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Grandíssima, a inocência perdida

A um mês da 76ª edição, a Volta a Portugal Liberty Seguros desvenda o percurso e as equipas que irão disputar a desejada camisola amarela. A mais importante prova do calendário português já viveu tempos gloriosos, quando o pelotão percorria em três semanas o país de norte a sul, as estradas enchiam-se de admiradores para ver passar os seus heróis e estes mesmos heróis eram olhados com reverência aquém e além-fronteiras.

Passadas as Bodas de Diamante, na actualidade a Volta vive-se no norte e centro do país em dez etapas antecedidas por um prólogo. Completam o pelotão as seis equipas continentais lusitanas, a Selecção Nacional de jovens talentos e nove equipas estrangeiras de maior ou menor dimensão (uma continental profissional e oito continentais). O seu director Joaquim Gomes, que já saboreou a glória de conquistar a prova nos seus tempos de ciclista profissional (1989/93), tenta manter a chama da Volta bem ateada, enquanto um ou outro caso de comportamento menos correcto vem extinguindo este brilho tão difícil de manter.

Sim, a inocência de outros tempos perdeu-se, muito por culpa (se se pode usar esta palavra) das circunstâncias de um país pequeno na sua dimensão geográfica, repleto de dificuldades económicas crescentes e más gerências a nível não só ciclístico, que levam à escassez de equipas e à necessidade de obter resultados para garantir um lugar no pelotão. Esta necessidade leva, de quando em vez, a fazer uso de meios que (acreditamos) não justificam os fins, pois num desporto que se quer exemplar para as camadas mais jovens há que aceitar e preferir um herói que perde na estrada do que aquele que perderá, mais tarde, na secretaria o que tantos vibraram ver conquistar. E, assim, a chama da Grandíssima vai, inevitavelmente, extinguindo-se aos olhos internacionais.

Não é por acaso que várias empresas de renome se afastaram do ciclismo ao longo das últimas décadas. Não é por acaso que as estradas foram perdendo as marés de público que inundavam Portugal de lés-a-lés.

Contudo, há algo que permanece intacto… A Volta a Portugal continua a provocar aquele nervoso miudinho quando se aproxima o seu início. Continua a apaixonar muitos dos fãs lusos em ondas não tão grandiosas, mas que ainda fazem estremecer o asfalto no Alto da Torre ou na Sra. da Graça, quando o pelotão sofre nas suas míticas ascensões. Continua a acender a saudável rivalidade entre as equipas lusitanas, que sonham o ano inteiro pela conquista da Volta. Continua a fazer o sangue fervilhar nos mais novos ou mais experientes do pelotão nacional e também em muitos corredores internacionais. Continua a chamar algumas marcas para o seu patrocínio, umas novas, outras que nunca deixaram de apoiar o ciclismo como a Liberty Seguros, vendo neste desporto um meio totalmente viável de se promover e ter ganhos acima dos gastos em publicidade. À margem da realidade nacional, nunca é demais evidenciar as recentes palavras de Oleg Tinkov, dono da Tinkoff-Saxo, ao Velonews: “O ciclismo ainda é um desporto muito barato para patrocinar. Tenho imensa exposição por muito pouco dinheiro”.

A realidade não tem sido generosa com a Volta, mas ela sobrevive e mantém acesa a chama da sua grandiosidade. A inocência pode-se ter perdido, mas o magnetismo e a paixão com que se vive cada quilómetro… esses a Grandíssima não perdeu. Os olhos dos fãs continuam a encher-se do brilho das lágrimas aquando de uma imponente escalada, um frenético sprint ou a derradeira subida ao pódio.

Quem aprendeu a gostar deste desporto assistindo à Volta a Portugal pela televisão, jamais perderá o encanto no olhar ao ver os seus heróis pedalar o país e um deles tornar-se no grande conquistador de uma das mais belas e duras provas de ciclismo. Em 2014, o pelotão de 16 equipas irá pedalar 1613,4 km partindo do belo Minho, mais precisamente Fafe, até ao derradeiro cruzar de linha na capital Lisboeta.


