Um dos
momentos marcantes na vida de um ciclista é a estreia no pelotão profissional. Em Portugal,
essa estreia acontece bastante cedo, dada a junção de equipas
de clube com as continentais no mesmo pelotão. Os sub-23, acabados de chegar do
escalão júnior, enfrentam uma realidade totalmente diferente da que estão
habituados em termos de velocidade, quilometragem, posicionamento, responsabilidade
e até mentalidade.
Celebrada a Clássica Internacional de Loulé, primeira competição de 2015 que juntou sub-23 e
profissionais, podemos confirmar no decorrer da prova todo um mundo novo que os
mais jovens enfrentam na sua estreia, como confirmam as palavras do ciclista
profissional Filipe Cardoso (Efapel), que finda a prova assinalou na sua página
de facebook:
“Foi a primeira corrida com o escalão de sub-23. Nota-se em alguns casos alguma inexperiência, algum nervosismo e resultado disso as quedas que aconteceram logo no início. Óbvio que a culpa não é deles, todos passámos por este processo de aprendizagem e cabe a nós, mais experientes (velhos), ajudar, dar conselhos e não pressionar ainda mais um atleta que ainda há meia dúzia de meses fazia 80 km em corridas de miúdos. Espero que os recém-chegados dos escalões mais novos (juniores) tenham gostado. Eu sou profissional há muitos anos e também cometo asneiras. Não desanimem, porque também vou para casa com as pernas bem doridas.”
Por vezes, é
difícil explicar a um jovem que o facto de não terminar a primeira competição ou
chegar em último é natural. Mais complicado se torna se esse jovem teve um
percurso brilhante nos escalões inferiores e sente que o desempenho não correspondeu
às suas expectativas. Contudo, há que fazer ver a total mudança de realidade a
que vão estar expostos e que apenas com o decorrer das provas a experiência irá
chegar.
Como o sprinter
da Efapel referiu, os percursos passam de 80 para 150 km ou mais e a velocidade
média de cada jornada é superior à praticada até então. Relativamente à
colocação no pelotão, esta diverge não só pelo número de ciclistas na colorida
serpente como também pela responsabilidade de cada equipa no grande grupo,
tendo que se aprender a temperar a coexistência com as equipas profissionais. A
somar a todos estes factores, a inevitável mudança de mentalidade pela qual
todos passam enquanto jovens e ciclistas em crescimento. Nesta fase de
maturação, os objectivos de cada um tornam-se mais fortes e cruciais para a
motivação pessoal e do grupo, tendo que se aprender a lidar com a vitória e a
derrota, a saborear o simples facto de chegar à meta em último ou entre os primeiros,
a colocar em segundo plano os objectivos pessoais em benefício do seu líder, a motivar e agradecer
aos companheiros o trabalho realizado em seu proveito, entre outros tantos momentos decisivos numa corrida.
O jovem ciclista
Jorge Marques (CC José Maria
Nicolau), de 18 anos, espelhou bem a emoção da experiência vivida em Loulé:
“Mas que dia! O concretizar de um sonho de pequenino, correr com o pelotão profissional. Aquele nervoso miudinho, a inexperiência comparada com corredores que são até 15 anos mais velhos que eu e alguns ainda mais velhos. Mas velhos são os trapos. Que máquinas estes senhores do pelotão português. Infelizmente, logo no início vi-me envolvido numa queda a alta velocidade. Foi levantar a correr, trocar de bicicleta e siga! Bem dorido, foi agarrar-me o melhor possível ao grupo principal e dar o meu melhor. Não houve pernas nem colocação certa para tentar chegar com os vencedores. No entanto, mesmo com o azar acabo por chegar como 13º sub-23, o que considero óptimo para o percurso que era, bem como pelo lote de equipas estrangeiras que se encontravam na corrida.”
O domingo em
Loulé terminou com diversas desistências, algumas chegadas fora do tempo
permitido e muitos cruzares de meta. No corpo ficaram gravadas as marcas do
asfalto e na alma a velocidade alucinante com que concretizaram o sonho de
correr com os profissionais. A Clássica Internacional de Loulé foi somente a
primeira corrida do ano, mais se seguirão e com episódios certamente a guardar
na memória daqueles que um dia
serão também ciclistas profissionais.
(escrito em português de acordo com a
antiga ortografia)
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