Joaquim Silva no Mirador de Ézaro |
Esta é a 4ª temporada em
Mortágua. Como têm sido estes anos sob o comando de Pedro Silva?
Têm sido
anos de muita aprendizagem e evolução como ciclista e pessoa. O Sr. Pedro deu-me
a oportunidade de ingressar nesta equipa no meu primeiro
ano sub-23, numa altura em que andava meio perdido. A época já tinha arrancado
e eu não tinha equipa. Estava num momento bastante difícil da minha vida
quando os meus companheiros Carlos Ribeiro e Nuno Meireles, que já lá estavam,
falaram de mim ao meu chefe e ele deu-me a oportunidade que eu precisava. Estou-lhe
muito grato por todos estes anos em que acreditou em mim e por tudo aquilo que
me tem ensinado, é muito bom ter uma pessoa como ele ao nosso lado.
Quais as características e
qualidades que sentes teres progredido mais enquanto ciclista?
Penso
que a nível mental tenho progredido num bom caminho, muitas vezes peco por não
saber ler a corrida e por não ter a frieza necessária para algumas situações de
corrida, mas já estive bem pior e esse é o ponto que tenho evoluído mais. Em
termos físicos, acho que tenho evoluído bem. Com o passar dos anos tenho
evoluído na montanha, que é o meu ponto forte, e sinto que fico mais forte de
ano para ano nessa vertente.
Tens pautado o início do ano por uma
crescente maturidade ciclística, com pódios no teu escalão em importantes corridas
(GP Liberty e GP Abimota) e em duas das três provas da Taça. Satisfeito com os
resultados ou ambicionavas mais?
Estou
muito satisfeito com os meus resultados. Claro que num ou outro caso podia e
devia ter sido melhor, mas as coisas nem sempre correm como queremos. Contudo,
tenho de salientar que não consegui chegar a esses resultados sozinho, toda a equipa e staff estiveram do meu lado sempre que precisei e esses
resultados pertencem a todo o trabalho dos meus companheiros. E, claro, o
suporte da minha família -Pais e Irmão- que tem sido um grande apoio para mim durante
estes anos.
A vitória chegou no Troféu
Luso-Galaico, em Espanha. Jamais esquecerás esse triunfo no Mirador de Ézaro, não?
Foi uma
vitória que esperava e lutava há algum tempo. Já não ganhava desde júnior e o
ano passado tive alguns pódios, mas faltava sempre qualquer coisa para o 1º
lugar surgir. Sabia que era uma prova que combinava com as minhas características
e o trabalho estava feito. A equipa acreditou em mim e fez um excelente
trabalho durante toda a etapa. Quando cheguei às primeiras rampas e o Rúben
atacou, ficámos só três e eu senti que talvez fosse o meu dia, tinha pernas
para isso e contra-ataquei. Quando vi que não trazia ninguém na roda e a meta
estava mesmo ali… foi de arrepiar! E já não houve dor de pernas nos últimos
metros, só um grito de satisfação. Simplesmente, um dia muito bom para recordar
para sempre, ainda mais numa chegada da Vuelta 2012 ganha pelo Joaquim Rodríguez.
Foi um orgulho conseguir ganhar.
Esse Troféu é direccionado ao teu
escalão, mas em Portugal os sub-23 correm com os profissionais. Na tua opinião,
o calendário único para equipas de clube e continentais é um factor de
aprendizagem ou preferias um calendário próprio para o escalão?
Por um
lado, tendo em vista quem sobe do escalão júnior, é muito difícil para eles a
adaptação, porque a diferença de ritmo e quilómetros é enorme. Logo, um
calendário apenas para equipas de clube era o mais adequado. Em contrapartida,
penso que correr contra os profissionais se torna um motivo de orgulho e de
evolução, pois estamos a correr contra aqueles ciclistas que discutem a Volta a
Portugal, aqueles que víamos na televisão e sonhávamos um dia ser como eles. O grande
problema disto é que as equipas de clube têm mais dificuldade para se manterem
na estrada, porque correr com os profissionais tira o protagonismo nos meios de
comunicação e torna-se mais difícil obter resultados de realce, que apareçam
nas páginas de jornais para podermos mostrar os nossos patrocinadores. São eles
que investem para as equipas poderem estar na estrada e isso é mau. Acho que
tem os seus contras, mas também tem os seus benefícios.
Seguem-se as duas últimas provas
da Taça e os Campeonatos Nacionais. Com que expectativas partes para estas
provas?
O objectivo
para este fim-de-semana é manter o pódio na geral da Taça Sub-23, fazendo o melhor
possível nos dois dias. Temos ciclistas no 2º, 3º e 4º lugares. É
claro que a diferença de pontos para o Rúben Guerreiro é alguma, mas não nos podemos
entregar sem dar luta. Quanto aos Campeonatos Nacionais, acho que toda a gente
vai para a linha de partida com o pensamento de vestir a camisola com o símbolo
nacional e eu não sou excepção, mas não penso muito nisso. É sempre uma corrida
muito aberta. Além de ser preciso estar bem fisicamente, é preciso sorte e
saber o momento certo. Também não conhecemos muito do percurso deste ano, que é
novo. Portanto, não sei se é um percurso que me pode favorecer a mim ou a
qualquer companheiro da minha equipa.
Relativamente aos objectivos para
a temporada, qual a tua maior meta?
Gostaria
de representar a Selecção Nacional em alguma prova este ano, claro. Mas o
grande objectivo é a Volta a Portugal do Futuro. Talvez um Top 5 esteja na
minha ideia, visto que vai ser uma prova com mais nível que os outros anos, com
a presença de algumas equipas estrangeiras. Penso que era um bom resultado para
mim.
E quanto ao futuro, que sonhos
gostarias de cumprir?
Sempre
digo isto quando me fazem essa pergunta, primeiro de tudo é chegar a
profissional e fazer uma Volta a Portugal. São aqueles objectivos e sonhos que
sempre tive desde que me lembro de andar de bicicleta. Sonhando mais alto, bem
mais alto, um dia gostaria de correr o Giro d’Itália, porque sempre foi a prova
que mais gostei de ver e sonhava fazer.
Joaquim Silva, vencedor da Juventude GP Abimota |
Fotos: Facebook Joaquim Silva e Grande Prémio Abimota
(escrito em português de acordo
com a antiga ortografia)
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