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César Fonte: “Não passa pelos meus objectivos manter o vínculo profissional que tenho actualmente”

César Fonte [10/12/1986] completou a terceira temporada ao serviço da equipa Rádio Popular-Boavista. Também pelo terceiro ano consecutivo conquistou um lugar no pódio da Taça de Portugal, tendo sempre alcançado no decorrer destes três anos vitórias nas provas pontuáveis. Em 2016, venceu a última prova do Grande Prémio Anicolor, terminando em 3º no ranking final da Taça.

Em exclusivo ao Cycling & Thoughts, o imperador do pelotão luso César Fonte falou sobre a época competitiva, o desempenho a nível individual nas provas nacionais e estrangeiras, a prestação individual e colectiva na Volta a Portugal, a vitória de Rui Vinhas, os objectivos de carreira e o fim do laço com a Rádio Popular-Boavista.

César Fonte na 4ª etapa da Volta ao Alentejo,
em Grândola (foto Helena Dias)

Conquistas pelo terceiro ano consecutivo o pódio da Taça de Portugal. Satisfeito com os resultados obtidos?

Sim, é verdade. A Taça de Portugal é uma competição que se enquadra perfeitamente nas minhas características. É necessário ser regular ao longo do ano e, normalmente, é uma competição constituída por corridas selectivas. Este ano, após a primeira corrida em Albergaria onde fiz um bom resultado e olhando à dureza da corrida, a Taça passou a ser um objectivo para mim, mas infelizmente na segunda e terceira corridas estava a correr praticamente sozinho, visto a nossa equipa estar noutra competição em França. Acabou por ser um fim-de-semana negativo para essa luta e, a partir desse momento, abdiquei da geral. Apesar de se manter presente a possibilidade de discutir a Taça, era uma luta difícil de travar. No entanto, o resultado da última corrida trouxe um desfecho positivo. No geral realizei uma boa época, mas faltaram-me as vitórias para abrilhantar o que poderia ser um excelente ano. Agora, sinceramente, terminada a época é óbvio que não estou satisfeito, queria muito mais. Acho que tenho capacidade física para fazer mais, até porque já provei isso em anos anteriores.

Em Portugal somaste um total de 18 Top 10, entre classificações gerais e discussão de etapas. Entre estes resultados destaca-se o teu desempenho no Grande Prémio JN, Volta ao Alentejo e Campeonato Nacional de Fundo, onde conseguiste mostrar a tua qualidade para discutir três das mais duras provas do nosso calendário. Como viste o teu desempenho nessas competições? Sentes que podias ter chegado à vitória de alguma delas?

Bem, nem eu próprio sabia desses dados, demonstra bem a minha regularidade ao longo do ano. No Grande Prémio JN estava muito forte física e psicologicamente, vinha de fazer 4º no GP do Dão e com o intuito de discutir o GP JN, mas não tive a pontinha de sorte. Caí na chegada a Valongo, em Santa Luzia tinha pernas, mas partiram à minha frente e não consegui fechar o corte. No último dia, numa etapa louca, falhei na chegada. Arranquei muito cedo e perdi nos últimos metros. A Volta ao Alentejo no geral correu bem. Só o primeiro dia é que me favorecia, mas falhei na colocação e não consegui discutir a etapa. Já no Nacional de Fundo cheguei vazio, não tinha pernas para fazer melhor do que acabei por fazer. É, sem dúvida, o Nacional mais duro que alguma vez realizei enquanto ciclista.

Em Espanha também obtiveste bons resultados em Amorebieta, La Rioja e Castilla y León, três corridas ganhas por equipas WorldTour e onde estiveste sempre entre os melhores. Como viveste essas três experiências?

Apesar de serem competições que já realizámos em outros anos, são sempre experiências boas. Correr com as melhores equipas do mundo é sempre uma motivação para mim. Este ano, por exemplo, nessas competições fiquei sempre nos 15 primeiros. É difícil lutar de igual para igual, mas não é impossível obter bons resultados também. É pena não termos a oportunidade de poder correr mais vezes fora do nosso país com as ditas melhores equipas do mundo. É sempre fascinante e inesquecível.

Chegado à Volta a Portugal, que avaliação fazes da prestação da Rádio Popular-Boavista no decorrer da prova? Podiam ter feito mais na luta directa com a W52-FC Porto?

