Paris-Roubaix
é tudo ou nada, ou se ama ou se odeia. Mathew Hayman (Orica-GreenEdge),
australiano prestes a completar 38 anos no dia 20 de Abril, tem desde sempre a
rainha das clássicas no seu coração. Na sua 15ª participação, aconteceu o que
parecia impossível alcançar na sua longa carreira. Venceu Paris-Roubaix, contra
todas as expectativas, batendo na linha nada mais do que Tom Boonen
(Etixx-Quick Step), belga que já venceu por quatro vezes o “Inferno do Norte”.
Uma
brutalidade de 257,5 km e 27 sectores do mais duro empedrado que existe e em
que a sorte tem de estar do teu lado, onde entre furos e quedas os ciclistas se
tornam autênticos heróis. É dura até ao extremo e excitante da primeira à
última pedra. Chega a ser cruel para quem a desafia, tornando-se num doce
triunfo para quem simplesmente a termina. Cada sector de pavé é uma descoberta de até onde a força física e mental pode
chegar. Paris-Roubaix é assim e o coração bate forte pelos ciclistas que
enfrentam este agridoce inferno.
Longe estava Hayman
de imaginar que este dia teria um final com sabor a vitória, para mais tendo fraturado
o braço direito há cinco semana atrás. Antes do tiro de partida, dava conselhos
em meio-tom de brincadeira ao companheiro Luka Mezgec, este prestes a cumprir a
sua primeira participação na clássica francesa, expectante e dividido entre
opiniões de quem achava a corrida horrível e quem a via como sendo maravilhosa.
Hayman destacou o melhor conselho que alguma vez recebeu, de Mark Walters: “Always
keep riding” [nunca deixes de pedalar]… foi o que ele fez, não parando mesmo
quando todas as probabilidades pareciam recair em mais um triunfo de Boonen,
detentor de 109 vitórias profissionais, quatro delas em Roubaix.
Mas todas as
probabilidades caem por terra quando não se deixa de acreditar no sonho de
vencer no Velódromo de Roubaix, por mais que tenham de passar 15 anos. Mathew Hayman
fez parte de uma fuga e levou consigo desde Compiègne até Roubaix a eterna vontade de vencer esta corrida, que desde cedo o enamorou. Os
últimos quilómetros foram de uma loucura expectante. Tudo parecia perdido quando
Boonen conseguiu uma curta vantagem, mas a 2 km do fim Hayman contra-atacou e
chegou ao impiedoso belga, deixando-o para trás, mas não por muito tempo. Os
dois novamente juntos entraram no Velódromo para a decisão final. À dupla
chegou ainda o belga Sep Vanmarcke (LottoNL-Jumbo) e o britânico Ian Stannard (Team
Sky) e um pouco mais atrás o norueguês Boasson Hagen (Dimension Data).
O toque da sineta
soou na pista de Roubaix… uma volta e o tudo ou nada seria decidido ao sprint.
No carro da Orica-GreenEdge vivia-se uma mistura de sentimentos, os adversários são
fortes, mas tudo é possível, pois uma corrida de ciclismo só acaba quando se
cruza o risco e todas as probabilidades estão em aberto até esse preciso instante.
Os últimos metros são apagados pelas rodas de Boonen e Hayman, que lado-a-lado
cruzam o risco e… yeahhhh, que vitória Hayman! Abre os braços, é dele, é dele
Paris-Roubaix!
“Isto não acontece, isto não acontece…”, solta Hayman sem ter ainda noção do
que acaba de conquistar. “És uma lenda!”,
responde-lhe Luke Durbridge. E Boonen remata: “Mereceste-o!”
No epílogo deste
inolvidável dia, Mathew Hayman beija a pedra mais desejada de um dos cinco
monumentos do ciclismo. “Para ser
honesto, ainda não absorvi bem a ideia. Hoje as coisas correram bem, a minha
carreira tem sido de altos e baixos, mas isto é muito especial. Penso que toda
a gente que sempre esteve comigo na equipa, e pessoas de outras equipas, sabiam
o quanto gostava desta corrida. Hoje alguma coisa fez clique. Sempre mostrei uma
grande paixão pelas clássicas, mas nunca mostrei grandes resultados, por isso
acho que isto é um resultado. Talvez uma das grandes coisas foi ir sem o stress
que colocava em mim mesmo. Estava bastante relaxado, parece que fluímos e
acabamos por entrar naquele espaço que todos falam. Ficou bonito na televisão,
mas eu não fazia ideia do que estava a fazer…”
Quanto a Mezgec,
descreveu a sua primeira participação como “Dura,
longa, com muita má sorte, mas quando ouvi ‘Mathew Hayman ganhou’… eu ganhei energia
extra e é surreal! O meu primeiro Roubaix e a equipa ganha, é de loucos!”
Assim é
Paris-Roubaix, uma doce loucura. Este vídeo espelha toda a emoção que Paris-Roubaix provoca em quem a vive.
Depois de ler mais uma crónica fica o meu simples comentário numa só palavra. MAGNIFICO.
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