Portugal esteve perto
de conquistar para a história do ciclismo nacional mais uma etapa no Tour de
France. Rui Costa (Lampre-Merida) e Nelson Oliveira (Movistar Team) ombrearam
com os melhores ciclistas do WorldTour
pela glória de alcançar uma vitória na 103ª edição da Grande Boucle. Ambos viram o triunfo ser-lhes negado pelo holandês Tom
Dumoulin (Team Giant-Alpecin), mas não o brilho de subir ao pódio: Costa pela
combatividade na 19ª etapa, Oliveira pela vitória final por equipas.
A oitava participação
de Rui Costa no Tour ficou marcada desde cedo por um objectivo bem claro. Em consonância
com a equipa Lampre-Merida, o campeão do mundo de 2013 focou-se em tentar
ganhar uma etapa. Inicialmente e a título individual, nunca descartou a
hipótese de tentar lutar por um posto nos lugares cimeiros da geral. Contudo, o
passar dos quilómetros e das etapas ditaram o fim dessa possibilidade,
focando-se na conquista de uma etapa.
Na sua terceira
presença no Tour, Nelson Oliveira e todos os companheiros da Movistar Team
tinham igualmente uma meta bem específica, que passava por levar o líder Nairo
Quintana à conquista do maillot jaune.
No final das 21 jornadas, o colombiano não alcançou o sueño amarillo, mas terminou num assinalável 3º lugar do pódio.
A história de Rui Costa
neste Tour conta-se através dos ataques e contra-ataques com que desenhou a forma
batalhadora de abordar consecutivamente os dias, buscando oportunidades para chegar
à vitória numa linha de meta. Como escreveu no seu blogue: “Apenas posso prometer que vou deixar a minha pele na estrada para
concretizar o objectivo da equipa e orgulhar os portugueses.” Assim o fez,
etapa atrás etapa, não temendo qualquer tipo de terreno nem a mais dura das
montanhas.
O Tour não começou de
todo como Rui Costa pretendia, sofrendo logo na 2ª etapa uma queda, ‘famosa’
por ter sido sobre o espanhol Alberto Contador (Tinkoff). Embora sem consequências
visíveis para o português, estes são momentos que vão marcando e massacrando o
corpo do ciclista. Seguiu-se um dia menos positivo na 5ª jornada, a terceira
mais longa desta edição, perdendo mais de 10 minutos no final dos 216 km com
chegada a Le Lioran e vitória do belga Greg Van Avermaet (BMC). A partir desse
momento, com tempo perdido na geral, entrar em fugas tornou-se fundamental para
Rui Costa, sendo protagonista de diversas aventuras nos dias que se seguiram.
Precisamente na 9ª
etapa, de 184 km com partida em Vielha Val d’Aran, esteve muito perto de chegar
ao desejado objectivo. No final da categoria especial de Andorra Arcalis, uma
subida de 10,1 km a 2240m de altitude e 7,2% de pendente média, Rui Costa terminou
em 2º, rivalizando com Dumoulin e o polaco Rafal Majka (Tinkoff) pela vitória
na meta. O holandês foi mais forte, agarrando o triunfo sobre os dois
adversários com 38 segundos de vantagem.
Incansável rumo ao
objectivo, na etapa seguinte partiu para a fuga logo aos primeiros quilómetros,
coroando em solitário o ponto mais alto desta edição e sendo distinguido pelo
Tour por esse feito: ser o primeiro a passar em Port d’Envalira, 1ª categoria de
22,6 km a 2408m de altitude e 5,5% de pendente média. Não venceu essa 10ª
etapa, terminando em 11º na vitória do australiano Michael Matthews
(Orica-BikeExchange), mas marcou também por ser o ciclista mais rápido a escalar a dura montanha, a 28,24 km/h em comparação com o grupo do camisola
amarela a 27,69 km/h.
Com o Tour a meio, Rui
Costa geriu a condição física poupando-se nas jornadas de contra-relógio, não
desperdiçando demasiada energia nesses esforços individuais. Voltou a
sobressair entre o pelotão de perto de 200 corredores no final da 16ª etapa com
chegada a Berna, território bem seu conhecido na Suíça, onde encontrou a
felicidade de vencer por três vezes o Tour de Suisse. Impensável para muitos,
Rui Costa não temeu a impossibilidade e a 20 km da meta tentou a sua sorte,
mesmo com a velocidade furiosa do pelotão na sua roda. A audácia mostrou uma
vez mais o espírito combativo de que é feito, aguentando na frente até ser
alcançado a 4,5 km da linha final conquistada esse dia por outro espírito
indomável de nome Peter Sagan (Tinkoff), o campeão do mundo.
