Foi uma dura jornada de
1607,3 km percorridos ao longo de 12 dias entre o prólogo, dez etapas e o dia
de descanso. A 78ª Volta a Portugal Santander Totta provocou um misto de
emoções aos 143 corredores que integraram o pelotão, assim como ao público que seguiu atentamente a luta de Rui Vinhas (W52-FC Porto) e seus rivais pela conquista da camisola amarela.
Nesta Volta a Portugal,
Rui Vinhas deu asas ao sonho de muitos corredores de trabalho, os chamados gregários. Ao final da terceira
etapa, trocou as pedaladas em prol do seu líder Gustavo Veloso pelas pedaladas
em defesa da sua própria liderança da geral. Numa demonstração de qualidade
enquanto corredor, defendeu e conquistou a camisola amarela marcando
diariamente a Volta com o seu nome ao finalizar as importantes etapas da Sra.
da Graça e a rainha Torre com um 5º lugar na meta, acrescentando ainda o 4º
melhor tempo no contra-relógio final, momento basilar no qual se defendeu numa
especialidade que não é a sua e que lhe podia ter retirado das mãos a vitória
final. Numa demonstração de humildade e integridade enquanto pessoa, nunca se
mostrou sobranceiro perante Veloso e a oportunidade surgida de vestir a
amarela, salientando no final de cada jornada a qualidade ímpar daquele que
continuava a ver como seu líder.
A par da vitória da
geral com Rui Vinhas, a W52-FC Porto foi a equipa que mais se destacou como um
todo sólido, coeso e forte em todas as frentes. Levou para casa três camisolas,
a classificação por equipas e quatro vitórias em etapas. À camisola amarela
somaram a dos pontos e do kombinado com Gustavo
Veloso, vencedor de três jornadas e 2º na geral. Também Rafael Reis degustou o sabor da vitória ao triunfar no contra-relógio do prólogo, vestindo este jovem corredor a
primeira amarela desta edição. Raúl
Alarcón finalizou em 4º da geral, António
Carvalho em 12º e o vencedor da Volta de 2011 Ricardo Mestre em 13º, formando os nomes referidos juntamente com Joaquim Silva e Samuel Caldeira uma fortaleza implacável, de valores notáveis a
nível individual, na construção de mais uma vitória da equipa de Sobrado.
Entre os rivais das
equipas continentais lusas, Joni Brandão
(Efapel) destacou-se como o mais lutador na batalha pelo lugar mais alto do
pódio. Chegou à Volta com a mente focada na vitória da geral, demonstrando
dia-a-dia que o máximo objectivo era o 1º lugar e não um outro posto nos dez
primeiros. Pedalou o 2º melhor tempo no prólogo, foi 3º na Sra. da Graça e 7º
na etapa da Torre, onde apostou por uma fuga solitária de cerca de 80 km sendo coroado o mais combativo. Acabou por fechar a Volta em 5º da geral, fruto de um
menos forte contra-relógio final, no qual reflectiu o desgaste dos dias
anteriores passados em constantes ataques à liderança de Vinhas. A Efapel
destacou-se igualmente no seu todo, obtendo duas vitórias em etapas com Daniel Mestre (19º CG) e terminando em
3º por equipas, num grupo em que se assinala a entrega de cada elemento, dos mais
novos aos mais experientes: Filipe
Cardoso, Rafael Silva, Henrique Casimiro (7º CG), António Barbio, Nuno Almeida e Alvaro Trueba.
Amaro
Antunes e Alejandro Marque repartiram atenções na
LA Alumínios-Antarte. O ciclista luso obteve a sua melhor classificação de
sempre na geral, um 6º lugar depois de se destacar em 7º na Sra. da Graça, 6º
na etapa da Torre e 10º no derradeiro esforço individual. Já o ciclista galego,
vencedor da Volta de 2013, terminou em 14º da geral e foi incansável na busca
por uma vitória em etapa, que quase chegou no penúltimo dia de prova,
finalizando em 2º no sprint dividido com Daniel Mestre (Efapel) em Setúbal. Na equipa
laranja, destacou-se ainda Bruno Silva,
que tentou revalidar o título de rei da montanha ganho no ano passado,
terminando este ano em 3º nessa classificação.
O experiente Rui Sousa (Rádio Popular-Boavista) somou aos 40 anos o seu 14º Top 10 na Volta a Portugal, contando-se entre eles cinco assinaláveis pódios. Este ano, o ciclista que já garantiu a continuidade na equipa em 2017 terminou em 9º da geral, o mesmo lugar obtido na etapa da Torre e no contra-relógio final, disciplina na qual não é especialista, mas conseguiu defender-se ao ponto de subir um lugar na geral final. A equipa boavisteira viu Daniel Silva chegar ao patamar que há muito se esperava do corredor de 31 anos. Subiu ao pódio da Volta num consistente 3º lugar, fruto de boas exibições na Sra. da Graça e na etapa da Torre, sendo em ambas 2º na meta, e defendendo-se bem no contra-relógio com o 3º melhor tempo pedalado no último dia. Finalizando em 2º no colectivo, no grupo destacaram-se ainda os batalhadores pela camisola da montanha, César Fonte e Frederico Figueiredo, tendo este último fechado em 11º da geral.
