Alberto Contador (Trek-Segafredo) conseguiu a tão desejada vitória
na despedida do pelotão profissional. No Alto de L’Angliru, El Pistolero apertou
o gatilho para a conquista do cume que já foi seu em 2008. Passados 9 anos, a
emoção foi maior, tal como maior foi o incendiar do público à sua passagem.
Depois de se ver arredado da luta pelo ‘maillot rojo’, Alberto
Contador fez da sua última corrida uma longa jornada diária de ataques e
contra-ataques, tudo com o objectivo de vencer uma etapa. A quinta Vuelta a
España da sua carreira ficará para a história do ciclismo como uma das mais
emocionantes de todos os tempos.
Cada dia foi pedalado com o coração, algo visível para
qualquer espectador, mesmo para quem não segue fervorosamente este desporto. Desde
a primeira etapa, todos sabiam que esta é a despedida daquele que marca diferentes
gerações. Se o início não foi favorável a Alberto Contador, o facto é que as etapas
que o distanciaram da luta pela geral aproximaram-no de uma performance épica e
daquilo a que chamamos de ciclismo romântico: abordar cada etapa sem medo de
arriscar, correr com o coração até o corpo não corresponder mais à sua vontade.
Assim fez Contador em cada etapa de montanha, tentando
chegar ao objectivo final da sua carreira: vencer de forma apoteótica uma etapa
na corrida do seu país. À 20ª etapa, a um dia do cair do pano, a glória chegou
arrancada a ferros.
O dia previa-se curto, mas penoso. Debaixo de chuva e vento
forte, partiu-se de Corvera de Asturias para uma curta jornada de 117,5 km com
final no temível Angliru, uma subida de 12,5 km a 9,8% de pendente média, mas com
rampas na parte final a chegarem aos 23,5% na passagem por Cueña les Cabres.
Uma numerosa fuga saiu em busca da glória neste dia, que
estava definitivamente destinado ao campeão espanhol. Os
fugitivos foram Julian Alaphilippe e Enric Mas (Quick-Step Floors), Nicolas
Roche (BMC), Adam Yates e Simon Yates (Orica-Scott), Nelson Oliveira e Marc
Soler (Movistar), Soren Kragh Andersen (Team Sunweb), Patrick Konrad
(Bora-Hansgrohe), Romain Bardet (AG2R-La Mondiale), Rui Costa e Jan Polanc (UAE
Team Emirates), Tomasz Marczynski (Lotto-Soudal), Tobias Ludvigsson (FDJ), Igor
Antón (Dimension Data), Lluis Mas e Jaime Rosón (Caja Rural-Seguros RGA) e
Stefan Denifl (Aqua Blue Sport).
Passadas as 1ªs categorias
do Alto de la Corbetoria (km 79,5) e Alto del Cordal (km 96,4), restava a
derradeira ascensão. Na descida antecedente, Jarlinson Pantano e Contador saíram
do grupo do líder Chris Froome (Team Sky), já restrito pelo trabalho da
Bahrain-Merida de Vicenzo Nibali, para tentar a vitória da etapa. O que se
seguiu é difícil explicar por palavras, já que as imagens foram demasiado fortes pela carga emocional do público.
Contador chegou à subida de Angliru com cerca de meio minuto
para o grupo de favoritos. A cada metro da ascensão, o público incendiava-se de
emoção à passagem do Pistolero. Um a um, foi passando os restantes homens da
fuga inicial, contando ainda com a ajuda preciosa do jovem conterrâneo Enric
Mas (Quick-Step Floors),vencedor da Volta ao Alentejo 2016 que fez alguma da sua formação na equipa Fundación
Contador e era um dos integrantes da fuga, a par de Marc Soler (Movistar Team).
A união de esforços manteve Contador na luta pela etapa, superando o último fugitivo
Tomasz Marczynski (Lotto-Soudal), já vencedor de duas etapas.
Chegado às mais duras pendentes, a superar os 20%, Contador
quase que desaparecia no meio do calor da multidão que o rodeava. A polícia
espanhola corria a seu lado numa tentativa de fazer de barreira, enquanto o
público esbracejava e gritava o seu nome. Chegou a ter uma vantagem que o
colocava no pódio da geral, mas que no final lhe valeu ficar pelo 4º lugar,
posição com que deverá fechar a 72ª edição da Vuelta a España, já que amanhã
será a etapa de consagração de Chris Froome como grande vencedor. Vicenzo
Nibali e Ilnur Zakarin (Katusha-Alpecin) também subirão ao pódio, em 2º e 3º
lugar.
Segundo consta, Alberto Contador levou 44 minutos 45 segundos
a subir o Alto de L’Angliru, para conquistar uma impressionante vitória na despedida do ciclismo profissional. Aos 34
anos, decidiu pôr um ponto final numa carreira repleta de glória e momentos únicos, como a vitória das três grandes voltas. Para uns venceu 7, para outros venceu 9 Grand Tour.
Mais do que a conquista de Giro, Tour, Vuelta e outras tantas corridas, o legado de Alberto Contador será marcado pela forma como vê o ciclismo, como ataca cada corrida, como apaixona o público, como desafia os adversários a terem de dar sempre o seu melhor e, indiscutivelmente, a sua forma inconfundível de pedalar.
Comentários
Enviar um comentário