Tema bastante
recorrente, o futuro do ciclismo em perigo na Península Ibérica pelo
desaparecimento das equipas de formação. Apesar da diferente dimensão e
consequente potencial do território, Portugal tem superado este problema de
forma mais evidente do que Espanha, que viu nos últimos anos várias equipas
evaporarem-se da categoria continental, restando duas frente às seis lusitanas.
Superando expectativas nacionais e estrangeiras, no recente Campeonato do Mundo
em Ponferrada, tal como no anterior em Florença, os jovens lusos mostraram-se
nos lugares cimeiros, superando os jovens do país vizinho que tem vindo a esmorecer como uma
potência do ciclismo.
Debrucemo-nos
sobre o caso português… O país tem actualmente um sem número de escolas de
ciclismo, onde os mais novinhos desfrutam da prática da modalidade ao mesmo
tempo que começa a nascer aquele bichinho por este desporto. A idade vai
avançando e, das primeiras pedaladas dadas nessas escolas, ruma-se aos clubes
de ciclismo onde cadetes e juniores começam a sonhar com algo mais do que uma
mera tarde bem passada a pedalar, ou seja, a inevitável vontade de procurar a
vitória numa linha de meta. Estes clubes, em menor número do que as escolas,
são ainda assim em boa escala destacando-se por exemplo Alcobaça CC, Acreditar/AC Malveira, ACD Milharado, CC A. Paio Pires, CC Bairrada, CC Barcelos, CC Tavira, EC Carlos Carvalho, Mato-Cheirinhos, Seissa/ACR Roriz, Silva &
Vinha/ADRAP/Sentir Penafiel e Tensai-Santa Marta.
De escalão em
escalão chegamos aos sub-23 e o caminho percorrido por estes jovens estreita-se
consideravelmente. Aqui, a realidade é mais dura e diferente. Com o passar dos
anos, restam na estrada quatro equipas de clube: Anicolor, Clube de Ciclismo
José Maria Nicolau, Liberty Seguros/Feira/KTM e Maia-Bicicletas Andrade. Este
quarteto ajuda a dar corpo ao pelotão nacional das seis equipas continentais, pelotão
esse onde profissionais e amadores correm lado-a-lado, numa luta desigual porém
complementar. As equipas de clube agregam em si corredores maioritariamente
sub-23, incluindo alguns elites que não encontram casa no meio profissional. Cedo
a juventude ganha experiência em correr com ciclistas mais experientes,
sofrendo de início o choque de passar do pelotão júnior ao profissional, mas obtendo
anos mais tarde a recompensa de já saber como estar nesse mesmo pelotão aquando
da oportunidade de entrar no mundo das formações continentais.
Repartindo um
calendário comum, raramente os jovens em formação têm a possibilidade de
brilhar na meta diante dos profissionais, tendo a Federação Portuguesa de
Ciclismo a preocupação de premiar os escalões individualmente, atribuindo um pódio
geral e outro aos sub-23 (incluindo também este ano um pódio para os sub-20). Nesta
labuta diária de formar simultaneamente o ciclista e o homem, os directores
desportivos assumem um papel primordial na vida destes jovens e aqui Joaquim
Andrade, José Nicolau, Manuel Correia e Pedro Silva têm desempenhado o seu
papel de forma exemplar, contribuindo não só para o crescimento e aprendizagem
dos jovens ciclistas bem como para a manutenção e qualidade do pelotão
nacional. Nas suas ‘casas’ alimentam a aprendizagem, o respeito pelos
companheiros de pelotão, a dedicação para com a equipa, o querer cumprir de objectivos
e, acima de tudo, o gosto pelas duas rodas e pelo desfrutar de cada pedalada.
Na evolução de
um ciclista, o tempo não pára e a natural progressão leva-os a sonhar com a
entrada numa equipa profissional. Para além dos ciclistas já existentes em cada
esquadra e de alguns estrangeiros naturalmente incorporados nas mesmas, somando
ainda o factor de dificuldade para um jovem rumar a uma oportunidade no estrangeiro,
mostram-se escassas as vagas no actual sexteto continental composto por Banco
BIC-Carmim, Efapel-Glassdrive, LA Alumínios-Antarte, Louletano-Dunas Douradas,
OFM-Quinta da Lixa e Rádio Popular-Boavista. Esta escassez de lugares leva
Portugal a perder, ano após ano, rostos com potencial demonstrado na estrada e
não falamos apenas de destacados vencedores mas também de ciclistas de trabalho,
que enriquecem o pelotão e são essenciais a uma equipa que se quer vitoriosa.
Joaquim
Silva, Carlos Ribeiro, Gaspar Gonçalves, Nelson Silva, César Martingil, Nuno Ferreira,
David Rodrigues, David Ribeiro, Paulo Silva, Leonel Coutinho, Rúben Guerreiro,
Samuel Magalhães, Renato Avelar, André Bessa, Pedro Seabra, Luís Gomes, Nuno
Meireles, Amaro Antunes, Rafael Reis, Hélder Ferreira, Rafael Silva, André
Mourato, Daniel Freitas, Pedro Paulinho, Victor Valinho, Fábio Mansilhas, Frederico
Figueiredo, Nuno Bico e Ricardo Vale. Entre outros jovens com idade até aos 24
anos, estes nomes incorporam o pelotão nacional e reflectem no seu demonstrado talento
a importância de criar condições para dar continuidade à boa formação praticada
em Portugal, que prima por uma qualidade acima da média chegando a surpreender
olhares internacionais. E na linha de dar consistência ao futuro do ciclismo nacional,
mostra-se cada vez mais primordial não minorar a importância de uma quantitativa
e qualitativa divulgação das corridas lusas bem como da trajectória dos atletas
com vista a aumentar o interesse estrangeiro pelo ciclismo e ciclista
português.
(escrito em português de acordo com a
antiga ortografia)
Mais uma vez um trabalho feito com gosto carinho seriedade e estudo.E penso que pena andares à procura de emprego.Será que neste País não há lugar para o esforço e para o mérito? Mais uma vez parabéns.
ResponderEliminarMuito obrigada pelas palavras e pelo acompanhamento do meu trabalho! Os ciclistas merecem todo o meu empenho, nos textos tento reflectir esse aspecto e também mostrar o potencial do ciclismo português.
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