A experiência e
qualidade enquanto corredor revelam-se nos resultados obtidos esta temporada.
Entre classificações gerais e lugares em etapas, Hugo Sabido reúne onze Top 10
em provas nacionais, destacando-se o 5º lugar na geral da Volta a Albergaria [1ª
prova da Taça de Portugal], 5º no Grande Prémio do Dão, 6º na Volta à Bairrada,
8º no Campeonato Nacional de Contra-relógio e 9º no Grande Prémio Jornal de Notícias. Entre os lugares cimeiros alcançados em etapas, assinala-se o 2º lugar
no contra-relógio do Grande Prémio do Dão, apenas superado em 20s por Rafael
Reis (W52-FC Porto).
À partida para a 39ª
edição do recente Troféu Joaquim Agostinho, Hugo Sabido acedeu prontamente a falar
com o Cycling & Thoughts sobre a temporada, a indefinição vivida no final
do ano transacto relativamente à continuidade da carreira, passando pela
incontornável Volta a Portugal.
Dono de uma grande
serenidade nas palavras ao longo da entrevista, Hugo Sabido começou por fazer
um balanço positivo das competições disputadas até ao momento. “Até agora tem sido uma temporada positiva.
Pessoalmente, tenho mantido uma constância durante toda a época, em todas as
competições desde que iniciei na Volta ao Alentejo. Comecei mais tarde do que
os meus colegas, porque também comecei mais tarde a preparação de inverno pela
indefinição da equipa e de continuar a correr. As coisas resolveram-se, retomei
as minhas pedaladas já quase no final do mês de Novembro e, para não estar a
precipitar a preparação de inverno, optei em conjunto com o director Vidal
Fitas começar só na Volta ao Alentejo. Creio que foi uma aposta ganha. Pelo menos,
tenho mantido sempre uma mesma constância nas corridas em que tenho
participado, tanto em prol da equipa como no Grande Prémio do Dão, onde
alcancei o 5º lugar na geral. Foi o melhor posicionamento até agora.”
Sobre a forma como se
convive com a referida indefinição de não se saber se terá lugar numa equipa no
ano seguinte, Hugo é peremptório na resposta. “Mal. Somos mais maduros e não temos muito a perder pelo facto de
deixarmos de correr nesta idade, após os 34/35 anos, no meu caso 36. No entanto,
o gosto, uma vida passada em cima da bicicleta, a completa noção de que existe
vontade, características e qualidades… ficar sem correr de um momento para o
outro é realmente duro, mas para isso serve a família, os amigos, também os fãs
e são eles que me fazem seguir em frente e continuar a lutar.”
Dessa luta resultou a
contratação pela equipa verde e branca, num ano marcado pelo regresso do clube de
futebol Sporting ao ciclismo. Revela com entusiasmo: “Foi a salvação. Não só para mim como para o Tavira. É público que o
Tavira veio para a estrada pela junção com o Sporting Clube de Portugal. Para
mim, foi uma honra enorme quando recebi o telefonema do Vidal Fitas a
convidar-me para fazer parte do plantel, o qual aceitei de imediato, quando já
tinha outra opção de escolha. Do nada, surgiram duas equipas e optei pelo
Sporting-Tavira. Estou extremamente grato e muito satisfeito.”
Como é bem conhecido do
público em geral, a Volta a Portugal é o grande objectivo das equipas lusas e
para a esquadra de Hugo Sabido não é diferente. Este ano enfrentam a rainha das
provas nacionais com um novo líder, Rinaldo Nocentini, que acaba de vencer o Troféu Joaquim Agostinho, antessala da Volta, onde Hugo Sabido e os companheiros
viveram os dois últimos dias em intensa defesa da camisola amarela.
