Na vida de
ciclista profissional, tudo sucedeu cedo e acertadamente para o jovem de 21
anos Nuno Bico, vigente campeão nacional sub-23. Subiu a profissional aos 18 anos,
através da Rádio Popular-Boavista, onde permaneceu de 2013 a 2015. Na presente
temporada deu o salto internacional para a Klein Constantia, equipa continental
sediada na República Checa, satélite da World
Tour Etixx-Quick Step, que neste início de ano conta com quatro vitórias
UCI, três delas alcançadas na lusitana Volta ao Alentejo (2.2).
Ao contrário
do que sucede com alguns jovens, a prematura entrada no mundo profissional do
ciclismo correu bem, crescendo e amadurecendo pessoal e desportivamente nos três
anos vividos no seio da Rádio Popular-Boavista. Foi exactamente com a equipa
boavisteira que alcançou a vitória no Nacional de Fundo em 2015, depois de
encetar uma fuga que se converteu num movimento de maestria ao agarrar a medalha
de ouro com cerca de 7 minutos sobre os adversários. Nuno Bico confessa-nos: “Estou muito grato ao Professor José Santos
e ao Luís Machado pela oportunidade que me foi dada, sem esquecer todos os
colegas pelos bons momentos e lições de ciclismo. Já por várias vezes me
encontrei a ponderar nos prós e contras de ter subido de imediato ao
profissionalismo, acabando sempre por considerar que foi uma experiência
positiva. Dolorosa, muito dolorosa, sobretudo na Volta às Astúrias e na minha
primeira Volta [Volta a Portugal],
mas positiva. Aliás, acho que, se o sofrimento não fizesse parte, não estaríamos
a falar de ciclismo. Foi o meu primeiro ano na modalidade, visto que no segundo
ano de júnior apenas corri quatro ou cinco provas de estrada. Visto desse ponto,
não me safei nada mal em 2013.”
O ano de 2016
trouxe uma realidade completamente nova para o jovem corredor. Nuno Bico entrou
no mundo da Klein Constantia, onde se sente em casa e dá valor às naturais
diferenças na forma de trabalhar comparativamente às equipas nacionais. “Acho que a união de grupo é comum, seja em
que equipa for. Haverá sempre um ou outro com que simpatizamos mais, mas tanto
no Boavista como na Klein Constantia sinto-me em família. A adaptação foi muito
fácil, pois a língua não constitui uma barreira para mim e como estamos todos na
mesma condição, longe de casa e noutro país, o entendimento e a compreensão são
naturais. Em termos de forma de trabalho, estamos a falar já de um patamar mais
exigente, visto que aproveita tecnologias, experiência e conhecimentos do World
Tour. Tivemos três estágios de duas semanas no sul de Espanha, entre Dezembro e
Fevereiro, onde com antecedência nos foi apresentado individualmente o
calendário e em todos eles tivemos de nos submeter a provas de esforço, medição
de gordura para controlar o empenho e o profissionalismo de cada ciclista com
base na evolução dos valores. Os nossos treinos diários também são partilhados
com o treinador e directores, na plataforma Training Peaks, para que possam
saber que fazemos o ‘trabalho de casa’ certinho, sem reduções e exageros.
Enfim, um conjunto de pequenas coisas, que todas somadas darão os seus frutos.”
Esses frutos
já começaram a ser colhidos, nomeadamente em Portugal. Nuno Bico deu a pedalada
de saída da temporada no GP Liberty Seguros (2.2), onde alcançou um 44º lugar na
geral e 14º na juventude. Seguiu-se a Volta ao Alentejo (2.2), na qual foi 7º
da geral e 3º da juventude, prova ganha pelo companheiro de equipa Enric Mas e onde
alcançaram ainda duas vitórias em etapas com Mas e Remi Cavagna. Para Nuno
Bico, “Foi muito bom regressar à
competição, sobretudo com os resultados que obtivemos e logo a correr em casa. Preparei-me
bem durante o Inverno e sabia estar em boa forma, mas a primeira corrida é
sempre uma incógnita. Infelizmente, tive uma queda na primeira etapa do GP
Liberty Seguros, que me fez perder muito tempo, mas sem graves consequências.
Enfrentámos a Volta ao Alentejo com alguma pressão, pois tanto no fim-de-semana
como na 1ª etapa fizemos bons resultados, mas escapava-nos a vitória, que
felizmente chegou logo no segundo dia! Lutámos muito por estar na frente na
aproximação a Montemor e o Enric culminou todo o trabalho com uma subida
fantástica. O colectivo estava forte e unido e soubemos aproveitar as nossas
oportunidades. Depois de perdermos a liderança, estudámos bem o percurso da última
tirada e delineámos um plano, que passava por inserir um dos nossos na fuga
para que apenas a última das metas volantes, que era em subida, fosse disputada
pelo pelotão. Aí, primeiro e segundo da geral voltaram a estar em igualdade de
tempo, mas o nosso, com mais pontos, era o virtual camisola amarela. Tínhamos
ainda que garantir que chegariam três homens fugidos no final para ‘roubar’ as
bonificações da chegada e, surpreendentemente, dois deles eram ciclistas da
Klein. Foi a jogada perfeita, quase como acertar na chave do Euromilhões, um
dia que não esqueceremos tão cedo!”
Os bons resultados
obtidos nesta competição levaram-no a finalizar o mês de Março na 11ª posição
do Ranking APCP Ciclista do Ano 2016, sendo o melhor sub-23 da tabela nacional.
Um começo de temporada prometedor para Nuno Bico, que revela: “Sinceramente, espero muito desta temporada.
Aliás, tenho que esperar, pois é a minha última época no escalão de sub-23 e,
se pretendo atingir um patamar mais elevado, os resultados terão que falar por
si. Estou naquela que considero a melhor equipa de formação do mundo e, como
tal, além de expectativas próprias, tenho responsabilidades acrescidas. O
começo foi extraordinário, agora temos de dar continuidade ao trabalho e nunca
baixar os braços.”
Nuno Bico tem
já programado as próximas competições: “Giro
del Belvedere e GP Palio del Recioto são as que se seguem. Depois Circuit des Ardennes, Liège-Bastogne-Liège U23,
Rhône-Alpes Isère Tour, Tour de Savoie…” Serão então em Itália, França e
Bélgica as próximas pedaladas do jovem talento luso da Klein Constantia.
Nuno Bico envergou o dorsal 161 na Volta ao Alentejo 2016 (foto Helena Dias) |
Um bom rapaz e um ciclista que irá dar que falar e levar bem, alto o nome de Portugal e já agora, de Viseu
ResponderEliminarExcelente entrevista.
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