Avançar para o conteúdo principal

5 Conclusões da Volta a Portugal 2020



1. O VENCEDOR

 

Amaro Antunes conseguiu a tão sonhada camisola amarela. O corredor de 29 anos tornou-se no mais recente vencedor da Volta a Portugal, após o regresso ao pelotão nacional vindo de duas épocas no estrangeiro com a CCC, equipa polaca com a qual venceu, em 2018 no escalão Profissional Continental, a última etapa e a geral do Tour of Malopolska e, em 2019 no WorldTour, esteve perto de vencer uma etapa no Giro d’Italia, ao ser 3º na chegada a San Martino di Castrozza. Chegado a 2020, entregou à W52-FC Porto não só a vitória da geral, como também o triunfo da mítica etapa da Sra. da Graça. O Futebol Clube do Porto chegou assim à quinta vitória consecutiva na Volta a Portugal, contando já com 17 conquistas no total, desde que o clube chegou ao ciclismo em 1945. Após uma pausa, regressou à modalidade em 2016, juntando-se à W52, que já contava com três vitórias.

 

Na Edição Especial, a W52-FC Porto levou para casa a camisola amarela, três lugares nos dez primeiros da geral, três vitórias em etapas e ainda a classificação por equipas. O galego Gustavo Veloso venceu o prólogo em Fafe e o contra-relógio final em Lisboa, terminando em segundo da geral. João Rodrigues fechou em sétimo da geral e toda a equipa sem excepção, como o próprio vencedor referiu, contribuiu de sobremaneira para a vitória final, transformando-se em guardiões intransponíveis da manutenção da camisola amarela, alcançada por Amaro Antunes no final da segunda etapa, no alto da Sra. da Graça.

 

2. A LUTA PELA CLASSIFICAÇÃO GERAL

 

Não se pode dizer que não houve luta pela classificação geral. Apesar da superioridade imposta pela esquadra dirigida por Nuno Ribeiro, houve rivais que não se deram por vencidos à partida para mais uma edição da Volta a Portugal.

 

A equipa Atum General-Tavira-Maria Nova Hotel foi a que esteve mais perto do sonho de conquistar a camisola amarela. Frederico Figueiredo chegou à última etapa em segundo lugar, com 13 escassos segundos a separá-lo do primeiro lugar do pódio. No final do derradeiro contra-relógio, em Lisboa, caiu para terceiro, ficando na memória a etapa da Sra. da Graça, onde assumiu as despesas ao longo de 7 quilómetros da subida final, sempre com Amaro Antunes na sua roda, o qual atacou a 500 metros da meta e venceu a jornada, vestindo a amarela nesse dia para não mais despir. Frederico terminou ambas as etapas míticas, Sra. da Graça e Torre, na segunda posição, demonstrando a elevada qualidade de trepador que lhe é inata e deixando a promessa de poder chegar mais alto na geral. Também entre os primeiros dez da geral ficou o galego Alejandro Marque, no 8º lugar. Uma referência ainda para David Livramento, que completou a sua 13ª Volta e uma vez mais mostrou o seu bom carácter. Para além de sempre trabalhar em prol dos seus líderes, após uma queda no pelotão não avançou antes de perceber se os corredores de equipas adversárias estavam bem. Chapeau David!

 

A Efapel não conseguiu o objectivo de chegar ao primeiro lugar com Joni Brandão, mas deixou tudo na estrada para o alcançar. A equipa mostrou-se focada no objectivo, contando com a experiência de Tiago Machado e Sérgio Paulinho, uma dupla que já contribuiu para muitas vitórias de líderes no pelotão internacional. Joni Brandão alcançou o triunfo da mítica etapa da Torre, mas não conseguiu subir ao pódio da geral, ficando pelo quarto lugar, a 1m23s de Amaro Antunes. Ou seja, mesmo que não tivesse sido sancionado com os 20s, por abastecimento irregular nos últimos 10 km da etapa da Torre, não teria chegado ao pódio de igual forma. Quem também chegou a um triunfo de etapa, em Setúbal, e fechou em sexto da geral foi António Carvalho, peça fundamental na armada amarela.

 

A Rádio Popular-Boavista não conseguiu vencer nenhuma etapa este ano, mas voltou a conquistar a camisola da montanha, desta feita com Hugo Nunes. Colocou ainda um corredor no Top 10, João Benta na quinta posição, acabando este por melhorar em um lugar o resultado da época passada. Luís Fernandes mostrou-se em excelente forma, terminando em 11º na geral e quase levando uma vitória para casa, ao ser segundo na chegada a Setúbal.

