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André Ramalho: “No próximo ano tenho capacidade de deixar o meu nome marcado entre os melhores”

André Ramalho, de 21 anos, integrou pelo terceiro ano consecutivo a casa de formação Clube de Ciclismo José Maria Nicolau. Na equipa sediada no Cartaxo, destacou-se como um dos jovens mais consistentes do pelotão sub-23 na temporada de 2017.

Numa entrevista em exclusivo ao Cycling & Thoughts, André Ramalho viaja no tempo recordando as primeiras pedaladas no ciclismo, o crescimento na equipa Jorbi-Team José Maria Nicolau, os resultados obtidos esta temporada em Portugal e Espanha, a melhoria na performance, os estudos universitários e o futuro no ciclismo.

Circuito do Bombarral (© Helena Dias)

A bicicleta chegou à vida de André Ramalho muito cedo, através do Clube de Ciclismo de Paio Pires. Mas antes, foi outro o desporto a marcar a sua jovem vida.

“Inicialmente, nem sabia o que era ciclismo. Comecei no futebol, estive lá uns meses, mas como não jogava perdi o interesse. Entretanto, tinha um vizinho que estava no Clube de Ciclismo de Paio Pires e acabei por ir com ele. Tinha uns 8 anos, acho eu. Comecei nos iniciados e fiquei até juniores. Com o passar do tempo, embora ainda fosse muito novo, passei a ver tudo de forma mais profissional.”

Terminado o escalão júnior, rumou à equipa do Clube de Ciclismo José Maria Nicolau na estreia como sub-23.

“Quando terminei o escalão de juniores e passei a sub-23, o treinador do Paio Pires José Rosa falou com o José Nicolau e ele disse-me para ir para a equipa. O primeiro ano no Cartaxo foi um pouco complicado, porque a passagem de júnior para sub-23 é um choque muito grande. No segundo ano estive melhor no final da temporada. Já este ano foi completamente diferente, senti-me mais à vontade nas corridas.”

Esse à vontade reflectiu-se na garantia de uma consistência de resultados notada nas provas exclusivas de sub-23 como também nas corridas disputadas com os profissionais das equipas continentais lusas. Contudo, o nome de André Ramalho continua a não ter o merecido destaque ao lado dos mais falados sub-23 portugueses.

“É verdade, também já tinha reparado nisso. É difícil, porque falta-me uma vitória para consolidar o meu nome como um dos melhores, mas ainda tenho tempo para alcançá-la. Penso que o ano correu bem, mesmo não sendo dos ciclistas mais falados.”

Sem vitórias na linha de meta, as subidas ao pódio não faltaram e em Espanha André Ramalho conquistou a camisola da montanha no Challenge Vuelta a Sevilla, composto por duas provas independentes: a Clásica de Santa Ana e a Clásica Celá de Triana, onde se distinguiu como melhor trepador em ambos os dias.

“Não sabia o que esperar desta prova, porque eram equipas com as quais nunca tinha corrido, apesar de já ter corrido várias vezes em Espanha. O primeiro dia foi complicado, porque víamos os ataques das outras equipas, mas nunca sabíamos bem o que esperar. Estávamos completamente às cegas, mas quando me vi na posição de poder ganhar a camisola da montanha, tentei e consegui. No segundo dia correu bem também e, por causa dos meus colegas, consegui chegar à camisola outra vez.”

Em Portugal, os resultados foram proeminentes como os lugares obtidos no Campeonato Nacional Sub-23, 6º no contra-relógio e 10º na prova de fundo.

“Dos outros anos para cá senti que consegui aproximar-me muito dos melhores. Principalmente, a diferença reduziu bastante do ano passado para cá. O ano passado perdi qualquer coisa como 2 minutos no contra-relógio e este ano perdi apenas 1 minuto. A distância era menor, mas 1 minuto por 7 km não me parece muito. A prova de fundo não correu tão bem como esperava, mas também foi um resultado bom. Penso que no próximo ano tenho capacidade para chegar àquela parte de deixar o meu nome marcado entre os melhores.”

Ainda nas provas nacionais exclusivas de sub-23, foi 5º na Volta às Terras de Santa Maria e ficou nos lugares cimeiros da Volta a Portugal do Futuro, ao terminar a prova mais importante do escalão no 11º lugar.

“Na Volta do Futuro, as equipas portuguesas e estrangeiras estiveram muito equiparadas. Talvez os portugueses até estivessem mais fortes. O primeiro dia não me correu muito bem, perdi algum tempo e depois fui melhorando ao longo dos dias. Na chegada a S. Macário [foi 14º] estivemos muito iguais, os portugueses e os estrangeiros, mas nós mostrámo-nos superiores.”

Nas competições disputadas com o pelotão profissional das equipas continentais lusas, André Ramalho terminou por dez vezes no Top 10 de melhor jovem, destacando-se o 5º lugar da juventude no exigente Troféu Joaquim Agostinho.