Hugo Sabido no comando do pelotão em defesa da amarela de Nocentini no Troféu Joaquim Agostinho (foto Helena Dias) |
Para Hugo, os
objectivos para a Volta a Portugal são muito concretos. “O
objectivo inicial e principal para a Volta é a defesa do nosso líder Rinaldo Nocentini, que é
o nosso homem para a geral. A equipa vai tentar estar em bloco para o ajudar e
apoiar nos momentos mais difíceis. Em segundo lugar, espero que a sorte nos
acompanhe em relação a lesões. Pessoalmente, ao longo da minha carreira, quando
estou bem fisicamente acontece sempre alguma coisa e este ano aquilo que peço é
mesmo que a sorte esteja do nosso lado e não haja infortúnios.”
Nos últimos anos, temos
visto diversos corredores estrangeiros chegarem à Volta a Portugal e debaterem-se
com o difícil terreno que a dureza da Volta oferece ao pelotão. Para Hugo, esse
é um factor que não surpreenderá o italiano Nocentini.
“Normalmente
isso acontece quando as equipas vêm só para a Volta a Portugal. Os estrangeiros
vêm e ficam um pouco surpreendidos, porque têm um calendário internacional mais
sobrecarregado e quando cá chegam a Volta a Portugal é uma corrida peculiar,
tem a característica de ter o calor e o terreno sempre acidentado. Nós não
temos etapas planas como na Volta a França, Espanha ou Itália. Existe sempre
alguma emboscada a esperar os ciclistas e creio que isso faz a diferença quando
uma equipa chega com muitos dias de competição e apanha essas dificuldades. A
moral vai-se um pouco abaixo e a moral influencia muito a parte psicológica no
rendimento físico. O Rinaldo Nocentini iniciou a época e realizou competições
no nosso país, creio que não vai ter essa dificuldade. Aliás, já está
totalmente adaptado tanto à equipa como ao terreno do país.” Assim o demonstrou vencendo dias após
esta entrevista a geral do Troféu Joaquim Agostinho.
Questionado sobre a
possibilidade de alcançar um triunfo pessoal na Volta, em particular nas etapas
de contra-relógio em que se tem destacado na sua carreira, Hugo refere: “Pelo pedido do director desportivo, vou
tentar estar bem no prólogo para discutir os primeiros lugares da
classificação. Já o contra-relógio final é uma etapa diferente, porque
apresenta todo o desgaste da Volta a Portugal. Alguns de nós vão chegar bem
psicologicamente, porque a Volta correu bem e, tal como eu disse anteriormente,
a parte psicológica é fundamental para a parte física e chegando forte
mentalmente creio que se poderá fazer um bom contra-relógio no final. Se se chegar
debilitado psicologicamente, o resultado poderá não ser tão bom. Por isso vemos
nos contra-relógios finais que quem está a discutir a geral normalmente anda
bem, porque está melhor fisicamente mas também porque a parte psicológica está
no topo e sentem-se fortes animicamente. Esses ciclistas, que não são
especialistas, fazem uns bons contra-relógios no final.”
O ano passado foi 10º no
esforço individual do prólogo de 6 km em Viseu, ficando a 20s da vitória obtida
pelo belga Gaeten Bille (Verandas Willems). Em 2011 alcançou a sua única
vitória na Volta, no final dos 2,2 km do prólogo em Fafe com direito a vestir a desejada camisola amarela. Este ano, a Volta inaugura a 78ª edição em Oliveira de Azeméis com um curto contra-relógio de 3,6 km, no
qual poderá brilhar.
No fecho da entrevista,
confessou o que lhe dá força para continuar no ciclismo e sair todos os dias a
treinar ao fim de longos anos na estrada. “O gosto e
creio que é muito importante a gestão da carreira. O que me faz sair [para
treinar] é continuar a gostar de pedalar,
acreditar que consigo obter bons resultados e que sou útil à equipa e aos
jovens valores que o nosso ciclismo tem”, concluiu Hugo Sabido.
Hugo Sabido no alto de Montejunto, Troféu Joaquim Agostinho (foto Helena Dias) |
Detalhe da bicicleta de Hugo Sabido (foto Helena Dias) |
Belíssimas entrevistas. Parabéns.
ResponderEliminarotima entrevista , agora seria bom ter uma com o Nocentini se for possivel. Força Helena!!!
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