O Cycling &
Thoughts, juntamente para a APCP (Associação
Portuguesa de Ciclistas Profissionais), esteve presente nos tradicionais Circuitos
lusos de final de temporada, aproveitando o momento para sentir o coração dos
heróis das equipas nacionais que estiveram presentes na 79ª Volta a Portugal Santander Totta.
Neste quarto artigo, de uma série de seis, falámos com sete
dos elementos da equipa RP-Boavista
sobre as quatro questões:
1- O que foi o melhor da Volta?
2- E o pior da Volta?
3- Com que sentimento sais desta Volta?
4- Tens algum episódio caricato ou momento marcante na
Volta?
Descubram em seguida as respostas de Rui Sousa, João Benta,
David Rodrigues, Domingos Gonçalves, Filipe Cardoso, Pablo Guerrero e Luís
Gomes.
JOÃO BENTA (CG 7º)
1- Falando da equipa RP-Boavista, o que mais gostei foi do
espírito que vivemos ao longo dos 15 dias da Volta a Portugal. Também tivemos
um espírito mais redobrado com o momento do Rui. Acho que ele merecia, para
além de todos os adeptos, a nossa atenção e o nosso carinho por ele. Para mim
superou muita coisa e foi o mais importante. Em termos de competição, penso que
a equipa esteve toda muito bem. Para além do Porto, que estava uma equipa
fortíssima, acho que conseguimos mostrar que estávamos ali para a guerra. Era
um objectivo da equipa meter pelo menos um atleta no Top 10, eu consegui
corresponder àquilo que foi pedido e acho que foi bastante positivo.
2- O pior da Volta para mim foi cair. Para a equipa, não vou
dizer que tenham havido momentos piores. Claro que quanto melhor fosse a
classificação, melhor ficávamos, mas somente os azares, que são normais
acontecerem, é que foram os piores momentos da Volta.
3- Saí com a sensação que os resultados foram fruto do
trabalho que fiz e isso leva-me a acertar algumas coisas na minha cabeça, sobre
o que tenho de aperfeiçoar para uma próxima Volta correr melhor.
4- Como disse, o momento mais marcante para mim foi o do Rui
Sousa. Sendo meu colega de quarto, vivi momentos muito íntimos dele. Recordo que
todos os dias no quarto sentia que ele estava triste e quando chegavam aquelas
etapas mais carismáticas da Volta, como a Sra. da Graça e a Serra da Estrela,
ele estava ainda mais em baixo, logicamente por saber que seria a última vez
que iria competir nesse tipo de etapas.
LUÍS GOMES (CG 14º)
1- O melhor para mim foi a etapa da Sra. da Graça, penso que
foi o meu melhor dia, aquele em que me senti melhor. O resultado pode nem ter
sido o desejado, mas senti que podia estar entre os melhores. Em geral, gostei
da minha participação na Volta, fiquei feliz com o resultado conseguido.
2- Não digo que foi o pior, mas andei na discussão da
juventude até ao último dia e era algo que queria mesmo conseguir. Não
consegui, ele [Krists Neilands] foi mais forte, mas saí de consciência tranquila.
Fiz de tudo, ataquei e voltei a atacar para conseguir levar essa camisola para
a minha equipa. É sempre bom ir ao pódio na Volta a Portugal e ganhar uma
camisola, que no meu caso era a de melhor jovem. Para mim era importante. Não
consegui, porque o outro ciclista estava mais forte e não é por acaso que ele
faz nos dez primeiros da Volta. Quando assim é, há que dar os parabéns e para o
ano lutar para fazer melhor.
3- Saio da Volta feliz com o meu trabalho, com a minha
evolução, feliz com o trabalho que realizei perante a equipa. Ajudei os meus
colegas em tudo o que pude e eles ajudaram-me quando tiveram de fazê-lo, por
isso, só posso sair satisfeito com tudo o que alcançámos durante a Volta.
4- Assim de repente, não estou a ver nenhum episódio.
DAVID RODRIGUES (CG
23º)
1- Sem dúvida alguma, o melhor foi a vitória do Rui. Acho
que foi a cereja no topo do bolo. Foi algo muito bom e ainda bem que assim foi
a retirada dele. E o público também aderiu a essa vitória de alma e coração.
2- Para mim, o pior foi a queda que tive no segundo dia. Fiquei
envolvido na segunda queda na chegada a Castelo Branco e acabou por me deitar um
bocadinho abaixo psicologicamente. Afectou-me também algo fisicamente e acabou
por ser o lado mais negativo.
3- Saio com o sentimento que posso fazer melhor. Acho que
isso é bom, é sinal que tenho algo para trabalhar mais, para evoluir. Acima de
tudo, acho que é esse o sentimento de continuar o trabalho e as coisas estão a
correr bem nesse sentido.
4- Assim que terminei na chegada em Fafe e soube que o Rui
tinha ganho, foi um momento que para ele foi fantástico e nós, equipa e colegas
que estamos mais próximos dele, sentimos muito isso à flor da pele.
David Rodrigues (© Helena Dias) |
RUI SOUSA (CG 25º)
1- O melhor para mim nesta Volta foi a vitória em Fafe e
também, ponho as coisas equivalentes, o apoio incansável do público perante a
minha pessoa. Senti aquele carinho extraordinário diariamente e de uma forma
avassaladora. Sinceramente, até fiquei um bocadinho surpreendido, mas muito
agradado.