“É mais um daqueles casos em que senti muito a diferença do ano passado para este ano. Senti-me muito mais à vontade no pelotão e nas subidas. Logo desde o prólogo do Troféu notei que estava bem, consegui defender-me bem, e na chegada ao Montejunto [foi 26º] acho que confirmei a minha qualidade.”

O final da temporada foi o coroar de um ano de elevada progressão, distinguindo-se como melhor jovem no Circuito do Bombarral e finalizando em 10º da geral três Circuitos, dois deles com os profissionais.

“Sempre me dei bem nos Circuitos. São muito rápidos e sempre foram corridas que consegui fazer bem. Com os profissionais é um pouco mais complicado, mas consigo sentir-me bem nessas corridas e nesta altura, com eles a andar muito ou pouco, eu consigo estar lá.”

A melhoria na performance é notória e o segredo está, entre outros factores, na mudança da alimentação.

“Em grande parte são os treinos, mas este ano a alimentação teve uma grande importância. Ajudou-me a melhorar bastante. Estou a estudar e este ano tive o cuidado de levar comida de casa para a faculdade para evitar comer fritos. Ao longo dos meses, não comer esse tipo de coisas ajuda bastante.”

Para além do ciclismo, André Ramalho divide o seu tempo com os estudos universitários.

“Estou no 3º ano do Mestrado Integrado de Engenharia Mecânica, na Faculdade de Ciências e Tecnologias do Monte da Caparica. Acho que não é difícil conciliar o ciclismo com os estudos. Tem de se estar muito focado no que se está a fazer: sair da Faculdade, chegar a casa e ir logo treinar, depois é chegar a casa e ir estudar e, às vezes, no estudo perco muitas horas de sono e no dia seguinte já estou meio a dormir no tempo que podia estar a estudar. Tem que se ir gerindo e aguentando até ao final. Sou igual a qualquer outro jovem, apenas não posso sair tanto. De resto, estou em pé de igualdade.”

Sobre o futuro já tem garantida a continuidade em 2018 na equipa Jorbi-Team José Maria Nicolau, mantendo sempre em paralelo os estudos.

“No próximo ano vou dar o tudo por tudo no Clube de Ciclismo José Maria Nicolau para conseguir marcar o meu nome, para depois passar a profissional. O meu objectivo é fazer carreira no ciclismo, mas sem esquecer o curso. Queria acabar o curso, porque viver do ciclismo é algo um pouco complicado. Quando o ciclismo acaba, é bom ter um plano B.”

No seu jovem percurso, tem tido a seu lado o apoio daqueles a quem agradece.

“Agradeço à minha família e à minha equipa, ao treinador José Nicolau e ao treinador José Rosa.”

E enquanto André Ramalho consolida o seu valor no escalão sub-23, já há quem lhe siga as pedaladas na família. O irmão Francisco Ramalho, júnior no Clube de Ciclismo da Aldeia de Paio Pires.

“Ele tem futuro, embora tenha muito azar. O ano começa e ele parte um pé ou algo assim. Vem acontecendo regularmente, mas desenrasca-se bem e é completamente louco por isto.”

Melhores resultados de André Ramalho na temporada de 2017:
1º *Juventude Circuito do Bombarral
1º *Montanha Vuelta a Sevilla [Espanha]
3º *Juventude Circuito de Alcobaça
3º *Juventude Circuito de Nafarros
5º CG Volta às Terras de Santa Maria
5º *Juventude Clássica da Primavera
5º *Juventude Troféu Joaquim Agostinho
6º Campeonato Nacional CRI Sub-23
6º Et2a (CRI) Volta às Terras de Santa Maria
6º Et3 Volta a Portugal do Futuro
7º Et1 Volta às Terras de Santa Maria
7º Et4 Volta a Portugal do Futuro
7º *Juventude Volta à Bairrada
7º *Juventude Volta a Albergaria
9º CG Prémio Anadia
9º Et2 Prémio Anadia
9º *Juventude GP Mortágua
10º Campeonatos Nacionais Fundo Sub-23
10º Et2b Volta às Terras de Santa Maria
10º CG Circuito da Curia
10º CG Circuito do Bombarral
10º CG Circuito da Malveira
10º *Juventude Prova Abertura / Troféu L.Seguros
10º *Juventude Clássica Aldeias do Xisto / Troféu L.Seguros
11º CG Volta a Portugal do Futuro
Circuito da Póvoa da Galega, Mafra (© Helena Dias)

Circuito de Nafarros, Sintra (© Helena Dias)

Circuito de Nafarros, Sintra (© Helena Dias)

Circuito do Bombarral (© Helena Dias)

André Ramalho recebe prémio de Melhor Jovem no Circuito do Bombarral (© Helena Dias)

Circuito de S. Bernardo, Alcobaça (© Helena Dias)

Circuito de S. Bernardo, Alcobaça (© Helena Dias)

André Ramalho 3º da juventude no Circuito de S. Bernardo, Alcobaça (© Helena Dias)

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