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Amaro Antunes de partida para a CCC Sprandi Polkowice: “De pequenos passos fazem-se grandes triunfos”

Amaro Antunes está de partida para a Polónia. Depois de uma temporada de sucesso na W52-FC Porto, o ano de 2018 marca a subida ao escalão Profissional Continental do líder absoluto do Ranking APCP Ciclista do Ano 2017. O ciclista de 26 anos falou ao jornal O Jogo sobre a sua contratação por duas temporadas pela equipa CCC Sprandi Polkowice, uma entrevista em versão alargada em exclusivo no Cycling & Thoughts.

Amaro Antunes na conquista do Troféu Joaquim Agostinho 2017 (© Helena Dias)

Este final de temporada marca uma viragem importante na tua carreira.

“De facto, é um passo importante na minha carreira e que já ambicionava há muito. Quero aproveitar ao máximo, desfrutar da nova experiência e, acima de tudo, ser profissional como tenho vindo a ser até aqui.”

Como surgiu o convite da CCC Sprandi Polkowice?

“Durante o desenrolar da época tive outros contactos, mas juntamente com o meu empresário analisámos a proposta e vimos que seria a melhor opção pelo calendário que a equipa apresenta com presenças constantes no Giro d’Italia, Volta a Catalunha e Volta ao Algarve. Ou seja, um leque de corridas equiparadas às equipas WorldTour. Creio que este é o passo correcto, porque sair de Continental directamente para WorldTour é um passo arriscado e não quis tomar esse risco. Preferi ficar no escalão Profissional Continental, para ter um ano de adaptação, e espero que seja um ano de continuidade do trabalho que tenho vindo a desenvolver ao longo dos anos.”

Este ano alcançaste importantes vitórias como a Clássica da Arrábida, o Troféu Joaquim Agostinho, etapas na Volta ao Algarve e na Volta a Portugal, onde terminaste em 2º na geral. Demonstraste o teu papel de gregário, mas também de líder. Que papel queres evidenciar a nível internacional?

“A minha escolha é por isso mesmo. Não vou esconder que tinha a opção de passar já a WorldTour [Movistar era uma das interessadas], mas derivado a essa ambição de querer ter alguma liberdade, preferi ficar no escalão inferior para perceber se serei capaz de desenvolver este papel de líder. Consoante isso, tirarei as minhas ilações no final da próxima temporada.”

Fala-se da possibilidade da W52-FC Porto passar ao escalão Profissional Continental. Se acontecesse já no próximo ano, terias permanecido na equipa?

“Sim, sem dúvida que sim. É uma equipa que reúne todas as condições de trabalho, que tem um excelente director desportivo, Nuno Ribeiro, e tem uma união de grupo bastante forte. Poder representar uma equipa portuguesa além-fronteiras é algo que para nós ciclistas portugueses nos enche de orgulho. Seria uma forma de honrar a camisola de uma equipa que muito me ensinou, que espero continue o grande trabalho que tem vindo a desenvolver e futuramente consiga dar o salto a Profissional Continental. Para o ciclismo português seria muito bem-vindo.”

O que levas deste ano passado na W52-FC Porto?

“Acima de tudo, levo muita aprendizagem a nível de tácticas, muita garra em corridas e muita determinação. É uma equipa que entra em todas as corridas com um espírito ganhador, o que faz desta a melhor equipa nacional.”

Passaste por uma experiência internacional com a equipa Ceramica Flaminia-Fondriest em 2013, que não correu bem para ti nem para os restantes três integrantes portugueses, mas não baixaram os braços e lutaram pela permanência no ciclismo. Que conselho deixas aos jovens que podem passar pelo mesmo?

