ser correcto e dar oportunidade aos meus colegas de competirem. Fiz o Troféu Joaquim Agostinho e a Volta a Portugal e acho que é justo a equipa participar com aqueles atletas que não tiveram hipótese de competir.”



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