Nuno Almeida
esconde na juventude dos seus 23 anos uma maturidade profissional almejada por
muitos jovens da sua idade. Perto de começar mais uma temporada no pelotão
nacional, é um dos rostos da Sicasal/Constantinos/UDO, equipa sub-23 da
Academia Joaquim Agostinho que irá estrear-se na estrada em 2015.
Nos últimos 3 anos cresceu como pessoa e ciclista no Clube José Maria Nicolau, casa onde teve a possibilidade de conciliar o desenvolvimento das suas qualidades enquanto atleta e terminar a licenciatura em Engenharia Informática. Este duelo foi totalmente ganho pelo jovem luso, que viu recompensado todo o esforço e dedicação sendo chamado à Selecção Nacional para pedalar a sua primeira Volta a Portugal em 2014. Esta participação, os objectivos para a presente temporada, a nova equipa e a formação em Portugal são os temas abordados na entrevista concedida ao Cycling & Thoughts.
Ansioso pelo início da temporada?
Existe sempre
a ansiedade natural de começar uma nova época, com novos objectivos e, neste
caso, nova equipa. Mas tenho gerido bem essa ansiedade, concentrando-me no meu
trabalho diário de forma a alcançar o melhor estado de forma possível para esta
fase da época e, para além disso, os estudos ocupam-me a cabeça o suficiente
para não pensar muito nisso.
Este ano estás numa equipa diferente.
Como surgiu o convite para ingressares na Sicasal/Constantinos/UDO?
Foi um ‘meio-meio’,
isto é, com o final da época surgiu o momento de pensar um pouco no meu futuro
e, no caso de continuar no ciclismo, procurar novos objectivos, novos rumos e por
essa razão decidi sair do Clube Ciclismo José Maria Nicolau. Custou-me, ainda
me custa imenso, pois gosto muito desse clube, mas para um atleta por vezes é melhor
mudar de ares e foi isso que decidi fazer. Surgiu esta nova equipa e, de uma
conversa entre ambos, chegámos a um acordo com o qual estou muito contente e
encaro com muito positivismo esta nova página na minha carreira.
Este é um projecto novo, que está a
gerar bastante expectativa pelo regresso da Sicasal ao patrocínio do ciclismo e
por estar inserida na Academia Joaquim Agostinho. Como está o grupo a viver
este momento e que expectativa tem sobre a equipa?
A Sicasal
dispensa apresentações no ciclismo português, é uma grande referência nacional,
talvez a maior de todas. Nós, atletas, teremos de saber lidar com isso,
perceber o que está em causa neste projecto, o nome que iremos levar por
Portugal fora e o impacto que isto terá. Somos um grupo muito jovem, metade da
equipa são atletas sem experiência no pelotão nacional, porque vieram dos
escalões de formação ou porque é a primeira vez que se vão aventurar neste
ciclismo. Acima de tudo, estamos confiantes de que iremos fazer um bom trabalho
e honrar, dentro nas nossas capacidades, todos os patrocinadores. Podemos
prometer muito empenho, muito trabalho, muita garra, vontade e decerto iremos
dar o ar da nossa graça, basta ficarem atentos!
Sentiste dificuldade em manter o lugar
no pelotão?
Bom, esta é
uma pergunta complicada. Ao certo sempre senti que continuaria a ter um lugar
no pelotão, poderia ser através do Cartaxo como de outra equipa, sub-23 claro. Mas
ficar sem equipa para correr nunca o senti, apenas ponderei abandonar a
modalidade e dedicar-me somente ao Mestrado em Engenharia Informática.
Esperavas entrar este ano numa equipa
profissional. Ressentido com a falta de oportunidade?
Sinceramente…
sim! Avaliando o que foi a minha época, sei que não tive resultados de destaque,
apenas fui um atleta regular que ‘nem era besta nem era bestial’. Tive a
felicidade de participar na Volta a Portugal pela Selecção Nacional, mas sempre
tive em mente que isso não me iria salvar a época. No fim dela, olhando para o
actual pelotão e quem poderia subir a profissional ou não, sinto que teria
lugar numa dessas equipas. Estive perto de uma delas, mas acabaram por tomar
outras decisões e assim não se proporcionou a minha subida. Fiquei algo triste,
pois existem decisões nas equipas em Portugal que muito sinceramente não
entendo, mas isso já passou e estou focado em dar o meu melhor pela equipa Sicasal/Constantinos/UDO.