ETAPAS
30/Jul – Prólogo 6,8 km CRI Fafe
31/Jul – Et.1 183,5 km Lousada / Maia
01/Ago – Et.2 171,8 km Gondomar / Braga
02/Ago – Et.3 180,0 km Viana do Castelo / Montalegre (estreia)
03/Ago – Et.4 192,5 km Boticas (estreia) / Mondim de Basto
04/Ago – Et.5 161,3 km Alvarenga (estreia) / Santo Tirso
05/Ago – Et.6 155,0 km Oliveira do Bairro / Viseu
06/Ago – Descanso
07/Ago – Et.7 172,5 km Belmonte / Torre
08/Ago – Et.8 194,0 km Sabugal / Castelo Branco
09/Ago – Et.9 28,9 km CRI Oleiros (estreia) / Sertã
10/Ago – Et.10 167,1 km Burinhosa (estreia) / Lisboa

EQUIPAS
Banco BIC-Carmim (Por)
Efapel-Glassdrive (Por)
LA Alumínios-Antarte (Por)
Louletano-Dunas Douradas (Por)
OFM-Quinta da Lixa (Por)
Rádio Popular- Boavista (Por)
Selecção Portuguesa (Por)
Caja Rural- Seguros RGA (Esp)
Burgos-BH (Esp)
BDC Marcpol (Pol)
4-72 Colombia (Col)
Lokosphinx (Rus)
SkyDive Dubai (UAE)
Team Ecuador (Ecu)
Team Stuttgard (Ger)
Team Ukyo (Jap)


Patrocinadores Oficiais 76ª Volta a Portugal: Liberty Seguros, Banco BIC, RTP, edp, Delta Cafés, KIA, Raposeira, Festina, Vitalis, Arko, Fundação INATEL, Glassdrive, Atlantic Service, Cachaça 51, Atum General, Hippos, KTM Bikes, Shimano, Ach Brito, PACTO, Jornal A BOLA, Antena1, CISION, JCDecaux, Ciclismo a Fundo, Estanhos D.António, Humadecoração, WCM, FERBAR, Cartosis, KontraProduções, Dietsport, Pastelaria Chafariz, Pousadas de Portugal, Gráfica Simões e Gaspar, BDR, Festival Bike, Instituto Geográfico do Exercito, Estradas de Portugal, Maia Cidade Europeia do Desporto e Portugal Sou Eu.

Foto: PODIUM / Volta a Portugal
Percurso detalhado aqui

Comentários

  1. Mais uma vez, uma exelente análise.
    Só discordo de um situação; Acho que a culpa não é das Empresas em si, se repararmos, que táticas de Merchandising, usam as equipas portuguesas para divulgar os seus sponsors??? Não basta só colocar o nome nas camisolas e carros...
    Os Responsáveis das Equipas deviam de ponderar, uma parte do seu pequeno orçamento e investir em publicidade, oferecer uma t-shirt um isqueiro um porta chaves muitas vezes parcerias com empresas desse ramo,divulgar o nome da empresa em troca de bens( logo esses brindes seriam gratuitos á equipa), isso é o que o povo gosta, pois 50% amam a modalidade e os outros vão atrás dos brindes... Outro aspeto que não compreendo é o fato de as equipas não fazerem contratos com orgãos de comunicação social, uma vez mais, sem dinheiro envolvido, mencionam o jornal, rádio ou televisão nos carros, e esses orgãos de c. social comprometem se a publicar noticias sobre a equipa.
    Poderia continuar com inúmeros exemplos Helena, algo está mal, é verdade, mas não é de agora.
    Continue com o exelente trabalho, pois são voces que fazem algo pelo ciclismo, sem qualquer interesse em ganho ;-)

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