2- Não tenho assim uma indicação do que foi pior. Eu gosto
da Volta e acho que nada do que se passou seja relevante para sentir que fosse
o pior. No âmbito pessoal, posso destacar que gostaria de ter feito uma melhor
chegada à Sra. da Graça, não correu tão bem como eu esperava, mas as coisas são
o que são e dei o meu melhor. Isso é algo que eu prezo, se não consigo quando
dou o meu melhor é porque todos foram mais fortes que eu e foi isso que aconteceu.
3- Saio da Volta com aquela sensação de tristeza e de
felicidade ao mesmo tempo. Tristeza, porque vou deixar aquela que era a corrida
do meu coração, a envolvência da Volta a Portugal e aquilo que é o espectáculo.
Mas ao mesmo tempo saio com muita satisfação, porque chego ao final de 20 anos
de profissional com o sentimento de dever cumprido. Sinto-me bem com a minha
consciência, dei sempre o melhor de mim e acho que isso é o mais importante.
Saio feliz, porque consegui fechar com chave de ouro com aquela vitória em
Fafe, uma vitória de uma envolvência muito grande. Gostaria de sentir que as
pessoas se lembrassem que o Rui Sousa esteve naquela Volta, não conseguiu
vencer a Volta nem pouco mais ou menos, mas saiu com uma vitória que considero
quase como se tivesse ganho a Volta.
4- Se calhar destaco o dia de Fafe. Ia na frente com um
ciclista da Euskadi, depois apanhou-me o grupo do líder da corrida e lembro-me
de vir ao carro buscar água para o Benta e o Professor perguntar-me: “Então,
como é que vais?”, e eu disse: “Oh Professor, eu hoje vou ganhar a etapa”.
Disse-lhe aquilo de uma forma tão natural, que ele ficou a olhar para mim acho
até assustado. Aquilo saiu-me, ia muito bem, as minhas pernas iam muito bem e
ia com uma boa força anímica, que é fundamental para esta modalidade. Foi
engraçado, porque disse-lhe aquilo e ele ficou muito estarrecido a olhar para
mim e depois as coisas acabaram por acontecer.
FILIPE CARDOSO (CG
30º)
1- Para mim o melhor da Volta foi, sem dúvida alguma, a
vitória do Rui. Foi o facto de termos desenhado essa etapa desde o quilómetro
zero. Entrámos os dois numa fuga de gente valente, numa etapa que era muito
dura e em que eu e ele fizemos tudo para o poupar o máximo possível para ele
atacar na parte final. Tudo correu bem e ele venceu a etapa na sua despedida. Estar
desde o início do lado daquele que foi um colega meu de equipa durante muitos
anos para tentar que ganhasse naquele dia… para mim, foi o momento mais
importante da Volta.
2- O pior, talvez a chegada a Castelo Branco em que eu
comecei por ter azares a 20 km, furei e tive uma avaria. E depois, quando se vê
mais de quatro ou cinco quedas nos últimos 3 km, apesar de não estarmos muito
envolvidos, acho que tanta queda em tão pouco tempo acabou por ser o pior
momento da Volta.
3- Saio com o sentimento de dever cumprido, de ter feito
tudo aquilo que a equipa me pediu. É óbvio que, a partir de uma certa altura da
nossa carreira, queremos sempre vitórias na Volta a Portugal, queremos sempre
ganhar, mas isso nem sempre é possível. Mesmo que estejamos na luta, nem sempre
é possível. Fica sempre um saborzinho amargo quando se faz uma Volta e não se
ganha uma etapa, porque é isso que queremos, mas as sensações são boas, estive
presente em tudo aquilo que a equipa me pediu e desempenhei o meu papel.
Portanto, o dever cumprido é a sensação com que fico no final.
4- A Volta é sempre cheia de momentos engraçados, mas se tiver
de escolher um momento emocionante acaba por ser a despedida do Rui. Talvez o
momento giro tenha sido o facto de, por circunstâncias de corrida, eu ter
passado no alto da Torre com o Rui. É o sítio mais emblemático da Grandíssima,
é o sítio onde eu e o Rui preparamos a Volta há muitos anos e no ano da
despedida dele as circunstâncias da corrida fizeram com que passássemos os dois
juntos.
DOMINGOS GONÇALVES (CG
31º)
1- Não sei, acho que melhor não tenho nada.
2- O pior foi a etapa da Serra da Estrela, porque foi dura para
mim. Foi um dia complicado e, como nós dizemos, cheguei morto no final.
3- Saio feliz com aquilo que fiz, mas esperava mais alguma coisa
de mim. Queria ter ganho alguma etapa, de resto correu bem.
4- Não tenho nenhum momento.
Domingos Gonçalves (© Helena Dias) |
PABLO GUERRERO (CG
79º)
1- Em primeiro lugar, ter a oportunidade de desfrutar desta
bonita corrida. O melhor, sem dúvida, é como se vive a Volta, o ambiente é
incrível.
2- Não encontrei nenhum ‘mas’ a esta corrida. Desfrutei
muito, tal como sofri.
3- Saio com o sentimento de ter cumprido com o objectivo que
a equipa me pediu, que era em todo o caso ajudar os líderes.
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