 

3. AS DEMAIS EQUIPAS LUSAS

 

A Kelly-Simoldes-UDO esteve em destaque com Luís Gomes, que conseguiu repetir o triunfo de uma etapa, à semelhança da edição transacta, desta feita no alto de Santa Luzia, bem como repetiu a conquista de uma camisola, este ano a da classificação dos pontos.

 

A Miranda-Mortágua vinha em busca de vitórias em etapas e de colocar Joaquim Silva entre os primeiros dez da geral. A equipa esteve perto de vencer etapas com o venezuelano Leangel Linarez, segundo na chegada a Águeda e terceiro nas chegadas a Viseu e Torres Vedras. O mais próximo do Top 10 da geral foi Daniel Freitas, no 13º lugar, corredor que esteve em boa forma nesta Volta ao terminar cinco etapas entre os 10 primeiros na meta.

 

A Aviludo-Louletano não conseguiu o desejado pódio com Vicente de Mateos, que passou por um mau dia na chegada à Torre, descendo de 7º para 18º na geral. Foi recuperando posições até ao final da Volta, fechando em 12º lugar. Através de João Matias a equipa esteve perto de vencer na chegada a Torres Vedras, sendo 5º no sprint final.

 

A equipa Feirense ficou a 1 segundo do objectivo declarado de vencer o prólogo e vestir a amarela com Rafael Reis. Esteve ainda perto de vencer uma etapa em linha com Oscar Pelegrí, o qual foi 4º na chegada ao sprint em Torres Vedras.

 

A LA Alumínios-LA Sport não conseguiu o objectivo de colocar Emanuel Duarte no Top 15 da geral, corredor que na edição transacta foi o vencedor da juventude. O corredor melhor colocado na geral foi André Ramalho, em 22º.

 

4. A JUVENTUDE

 

O grande destaque entre os mais jovens do pelotão da Volta a Portugal recaiu no vencedor da camisola da juventude, Simon Carr. Como o próprio director desportivo José Azevedo referiu no decorrer da prova, o britânico de 22 anos veio com a Nippo Delko One Provence sem qualquer pressão, visto que tinha subido a profissional nesse mês de Setembro. Foi quarto na chegada à Sra. da Graça, superou todos os percalços mecânicos sofridos em duas etapas, que o fizeram perder tempo, mas conseguiu recuperar e manter a camisola da juventude, alcançada desde o final da segunda jornada. Simon Carr fechou a Volta em 19º da geral, destacando-se ainda na equipa francesa o 10º lugar do galego Delio Fernández e o ter estado perto do triunfo de duas etapas com o italiano Riccardo Minali, segundo no sprint em Torres Vedras e terceiro no de Águeda.

 

Foi precisamente a Carlos Canal, da espanhola Burgos-BH, a quem o britânico ‘roubou’ a liderança da juventude. O mais jovem corredor desta edição da Volta, com 19 anos, vestiu a camisola de melhor jovem no final do prólogo, mas não conseguiu mantê-la até ao final. A equipa teve em Ricardo Vilela o melhor posicionado da geral, no 14º lugar.

 

A contar para a classificação da juventude estiveram somente 12 corredores sub-23. Terminaram a prova 10, dos quais seis lusos: em 3º Pedro Miguel Lopes, 6º Fábio Costa e 9º José Sousa (Kelly-Simoldes-UDO), em 7º Pedro Pinto (Miranda-Mortágua), em 8º Miguel Salgueiro (LA Alumínios-LA Sport) e em 10º Bernardo Saavedra (Feirense). O francês Matis Louvel (Arkéa-Samsic) foi 2º, Carlos Canal (Burgos-BH) 4º e Oier Lazkano (Caja Rural-Seguros RGA) 5º. Não deixa de ser preocupante para o futuro da modalidade haver um número tão reduzido de jovens portugueses a competir na maior prova nacional. Mesmo contando com o facto da Selecção Nacional, maioritariamente sub-23, não ter podido participar, devido a um caso positivo de covid-19, o número de jovens é bastante baixo. Se as equipas Continentais passam por dificuldades, as equipas de Clube, onde maioritariamente crescem os sub-23, podem definhar num curto prazo de tempo.

 

5. AS DEMAIS EQUIPAS ESTRANGEIRAS

 

A Volta a Portugal é sempre uma corrida de procura de vitórias em etapas por parte das equipas estrangeiras. Nesta edição, a mais afortunada foi a francesa Arkéa-Samsic, detentora de duas vitórias ao sprint com o britânico Daniel McLay, em Águeda e Torres Vedras, e quase chegava a um terceiro triunfo com o francês Anthony Delaplace, que pedalou o terceiro melhor tempo no contra-relógio final. A espanhola Caja Rural-Seguros RGA venceu uma etapa com Oier Lazkano, em Viseu, e ainda fechou em 9º na geral com Cristián Rodríguez. A norte-americana Rally Cycling terminou a Volta a Portugal com Keegan Swirlbul no 15º lugar.