Notoriamente só na
cruzada pela geral da Volta, João Benta
(Louletano-Hospital de Loulé) não conseguiu demonstrar na classificação geral o
real valor do corredor que triunfou este ano no alto de Montejunto do Troféu
Joaquim Agostinho, prova que conquistou em 2015 e este ano finalizou em 4º. Numa
Volta demasiado dura para se bater diariamente quase em solitário, Benta ocupou
na geral o 18º lugar, ficando na memória a sua persistência em manter-se com os
mais fortes nas jornadas de maior dificuldade montanhosa. A equipa de Loulé
garantiu um posto nos lugares cimeiros através do espanhol Vicente de Mateos, que finalizou em 8º da geral e venceu a quinta
etapa na chegada a Viseu, mostrando-se contudo individualista no que toca ao
trabalho no colectivo.
Depois de alcançar a vitória do Troféu Joaquim Agostinho,
Rinaldo Nocentini (Sporting
CP-Tavira) chegou à Volta com intenções de mostrar a garra leonina. O 21º lugar
na geral não conta nem faz justiça à história do experiente italiano nesta
edição. Um bom desempenho no prólogo (9º) foi desafortunadamente apagado no
asfalto aquando da queda sofrida na primeira etapa em linha. Visivelmente marcado
na perna direita e no braço esquerdo, não deixou de perseguir o objectivo de
brilhar na Volta. A força psicológica levou-o à luta pela vitória da quinta
etapa, vendo Vicente de Mateos ganhar-lhe ao sprint a linha de meta em Viseu.
Este triunfo fugiu-lhe por pouco, mas não ao companheiro Jesus Ezquerra, protagonista da fuga no famoso dia em que a corrida
esteve neutralizada. O ciclista espanhol deu à equipa verde e branca o triunfo em
Arruda dos Vinhos.
Os ciclistas das
equipas continentais lusas procuraram conquistar a camisola da montanha, mas
encontraram pela frente um colombiano ‘duro de roer’. Wilson Ramiro Diaz (Funvic-Soul Cycles-Carrefour) protagonizou o
primeiro episódio caricato da Volta, ao festejar uma vitória por engano na
primeira passagem pela meta em Braga. Desde esse momento, o corredor de 29 anos
começou a marcar com o seu nome a 78ª edição da Volta a Portugal, mas por
motivos de maior relevância ao assegurar o 1º lugar na passagem por prémios de
montanha em estreia na prova. Coroou a 2ª categoria do Salto da Pedra Sentada,
na etapa de sterrato, e a 1ª
categoria de S. Macário, na quinta jornada, defendendo com primazia a camisola
da montanha conquistada para a equipa brasileira.
Das esquadras
estrangeiras destacaram-se o italiano Francesco
Gavazzi (Androni Giocattoli-Sidermec) e o australiano William Clarke (Drapac) pelas vitórias de etapas em Fafe e Macedo
de Cavaleiros. Também o português José
Gonçalves (Caja Rural-Seguros RGA) agarrou o triunfo na sétima etapa com
chegada a Castelo Branco, terminando a equipa espanhola com o luso Ricardo Vilela em 10º da geral. Alexander Vdovin (Lokosphinx) deu
protagonismo à equipa russa conquistando a camisola da juventude, tendo como
principal adversário o 2º desta classificação, o colombiano Diego Ochoa (Boyacá Raza de Campeones), também
ele líder da camisola branca durante três dias.
No final do rescaldo da
prova rainha lusitana, há ainda a assinalar dois corredores portugueses. O
internacional Bruno Pires (Team
Roth) reviveu a Volta passados cinco anos de ausência por estar no WorldTour. A vontade de disputar esta
corrida e o respeito que nutre pelo público e organização fizeram-no combater as
duras jornadas diárias na ‘companhia’ de uma bronquiolite, que o afastou de um melhor
rendimento, mas não de terminar a Volta como tanto desejava. Já Luís Mendonça (Funvic-Soul
Cycles-Carrefour), corredor de 30 anos que durante a temporada pedalou pela
equipa de clube Sicasal-Constantinos-Udo, agarrou com valentia a oportunidade
de integrar a equipa brasileira e brilhar em três palcos, nomeadamente 7º na
chegada em Braga e 9º nas chegadas a Castelo Branco e Setúbal.
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Ver
também:
Está é a minha opinião é vale o que vale.Aqui está uma visão sobre o comportamento dos ciclistas na volta a Portugal feita de uma forma imparcial e inteligente. Aqui trabalha-se durante o ano inteiro com a finalidade de informar realçando sempre a modalidade e seus protagonistas. Seria bom que os directores das equipas tomassem em consideração este trabalho.
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