As retrospectivas fazem
parte de todos os finais de ano e o Presidente da UCI Brian Cookson deu estes dias a sua visão sobre o ciclismo em
2016, numa entrevista alargada publicada no site da União Ciclista
Internacional. Entre os temas abordados, referiu os momentos altos, os desafios,
o trabalho da UCI e o que podemos esperar em 2017.
Para Brian Cookson, 2016
“Foi um ano de verdadeiro progresso. Para
além dos Jogos Olímpicos e Paralímpicos, o nosso desporto progrediu em diversas
áreas importantes ao longo do ano: o ciclismo feminino transformou-se pelo
lançamento incrivelmente bem sucedido do UCI Women’s WorldTour, também
introduzimos uma nova categoria Feminina Sub-23 nos Campeonatos do Mundo UCI de
Ciclocrosse, anunciámos uma série de mudanças no ciclismo de pista a fim de
criar corridas mais cativantes para o espectador, vimos a estreia do UCI BMX
Freestyle Park World Cup e, finalmente, premiámos 15 Campeonatos do Mundo UCI
em sete disciplinas. Estou entusiasmado com o nosso desporto na entrada de 2017.”
Os Jogos Olímpicos do
Rio de Janeiro marcaram indubitavelmente a temporada, evento que para Brian
Cookson se revelou um grande desafio para o ciclismo. “A preparação dos Jogos do Rio não foi fácil, particularmente no que
concerne ao velódromo. Estive em permanente contacto com o Prefeito do Rio e
com o Comité Olímpico Internacional (COI) e conseguimos graças a um enorme
esforço de equipa. No final, os Jogos foram uma maravilhosa promoção para as
quatro disciplinas olímpicas do ciclismo. Tivemos algumas performances
incríveis em impressionantes cenários emitidos por todo o mundo. Uma das coisas
únicas do ciclismo é que podemos ajudar a mostrar a cidade anfitriã e foi
certamente o que fizemos no Rio. Também tivemos grandes multidões: o velódromo
e o estádio de BMX esgotaram e tivemos muitos milhares a assistir BTT num
fantástico circuito. As multidões foram uma clara demonstração do apelativo que
é o nosso desporto. Tive a oportunidade de passar algum tempo com o Presidente
do COI Bach, e muitos membros e altos funcionários do COI, e ficou claro o
quanto gostaram dos nossos eventos.”
O paraciclismo também
esteve no centro das atenções mundiais no presente ano. “2016 foi verdadeiramente um grande ano para o paraciclismo”,
referiu Cookson. “O nosso desporto tem
competições de estrada e de pista nos Jogos Paralímpicos e as duas atraíram vastas
multidões no Rio. Testemunhámos algumas conquistas incríveis nos Jogos com nada
menos do que 10 recordes mundiais e 20 recordes paralímpicos superados. Mas não
posso falar dos Jogos Paralímpicos no Rio sem prestar homenagem a Bahman
Golbarnezhad do Irão, que morreu tragicamente após uma queda na prova de
estrada C4.”
Acrescentou: “Em geral, o paraciclismo está a crescer.
Colin Lynch, da Irlanda, estabeleceu o primeiro recorde da hora UCI no
paraciclismo, o membro da Comissão de Atletas UCI e paraciclista Greta Neimanas
foi escolhida pela Agência Mundial Anti-dopagem (AMA) para entrar no seu Comité
de Atletas e o Centro Mundial de Ciclismo da UCI acolheu recentemente
paraciclistas de cinco países num estágio de duas semanas, o quarto evento
organizado pela UCI desde 2015.”
Este foi igualmente um
ano de significativas mudanças implementadas pela UCI. Sobre as mesmas e o rumo
que quer dar à União Ciclista Internacional, Cookson afirmou: “Fizemos grandes progressos em termos de
governação. Agora temos um Código de Ética da UCI revisto e reforçado, que se
aplica a uma base muito mais ampla, incluindo todo o pessoal bem como
consultores, organizadores de corridas e, de modo geral, a todos os detentores
de licenças no âmbito do ciclismo. Amplia o campo de competência da Comissão de
Ética da UCI, cuja filiação é cada vez mais composta por experientes
profissionais independentes do mundo do ciclismo. O Presidente é agora Bernard
Foucher, membro do Supremo Tribunal de Justiça Administrativa de França e Árbitro
no Tribunal Arbitral do Desporto (TAS).”