Para a nossa equipa foi uma Volta bastante positiva. O Daniel [Silva] esteve muito bem, acabou no pódio e fez 2º nas duas etapas mais duras (Sra. da Graça e Guarda). Ainda acabamos em 2º por equipas. Faltou ganhar uma etapa. Na verdade, fizemos tudo o que estava ao nosso alcance, a W52-FC Porto mostrou na estrada ser a equipa mais forte, mostrou ter os ciclistas mais fortes e quando assim é só temos que aceitar e dar os parabéns ao adversário.

A nível individual, chegaste a andar na luta pela camisola da montanha. Como avalias o teu desempenho na Volta?

Foi uma Volta interessante, mas não brilhante. Dentro da equipa, alguns ciclistas tiveram alguma liberdade para lutar por etapas e pela montanha. Num certo momento estive líder e na luta pela camisola, mas o colombiano [Wilson Ramiro Diaz] que acabou por vencer demonstrou estar noutro patamar como trepador. Não fiquei desiludido por não ter segurado a camisola, fiquei sim triste por não ter conseguido entrar nas fugas nas duas últimas etapas em linha. Fui poupando forças para esses dias e estava muito bem fisicamente, mas infelizmente mais uma vez a sorte não esteve do meu lado.

Como viste a vitória de Rui Vinhas? Pensas que pode servir de inspiração para os ciclistas que se entregam à dura função de gregário?

Fiquei feliz por ele, mereceu vencer a corrida. Lembro-me que no primeiro dia o Vinhas esteve a puxar o dia todo na frente do pelotão, passado uns dias estava líder e a partir daí teve capacidade física para manter a liderança até ao fim. Realizou uma grande corrida. Para todos os gregários é sem dúvida uma inspiração para continuar a trabalhar. São situações que acontecem poucas vezes, mas ficou provado que acontecem, por isso, todos podemos sonhar.

Tu próprio, em 2014, confessaste numa das nossas entrevistas que gostarias de liderar uma equipa na discussão da geral da Volta a Portugal. Esse objectivo ficou pelo caminho ou tens perspectivas para que isso aconteça no futuro?

Os anos vão passando e esse objectivo vai-se apagando. Sou realista e sei que será muito difícil isso vir a acontecer. Contudo, existem mais corridas ao longo do ano onde me dão liberdade para liderar e na Volta tenho normalmente outro papel. Estar ao lado de um grande líder, que dá garantias de poder vencer a Volta, também é um motivo de orgulho e motivação.

Vais fazer 30 anos em Dezembro. Quais as tuas aspirações para o futuro? Podes adiantar se permaneces na Rádio Popular-Boavista?

Acredito que ainda posso realizar e alcançar coisas muito bonitas no ciclismo e tenho motivação para continuar a lutar ao longo de todo o ano, como sempre fiz desde que passei a profissional. Na verdade, o meu futuro ainda está em aberto, porque até ao momento não me comprometi com nenhuma equipa. Sou um ciclista lutador, optimista, muito ambicioso e, apesar dos 30 anos, com capacidade de me adaptar a mudanças e àquilo que me é exigido. Por tudo isto, sinto que no futuro terão que haver mudanças e não passa pelos meus objectivos manter o vínculo profissional que tenho actualmente.

Principais resultados de César Fonte em 2016:
CG GP Anicolor 5ªprova Taça de Portugal
CG Taça de Portugal Elites
Et2 GP do Dão
CG Volta a Albergaria 1ªprova Taça de Portugal
CG GP do Dão
Et1 GP do Dão
CG Circuito Ribeiro da Silva
Et2 Volta à Bairrada
Et4 GP Jornal de Notícias
Et3 GP Jornal de Notícias
CG Clássica da Primavera
CG GP Jornal de Notícias
Et1 Volta à Bairrada
CG Volta ao Alentejo
Et2 GP Liberty Seguros
Et1 Volta ao Alentejo
10º Cto. Nacional Elite de Fundo
10º CG Volta à Bairrada
11º CG Klasika Primavera Amorebieta (Espanha)
12º CG Vuelta a La Rioja (Espanha)
12º CG Vuelta a Castilla y León (Espanha)

César Fonte na 3ª etapa da Volta ao Alentejo,
na chegada chuvosa em Beja (foto Helena Dias)

Comentários

  1. Mais uma boa entrevista. Parabéns ao entrevistado. Quero também salientar que aqui trabalha-se todo o ano na divulgação da modalidade e não só dando voz através de entrevistas aos ciclistas que são os verdadeiros protagonistas.Eu agradeço este trabalho.

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  2. Abriu uma porta na caixa rural 😁😁😁😁😁.boa sorte para o teu futuro.Saudações do florestabtt.com

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