A formação e o futuro
do ciclismo em Portugal são dois temas que se mantêm na linha da frente das
preocupações da modalidade no país. Nos anos mais recentes, os jovens têm captado
a atenção internacional para a qualidade dos atletas nacionais, conseguindo dar
o desejado salto para o pelotão além-fronteiras. Já os profissionais com mais
anos de carreira têm dotado as suas performances de um maior nível competitivo,
levando a um acréscimo da qualidade do pelotão nacional.
Desde o artigo escrito pelo blog Cycling & Thoughts em 2014, o panorama do ciclismo
português de estrada cresceu a nível quantitativo e qualitativo, relativamente
às equipas continentais e de clube que compõem o pelotão. No que respeita ao
calendário de provas, este tem sido pautado de avanços e retrocessos.
As equipas de clube
sub-23 sofreram um aumento de quatro para sete esquadras, garantindo a oportunidade
a um maior número de jovens poder desenvolver e cimentar as qualidades desportivas
com vista a entrar no patamar profissional. Esta última etapa dos anos de
formação tem interpretado um papel chave no que toca à construção sustentada da
modalidade no país, fazendo de Portugal uma nascente de talentos promissores,
que mais cedo ou mais tarde ganham asas para abrilhantar os mais desejados
palcos do ciclismo internacional.
Mantendo-se como as maiores
impulsionadoras deste escalão, as históricas equipas Anicolor, Jorbi-Team José
Maria Nicolau, Maia e Moreira Congelados-Feira-Bicicletas Andrade viram chegar mais
três esquadras à sua companhia, nomeadamente a ACDC Trofa, Liberty Seguros-Carglass
e Sicasal-Constantinos-Delta Cafés. Entre os nomes que compõem o jovem pelotão,
algumas trajectórias têm-se feito notar de forma mais consistente como o caso
dos gémeos Ivo e Rui Oliveira, Luís Gomes, Zulmiro Magalhães, David Ribeiro, César
Martingil, Tiago Ferreira, Gaspar Gonçalves (campeão nacional sub-23 de
contra-relógio), André Carvalho, Francisco Campos, Venceslau Fernandes, João Santos, Fábio
Mansilhas, Jorge Magalhães (vice-campeão sub-23 de contra-relógio), Hugo Nunes
(vice-campeão nacional sub-23 de fundo), Paulo Silva, Gonçalo Carvalho, Tiago
Antunes, José Neves, Marcelo Salvador e André Ramalho. À parte dos mais jovens,
as equipas de clube dão oportunidade a um restrito número de ciclistas acima
dos 23 anos de poder integrar os seus grupos e neste caso os nomes de Bruno
Sancho e Luís Mendonça mostraram-se uma mais-valia.
A direcção desportiva
nesta fase de formação é um dos aspectos primordiais para o sucesso ou
insucesso dos respectivos projectos e jovens atletas. Neste ponto, quatro nomes
têm-se destacado pela longevidade no comando da elaboração do plano de
aprendizagem e do crescimento sustentado das aptidões dos seus pupilos: Joaquim
Andrade [também Presidente da APCP – Associação Portuguesa de Ciclistas
Profissionais], José Nicolau, Manuel Correia e Pedro Silva.
Estas equipas têm
assegurado a base fundamental que os jovens carregam consigo quando sobem ao
profissionalismo pela mão das equipas continentais, que em Portugal conseguiram
as seis já estabelecidas manter as suas estruturas na estrada. Embora algumas
tenham perdido patrocinadores, todas elas conseguiram fazer face a essa
adversidade, através da captação de novos apoios. Efapel, LA
Alumínios-Metalusa-BlackJack, Louletano-Hospital de Loulé, Rádio
Popular-Boavista, Sporting CP-Tavira e W52-FC Porto garantiram a continuidade
em 2017, conservando o bom nível de corredores ao qual nos têm habituado.
O pelotão profissional português
garantiu nos recentes anos uma saudável e elevada rivalidade ao mais alto nível,
tanto nos mais duros terrenos oferecidos pelas mais importantes provas
nacionais como na incursão a competições estrangeiras. Apenas
alguns exemplos são nomes de Joni Brandão (3º CG Vuelta a Castilla y
León), Samuel Caldeira (4º CG Vuelta a La Rioja), Daniel Freitas (5º CG Vuelta
a La Rioja), Rafael Reis (7º CG Vuelta a Castilla y León), Frederico Figueiredo
(10º CG Gran Premio Miguel Indurain), César Fonte (11º CG Klasika Primavera
Amorebieta), David Rodrigues (11º CG Vuelta a Madrid), Amaro Antunes (14º CG
Vuelta a Madrid) e Rui Vinhas (15º CG Vuelta a Castilla y León). Em território nacional, na mais
internacional prova lusitana, a Volta ao Algarve, repetiu-se na luta pela geral
e nas etapas de montanha o destaque de Amaro Antunes (10º CG, 7º no Alto da
Fóia e 4º no Alto do Malhão) rivalizando com os mais altos rostos do WorldTour,
e o de Samuel Caldeira (9º na Et4) na linha da frente pelas vitórias ao sprint.