A vitória teimou em
fugir aos pedais de Rui Costa, mas não a subida ao pódio na 19ª etapa, após 146
km superados desde Albertville até Saint-Gervais Mont Blanc e quatro montanhas
de 1ª, 2ª e categoria especial. Em fuga desde os quilómetros iniciais, o numeroso
grupo com quem seguia na frente foi perdendo elementos à passagem pelas
dificuldades do dia. Rui Costa manteve sempre o olhar focado na linha da
vitória, batalhando por chegar isolado na frente e fugindo a qualquer perseguição
rival. Contudo, nos derradeiros quilómetros viu chegar à sua companhia a
pedalada mais forte de Romain Bardet (AG2R La Mondiale), francês que acabaria
por vencer essa jornada e terminar em 2º da geral final. Apesar de cruzar a
linha em 15º nesse dia, a forma como se bateu no asfalto valeu ao português o
prémio de mais combativo da jornada.
Restava o último dia
nos Alpes e na penúltima etapa, de 146,5 km entre Megève e Morzine, Rui Costa
entregou-se novamente à frente de corrida logo após o tiro de partida. Do grupo
em fuga acabou por sair o vencedor, o espanhol Ion Izagirre (Movistar Team), com
o ciclista português a culminar em 5º na meta o segundo dia consecutivo em fuga
nos Alpes.
Como o comentador e
vencedor de quatro Voltas a Portugal Marco Chagas bem descreveu na emissão
em directo na RTP, Rui Costa é um “caçador
solitário e não de matilha”, demonstrou-o com toda a perícia ao longo do Tour, assaltando cada oportunidade com a máxima entrega e
sagacidade. E na última
oportunidade, não deixou de estar presente na derradeira fuga em plenos
Champs-Élysées, terminando a última etapa com um sprint vitorioso do alemão André Greipel (Lotto Soudal).
Também a história de Nelson
Oliveira, apesar de divergir no objectivo, culminou em semelhante desfecho notável.
O campeão nacional de contra-relógio e vice-campeão de fundo protagonizou de maneira
inquestionável e exímia o papel de escudeiro de Nairo Quintana. Em todas as
jornadas foi bem visível a sua presença junto ao colombiano, na protecção ao
seu líder rumo ao sueño amarillo.
Para além desse papel
de extrema relevância numa equipa que procura a conquista da camisola amarela, Nelson
Oliveira esteve muito perto de vencer a etapa da sua especialidade, o
contra-relógio individual de 37,5 km entre Bourg-Saint-Andeol e Le Caverne de
Pont d’Arc, disputado na 13ª etapa. Por muito tempo foi o melhor corredor do
dia, terminando em 3º lugar sendo superado por 1m31s pelo vencedor Dumoulin e pelo
2º lugar ocupado pelo britânico Christopher Froome (Team Sky), imperiosamente
superior em todo o Tour e vencedor do maillot
jaune.
Quintana terminou o seu
terceiro Tour pela terceira vez no pódio e Nelson Oliveira teve mais de uma
palavra a dizer nesse desenlace, tal como na vitória da Movistar por equipas.
Os dois representantes
portugueses da 103ª edição do Tour de France dignificaram o país numa das mais
importantes provas do ciclismo mundial, terminando na geral em 49º Rui Costa e 80º
Nelson Oliveira.
CG Final Tour
de France 2016
1º Christopher Froome (GBr) Team Sky 86:21:40
2º Romain Bardet (Fra) AG2R La Mondiale +4:05”
3º Nairo Quintana (Col)
Movistar Team +4:21”
4º Adam Yates (GBr)
Orica-BikeExchange +4:42”
5º Richie Porte (Aus)
BMC +5:17”
6º Alejandro Valverde
(Esp) Movistar Team +6:16”
7º Joaquim Rodríguez
(Esp) Team Katusha +6:58”
8º Louis Meintjes (Rsa)
Lampre-Merida +6:58”
9º Daniel Martin (Irl)
Etixx-Quick Step +7:04”
10º Roman Kreuziger (Cze) Tinkoff +7:11”
49º Rui Costa (Por)
Lampre-Merida +2:11:42”
80º Nelson Oliveira (Por)
Movistar Team +3:04:53”
Pontos: Peter Sagan (Svk) Tinkoff
Super
Combativo: Peter
Sagan Sagan (Svk) Tinkoff
Montanha:
Rafal Majka (Pol)
Tinkoff
Juventude:
Adam Yates (GBr)
Orica-BikeExchange
Equipa:
Movistar Team (Esp)
Excelente visão do comportamento dos nossos ciclistas no Tour de France. Realço o trabalho aqui feito de forma imparcial mas evidenciando sempre o real valor dos nossos ciclistas. Parabéns mais uma vez e continuação de bom trabalho.
ResponderEliminar