“Pela experiência que assimilei dessa aventura, o primeiro passo é tentar perceber se o projecto é fiável ou não. Hoje em dia, alguns dos novos projectos prometem muitas coisas e não cumprem metade do que prometeram. Foi o meu caso. Era uma equipa que prometia muita coisa e na realidade nada cumpriu. Acho que o primeiro passo para se ir para uma coisa segura é perceber que tipo de projecto se trata, que tipo de calendário se corre e a partir daí fazer a melhor opção. O conselho que posso dar aos mais novos é de agarrarem com todas as forças a oportunidade de fazerem corridas de grande nível, aproveitar a experiência e que a sorte sempre os acompanhe, porque de pequenos passos fazem-se grandes triunfos.”

A tua qualidade na montanha tem-se demonstrado indiscutível, enquanto no contra-relógio tem vindo a diminuir. Nas camadas mais jovens obtiveste o título nacional em júnior, precisamente no mesmo ano do título na prova de fundo, e o bronze em sub-23. Esta é uma especialidade a recuperar no futuro próximo?

“Este ano e no ano anterior foi uma especialidade que não trabalhei afincadamente e quero começar agora a trabalhar. Nos últimos dois anos, fiz um trabalho bastante específico na alta montanha e creio ter conseguido chegar a um nível muito aceitável e que me dá conforto para discutir corridas. O passo seguinte passa por começar também a desenvolver um trabalho bastante forte e muito pormenorizado no contra-relógio.”

Muitas pessoas comparam a tua forma de estar na bicicleta com a de Alberto Contador. O que pensas sobre isso?

“O facto de me compararem com um monstro do ciclismo internacional é muito bom. É motivador, porque Contador é uma referência para mim. O facto de ser comparado com ele não significa que faça tudo o que ele faz, mas se conseguir fazer metade já me dou por feliz. Como se costuma dizer, o tempo o dirá. Só nas oportunidades poderei ver se consigo alcançar ou não o que ele alcançou, mas espero que a comparação seja posta no real e consiga fazer algo bonito como ele fez.”

Uma das semelhanças com o campeão espanhol passa pela aposta pessoal nas camadas mais jovens, Contador através das equipas de formação e tu com a criação das Escolas de Ciclismo Amaro Antunes. Como surgiu a ideia deste projecto?

“Este projecto é algo que ambicionava há muito tempo. Sempre disse aos meus colegas mais próximos que um dia, quando fosse profissional e conseguisse algumas vitórias de relevo, gostaria de ser também um exemplo para os mais novos e acho que uma forma de ser um pequeno exemplo para os mais novos é dar-lhes a oportunidade de fazer o mesmo que eu, que é andar de bicicleta. Agora que consegui fazer uma época bastante boa, quis aproveitar o contributo das pessoas que gostaram do que fiz e oferecer esse mesmo contributo aos mais novos criando uma Escola de Ciclismo, onde penso estarmos a conseguir reunir todas as condições para que os mais novos comecem a andar de bicicleta e a utilizar a bicicleta como meio de transporte. E estamos com muita motivação, porque já temos 15 bicicletas disponíveis para as 15 primeiras inscrições. É algo bastante positivo para os miúdos dos 9 aos 12 anos, que queiram começar a andar de bicicleta e que espero futuramente saiam dali alguns campeões, porque é nas pequenas equipas e nos pequenos grupos que se começam a dar os primeiros passos. Espero ser um pequeno exemplo para eles e que nunca se esqueçam deste pequeno gesto que fiz.”

Ciclista profissional desde 2011, Amaro Antunes integrou as equipas LA Antarte, Carmim-Prio (2012), Ceramica Flaminia-Fondriest (2013), regressando à equipa de Tavira designada Banco BIC-Carmim (2014) e novamente à LA Alumínios-Antarte (2014/2015), até chegar à W52-FC Porto (2017). No percurso de formação integrou em júnior a equipa Milharado/Intermarché (2007), Crédito Agrícola Alcobaça (2008), onde permaneceu no primeiro ano do escalão sub-23 (2009), passando no ano seguinte para a Liberty Seguros/Sta. Maria da Feira (2010). Na temporada de 2018, a pérola do pelotão nacional dará o tão desejado salto para o pelotão internacional na Pro Continental CCC Sprandi Polkowice.

Amaro Antunes (© Helena Dias)

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