O sucesso dentro de
portas tem vindo a transbordar fronteiras, fruto da capacidade de
comprometimento dos ciclistas para com este exigente desporto, bem como pela
forma aguerrida com que tentam superar-se a cada corrida. Um dos maiores
exemplos esta temporada foi o de Rafael Reis, vencedor do Ranking APCP Ciclista do Ano. Com oito triunfos e um extraordinário desempenho nas etapas de
contra-relógio, este jovem corredor superou em muito as temporadas anteriores,
focando-se na melhoria das suas inatas capacidades para a especialidade do
esforço individual, obtendo notórios resultados pelo trabalho desenvolvido. O prémio
mais almejado chegou pelas mãos espanholas da Caja Rural-Seguros RGA, equipa do
escalão Profissional Continental que irá representar em 2017.
O trabalho desenvolvido
pelas equipas de formação não se esgota no sucesso da subida dos seus pupilos
às equipas continentais lusas. O bom nível de aprendizagem espelha-se
igualmente na chamada dos jovens lusos às mais importantes equipas
internacionais, como foi o caso de Nuno Bico (para a Klein Constantia) e Rúben
Guerreiro (para a Axeon Hagens Berman) nos últimos anos.
Já na próxima temporada,
repete-se este importante passo através dos gémeos Ivo e Rui Oliveira, dados
como certos na Axeon Hagens Berman de Axel Merckx, esquadra norte-americana que
tem conseguido elevar diversos ciclistas ao patamar WorldTour, como o caso do
actual campeão nacional sub-23 Rúben Guerreiro, que em 2017 irá integrar a
Trek-Segafredo do campeão Alberto Contador. O próximo ano conta ainda com
alguns juniores a rumarem ao estrangeiro, como o caso do campeão nacional João
Almeida para a italiana Team Unieuro, André Carvalho para a italiana Cipollini
Iseo Rime e Daniel Viegas para a espanhola RH+/Polartec-Fundación Alberto
Contador. Entre os mais conhecidos no panorama internacional, mantêm-se além-fronteiras os nomes já confirmados de André Cardoso
(Trek-Segafredo), José
Gonçalves e Tiago Machado (Katusha-Alpecin), José Mendes
(BORA-hansgrohe), Rui Costa
(Project TJ Sport), Nelson
Oliveira (Movistar Team) e Ricardo Vilela (Manzana Postobon), aos quais se unem Nuno Meireles (Equipo Bolivia) e Leonel Coutinho (Supermercados Froiz).
Uma das questões que
mais preocupava a sustentação do pelotão e das equipas relacionava-se directamente
com as consequências da regra dos 28 anos das Equipas Continentais, implementada
pela UCI (União Ciclista Internacional) a nível internacional e que em Portugal
desencadeou o fim prematuro de diversas carreiras, dado que as equipas tinham de
conter nos seus planteis 60% de corredores abaixo dos 28 anos de idade
[percentagem estipulada pela FPC – Federação Portuguesa de Ciclismo, sendo
variável de país para país]. Neste tema a APCP – Associação Portuguesa de
Ciclistas Profissionais, através do seu presidente Joaquim Andrade, trabalhou
afincadamente nas instâncias internacionais para o término desta regra castradora
de carreiras no seu auge. O objectivo da Associação viu uma luz ao fundo do
túnel, visto que para 2017 a UCI põe fim à regra a nível internacional, sendo
que em Portugal a FPC fez saber que somente em 2018 a regra será revista, pela
razão das equipas estarem em plena contratação de corredores e não ser justo
quebrar a regra com equipas com planteis já fechados e outras ainda em fase de
contratação.
