A campeã e rainha do ciclismo português, Isabel Caetano,
despede-se da equipa francesa CSM Epinay Sur Seine, onde pedalou nos últimos
anos, com um sentimento de gratidão: «Foram os
melhores quatro anos da minha vida no ciclismo».
Como refere na sua página oficial do Facebook, «Tudo o que
começa termina na vida! A minha aventura em França terminou. Desde Junho do ano
passado que avisei o director das femininas que era o último ano na equipa
Epinay Sur Seine, independentemente se a equipa também terminava ou seguia».
(Foto Facebook Isabel Caetano) |
Aos 34 anos, Isabel Caetano é a ciclista portuguesa mais
medalhada de sempre, um nome reconhecido além-fronteiras pela sua forma de
estar e viver o ciclismo. Entrega-se a todas as vertentes da modalidade com o
mesmo empenho e dedicação, recebendo em troca o respeito e afecto dos fãs das
duas rodas para quem as infindáveis medalhas, entre elas 19 de Ouro, são o
reflexo do seu puro talento. Estrada (linha e contra-relógio), Ciclocrosse, Pista
e XCO… em todos os palcos foi campeã, derrubou metas, conquistou pódios, enalteceu o ciclismo feminino.
Começou a olhar com seriedade para o ciclismo aos 15 anos e logo
no ano seguinte a competir na equipa Núcleo Sportinguista de Leiria (1996/97). Apaixonou-se
definitivamente pela modalidade e nunca mais se afastou dos pedais. Em 1998,
ingressou no Club Ciclista Spol e somente em 2010 saiu da equipa espanhola para
rumar a França, onde iria mudar definitivamente a sua carreira.
«Tudo começou depois de uma conversa com Duarte Pereira, em que lhe
contei o meu sonho de correr no estrangeiro ao lado das melhores do mundo. E
assim foi. Em 2010, ele formou a equipa feminina em Epinay Sur Seine e hoje
posso dizer que se não tivesse esta oportunidade não saberia o que é o ciclismo
de estrada ao mais alto nível. Entre as portuguesas já tinha experiência,
porque corria muito com os juniores, mas aprendi muito mais desde a colocação
no pelotão de 160 corredoras, ‘bordures’, encostar à borda, vir buscar água e até
o sofrer aquele bocadinho para não descolar porque o pelotão vai parar ali mais
à frente!».
Foto by Eduardo Pereira |
Ao longo destes anos, Isabel Caetano viveu momentos bons e menos
bons, criando laços que jamais esquecerá: «Tive uma amiga com quem partilhei tudo
e que fica para o resto da vida, Angela Chevarria Fernandes. Todas essas
aventuras comigo, desde dormir juntas, comer do mesmo prato, viajar mais de 100
vezes de avião, dormir no aeroporto ‘só nós sabemos’, etc. Mas também é uma
vida muito, muito difícil, mas eu aguentei desde o início até ao fim do projecto
e fui a primeira a começar e a última a abandonar o projecto no dia de ontem [26
de Janeiro]. A minha vida durante quatro anos foi trabalho, treinar, viagens de
avião e carro, o que é muito desgastante. O restante do tempo dediquei-o principalmente à minha mãe. Não critico, porque foi o que escolhi, mas é muito
cansativo».
Ao virar mais esta página na sua história de vida ciclista,
sente-se «completa, mas acho que ao investimento pessoal, físico e mental que
fiz mais a experiência que tenho poderia ter havido mais reconhecimento e
investimento por parte da UVF-FPC, algo que já não critico mais, apenas espero
que tenha aberto portas às jovens portuguesas!».
Na memória ficam episódios marcantes de uma carreira repleta
de sucessos: «num prémio em Champagne, que fiz 11º num crono e à minha frente
ficaram apenas corredoras profissionais, o director Patrick Van Heghe deu-me os parabéns e disse,
"Isabel, fizeste um excelente contra-relógio ao lado de corredoras que só
fazem bicicleta". Nunca mais vou esquecer essas palavras».
Mais do que as medalhas e troféus, Isabel Caetano guarda como
um dos maiores prémios «ganhar muitos amigos na Associação de Portugueses em
Paris, no Luso Jornal na Bélgica, Julie Cotteels e o carinho do
Presidente Fernando Guerreiro, que na corrida
organizada pelo clube em honra do falecido Bruno Guerreiro me dizia “Isabel és
completa e uma guerreira” e eu nunca consegui dedicar-lhe uma vitória».
Na hora de agradecer, diz «Obrigada a todos, aos que me
escrevem palavras de encorajamento, que sou a melhor e por vezes não é bem
assim, mais uma vez obrigada. Neste projecto e sonho concretizado agradeço
muita à minha mãe, que é a minha fonte de força, e ao meu marido J. Dias, que
fez a atleta que sou, acredita em mim e sabe das minhas capacidades, por isso
exige tanto e sabe exigir, não querendo que desista e inclusive quer que
continue a dar ‘cartas’. A todos um bem-haja e mais tarde vou dar notícias
sobre o meu futuro. ‘Bisou, au revoir France’!».
(Foto Facebook Isabel Caetano) |
(escrito em português de acordo com a antiga ortografia)
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