Como vês o estado actual da nossa
formação? Os jovens lusos têm qualidade internacional?
O ciclismo
português, nos seus escalões de formação, continua e sempre continuará a ter
qualidade e jovens de muito valor que nalguns anos poderão sonhar com voos
maiores. Mas a verdade, e acima de tudo a realidade, é que o ciclismo tende a
perder algum fulgor na qualidade do ciclismo de formação. Existem menos jovens
a praticar a modalidade e os poucos que vão lutando chegam muitas vezes a
sub-23 sem equipa. É pena, mas o momento actual não ajuda a que isto mude.
Espero e desejo que melhore e que sejam dadas condições às equipas de formação
para que possam continuar a surgir atletas de relevo no futuro.
O ano passado conseguiste alcançar
todas as metas que tinhas delineado?
A única meta
que me faltou concretizar foi a subida a profissional, de resto tudo o que
projectei consegui alcançar… licenciar-me, fazer uma boa época e sem azares e
sonhar com um lugar na Volta a Portugal caso houvesse Selecção, o que veio a
concretizar-se. Talvez a prestação no Troféu Joaquim Agostinho me tenha deixado
um amargo de boca, pois tinha-me preparado com todo o empenho para essa corrida
e uma queda deixou-me fora da luta por algo melhor, mas faz parte do ciclismo.
Que momento te marcou em 2014 e
porquê?
Sem dúvida, a
presença na Volta a Portugal e em particular a chegada a Lisboa. Chegar a Lisboa
marcava o chegar à última etapa como um passaporte para concluir a Grandíssima,
aquele sonho que qualquer ciclista português ambiciona. Depois o mar de gente
presente, dos quais muitas pessoas minhas conhecidas a puxar e a gritar por
mim, é de ficar com pele de galinha. Terminei a Volta, terminei em casa e no
meio da minha gente, não se pode pedir mais. Mas em si, toda a Volta foi marcante.
É, sem dúvida, uma corrida à parte de todas as restantes onde o público marca
presença de uma forma nunca vista e apoia-nos sejamos nós quem formos.
Agora impõe-se falar do presente. Que
objectivos traças para este ano?
Os meus objectivos
são muito simples. Honrar o nome que vou levar vestido durante a época e chegar
a profissional definitivamente. Vou precisar de ser regular ao longo da época e
de me destacar nas corridas que possam ser de maior feição às minhas
características. Estou a trabalhar bem, concentrado e motivado para conseguir
alcançar essas metas.
Em prova tens destacado o teu lado de
gregário. Queres seguir essa vertente ou anseias por uma oportunidade de
liderança?
Na minha
opinião, o papel de gregário é tão importante como a de um líder. Um líder não
ganha sem o trabalho de um gregário, ou pelo menos é muito difícil. Gosto muito
dessa tarefa e acho que é a que se adapta mais ao tipo de ciclista que sou, mas
para se ser gregário é necessário estar numa equipa em que isso se proporcione.
Tive esse privilégio na Volta a Portugal, onde pude mostrar pela primeira vez
essa minha faceta trabalhando para atletas como o José Gonçalves, o David
Rodrigues e o Joaquim Silva. Actualmente, essa tarefa poderá ser mais complicada
de concretizar devido à juventude da equipa, mas decerto que quando necessário
estarei 100% disponível a fazê-lo, seja para um atleta de primeiro ano seja
para um elite.
Por último, tens algum ciclista com
que te identifiques? Quem são os teus ídolos?
Actualmente,
não me consigo identificar com um ciclista. Penso que ainda não sou um ciclista
que esteja bem formado e com um estilo bem definido. Em relação a ídolos, e
também por ser Português, Rui Costa sem margem para dúvidas. Para mim é o
ciclista modelo que qualquer jovem deveria querer seguir. A sua humildade e
forma simples de ser, aliado à enorme capacidade de trabalho e de perseverança fazem
dele um ciclista único. Por isso, se eu quiser ser como alguém, quero ser como
o Rui Costa.
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