Se no tema das equipas
a qualidade dos ciclistas foi crescente, também crescente se demonstrou o
interesse por parte dos meios de comunicação sobre o ciclismo, embora não ao
nível esperado para uma modalidade que tem muito a oferecer em termos
publicitários às marcas a si associadas, bem como em termos turísticos na
divulgação dos locais por onde as corridas passam. O regresso ao ciclismo de
dois grandes clubes de futebol, Sporting e Porto, fez soar os sinos da
esperança relativamente à lufada de publicidade e divulgação a que iriam estar
sujeitas equipas e competições. Contudo, o interesse demonstrado centrou-se uma
vez mais quase exclusivamente na Volta a Portugal, prova que se tornou rainha
não só do calendário nacional como também das atenções em geral.
Os números mostram-nos
que a Volta a Portugal continua a dar bons resultados de audiência televisiva a cada ano que passa, sendo relevante pensar numa nova abordagem quanto à
atracção de um maior número de público nas estradas à passagem do pelotão. A ligação
da parte de marketing e comunicação das equipas junto ao público tem-se vindo a
deteriorar com o passar dos anos, sendo premente este reavivar de laços tão notoriamente
fortes no passado.
A Volta a Portugal é
dona de uma relevância significativa para a manutenção da modalidade no país,
mas não esgota em si mesma a potencialidade do ciclismo como um todo agregador
das demais competições lusas, também elas de suma importância no território
nacional. Sendo o pelotão o elo de ligação entre todas as corridas que
constroem a cadeia chamada calendário português de estrada, é essencial
estender os laços afectivos entre público e corrida a todas as provas do
calendário, de Fevereiro a Setembro, pois só desta forma cada rosto do pelotão
voltará a ser visto como o herói com quem cada pessoa se identifica no decorrer
do ano, chegando à Volta completamente conectados com nomes e rostos da
colorida serpente, que fazia e faz vibrar o asfalto por onde pedala. Das mais
famosas provas como a Volta ao Algarve e a Volta ao Alentejo, passando pelas
Clássicas e Grandes Prémios, até ao cair do pano nos tradicionais Circuitos de
fecho de temporada, tem de se divulgar mediaticamente cada corrida de forma a criar
uma história contínua, que conta o papel de cada ciclista e de cada equipa no
decorrer da época e não somente nos dias da Volta a Portugal.
O esforço por manter
vivas algumas corridas emblemáticas como o Troféu Joaquim Agostinho é notório, como
também é de saudar o reavivar de outras como o Grande Prémio Jornal de
Notícias. Por outro lado, a manifesta diminuição do número de provas ao longo
do ano é preocupante, tal como menos positivo se vê o fim da Taça de Portugal
Sub-23 com provas exclusivas para o jovem pelotão, formato apenas posto em
prática em 2016.
No panorama
internacional, Portugal cimentou o número de provas no calendário UCI Europe
Tour, passando de sete para oito em 2017: Volta ao Algarve (2.HC), Volta ao
Alentejo (2.1), Clássica da Arrábida (1.2), Clássica Aldeias do Xisto (1.2), GP
Internacional Beiras e Serra da Estrela (2.1), Volta a Portugal do Futuro
(2.2U), Troféu Joaquim Agostinho (2.2) e Volta a Portugal Santander Totta (2.1).
A fechar este artigo, para
além dos nomes referidos ao longo do mesmo, destacam-se mais alguns rostos para
acompanhar com interessante como o regresso ao pelotão nacional do mais
internacional dos ciclistas lusos Sérgio Paulinho, e também de Edgar Pinto,
Domingos Gonçalves, Fábio Silvestre e João Matias. Ver como Daniel Mestre e
Henrique Casimiro fortalecem os resultados de 2016, a afirmação de António
Barbio, Rafael Silva, Sandro Pinto e António Carvalho e seguir com atenção a
integração e o agarrar de novos objectivos na mudança de equipa por parte de Nuno
Almeida, Bruno Silva, Filipe Cardoso e João Benta.
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Retrospectiva 2016: W52-FC Porto | Máxima Ganhadora
Retrospectiva 2016: Efapel | Máxima Rival
Retrospectiva 2016: Louletano-Hospital de Loulé | Temporada Positiva
Retrospectiva 2016: Sporting CP-Tavira | Temporada Positiva
Retrospectiva 2016: LA Alumínios-Antarte | Temporada Modesta
Retrospectiva 2016: Rádio Popular-Boavista | Temporada Modesta
Retrospectiva 2016: Moreira Congelados-Feira-Bicicletas Andrade
Retrospectiva 2016: GoldWin-Team José Maria Nicolau
Retrospectiva 2016: Liberty Seguros-Carglass
Retrospectiva 2016: Sicasal-Constantinos-Udo
Retrospectiva 2016: Anicolor
Retrospectiva 2016: Maia e ACDC Trofa
Excelente trabalho excelente análise.
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