 

CURIOSIDADES DA EDIÇÃO ESPECIAL DA VOLTA A PORTUGAL

 

O galego Alejandro Marque (Atum General-Tavira-Maria Nova Hotel), vencedor da edição de 2013, completou a sua 16ª participação na prova rainha lusa, sendo o corredor do actual pelotão com o maior número de participações, ainda longe do Recorde do Guinness detido por Joaquim Andrade (director desportivo Feirense), com 21 participações.

 

Estiveram 21 anos a separar os mais experientes e os mais jovens do pelotão da Volta, Gustavo Veloso (W52-FC Porto) e Sérgio Paulinho (Efapel) com 40 anos de idade, Carlos Canal (Burgos-BH) e Pedro Pinto (Miranda-Mortágua) com 19 anos.

 

Do total de 105 corredores, que iniciaram a edição de 2020, houve 16 abandonos, terminando a prova 89 corredores. Quanto à sua nacionalidade, de Portugal estiveram presentes 52, de Espanha 22, dos Estados Unidos da América cinco, de França 4, do Canadá, Grã-Bretanha, Itália e Rússia dois, e apenas um corredor da Bélgica, Colômbia, Etiópia, Japão, Países Baixos, África do Sul e Venezuela.


» FOTOGRAFIAS VOLTA A PORTUGAL 2020



Comentários

  1. Parabéns pela analise, segui como sempre a volta dia a dia e felicito-a pelo gosto pelo ciclismo e não por qualquer tipo de clubite. Mas quem gosta mesmo de ciclismo é mesmo assim. Obrigado e vou guardar. Cumprimentos e continuação de bom trabalho.

    ResponderEliminar

Enviar um comentário

Artigos Mais Lidos

Apresentação Liberty Seguros/Feira/KTM 2014

Esta quinta-feira, a Biblioteca Municipal de Sta. Maria da Feira recebeu a apresentação do 6º GP Liberty Seguros/Volta às Terras de Sta. Maria e das equipas de formação Liberty Seguros/Feira/KTM do Sport Ciclismo S. João de Ver. Entre as personalidades presentes destacaram-se os patrocinadores das equipas, nomeadamente a Liberty Seguros, a KTM e a Câmara Municipal de Sta. Maria da Feira. Também não faltaram antigos corredores da casa, actualmente a pedalar no pelotão profissional nacional, entre outros o campeão nacional Joni Brandão, César Fonte, Edgar Pinto, Frederico Figueiredo, Mário Costa, Rafael Silva e o internacional André Cardoso. Nem o campeão do mundo Rui Costa faltou à chamada de um dos directores desportivos mais acarinhados no país, Manuel Correia, deixando em vídeo uma mensagem sentida de agradecimento pelo seu percurso e aprendizagem no clube. Precisamente de Manuel Correia surgiu o momento mais marcante da cerimónia, aquando do seu anúncio de fim de ciclo

#Giro100 no Eurosport

A 100ª edição do Giro d’Italia decorre entre os dias 5 e 28 de Maio, com transmissão alargada e personalizada no canal Eurosport , tendo como principais anfitriões da emissão portuguesa os conhecidos comentadores Luís Piçarra, Paulo Martins, Olivier Bonamici e Gonçalo Moreira. O Cycling & Thoughts esteve à fala com três dos comentadores para conhecer os pontos-chave da emissão, prognósticos do pódio e perspectivas da prestação lusitana na Corsa Rosa . No centenário do Giro d’Italia, o pelotão [ ver lista ] contará com três estreias lusitanas: o campeão nacional José Mendes (BORA-hansgrohe), José Gonçalves (Katusha-Alpecin) e o campeão do mundo de 2013 Rui Costa (UAE Team Emirates).

Entrevista a Isabel Fernandes: “África leva-nos a colocar em causa as nossas prioridades de Primeiro Mundo”

O ciclismo apareceu na vida profissional de Isabel Fernandes em 1987 para não mais sair. De comissária estagiária em 1989, chegou ao patamar de comissária internacional dez anos depois, realizando diversas funções na modalidade ao longo dos anos, nomeadamente intérprete e relações públicas de equipas, membro da APCP (Associação Portuguesa de Ciclistas Profissionais) e da organização de várias provas como os Campeonatos da Europa e do Mundo, em Lisboa.