“Prometi
uma reforma constitucional e estou satisfeito por termos uma Constituição da
UCI revista, que estabelece novos processos democráticos, incluindo a restrição
do número de mandatos do Presidente (para três). A reforma constitucional marca
mais um passo importante na governação da UCI, na linha das melhores práticas
internacionais, e ajudámos a reforçar a credibilidade da UCI na comunidade
desportiva internacional, bem como diante dos nossos membros.”
“À
medida que prosseguimos o nosso trabalho de restabelecer a credibilidade no ciclismo,
continuámos a investir significativamente no nosso programa anti-dopagem, que é
correctamente considerado como um dos líderes de qualquer desporto. Aliás,
proteger a integridade do nosso desporto permanece como prioridade absoluta e é
por isso que investimos recursos significativos para testar literalmente
milhares de bicicletas contra a fraude tecnológica.”
“Congratulo-me
por termos reforçado o número de parcerias existentes, bem como acrescentar
novas como a Telenet. É um claro sinal da confiança na UCI e nas mudanças que
fizemos e saudamos a Tissot, histórico cronometrista da UCI, como primeiro Parceiro
Mundial do Ciclismo. Os nossos parceiros são grandes apoios e permitem-nos
continuar a nossa missão de expansão do ciclismo por todo o mundo. Noutro marco
histórico, assinámos um acordo de 8 anos com a EBU e IMG para os direitos
mundiais de transmissão televisiva, que irão levar os nossos principais eventos
à mais ampla audiência possível em todo o mundo.”
“Estamos
igualmente a tornar-nos uma voz mais activa na promoção do ciclismo nas
comunidades. Este ano, concedemos a nossa marca UCI Bike City a cidades e
regiões na Noruega e Holanda, a fim de reflectir o grande trabalho que está a
acontecer no terreno. Isto é algo que verão mais no futuro à medida que tomamos
uma posição mais sólida na promoção do ciclismo, não somente como um desporto,
mas também como meio de transporte e como actividade diária saudável. Resumindo,
estou muito satisfeito com o progresso que fizemos e a direcção que estamos a
seguir.”
Brian Cookson, Presidente da União Ciclista Internacional (© GettyImages) |
Além das mudanças, a
UCI enfrentou um enorme desafio quanto à imagem do ciclismo. “Diria que a maior ameaça em 2016 foi relativamente
à credibilidade do nosso desporto”, salientou Cookson. “Refiro-me à fraude tecnológica, que esteve no centro das atenções
desde cedo na temporada, quando descobrimos um motor escondido numa bicicleta
nos Campeonatos do Mundo de Ciclocrosse em Heusden-Zolder (Bégica), em Janeiro.
A Comissão Disciplinar da UCI impôs uma sanção de seis anos e uma multa significativa
na respectiva corredora Femke Van den Driessche. Fomos muito rápidos e
eficientes em lidar com este caso, sublinho que continua a ser o único caso de
fraude tecnológica até à data. A nossa luta contra a fraude tecnológica tem
estado em curso desde a minha eleição em 2013, visando homens e mulheres de
diferentes disciplinas de ciclismo. Por exemplo, este ano testámos 274
bicicletas nos Campeonatos do Mundo de Pista em Londres, 117 no Aviva Women’s
Tour, 3773 no Tour de France e 1372 nos Campeonatos do Mundo de Estrada em
Doha. Depois de considerar diferentes métodos de teste, encontrámos um que é
flexível, confiável, eficaz, rápido e fácil de implementar. Naturalmente,
iremos continuar a levar a sério a possibilidade de fraude tecnológica em 2017.
Continuaremos a rever quais as ameaças que podem surgir nesta área e avaliaremos
qualquer nova informação sobre os métodos de teste ou potenciais formas de
fraude.”
Na nova era global do
ciclismo, a UCI vê chegar um forte investidor ao mundo das duas rodas. “Wanda Sports está a promover o Tour of Guangxi,
nova corrida UCI WorldTour, levando o pelotão a um dos mais populares destinos turísticos
da China, na parte sul do país, durante 6 dias em Outubro”, explica Cookson. “A partir de 2017 realizar-se-á
paralelamente uma nova corrida elite feminina, que se candidatou ao estatuto de
UCI Women’s WorldTour para 2018. Para garantir o desenvolvimento a longo prazo
do ciclismo na China, Wanda Sports irá construir um centro de ciclismo, que
servirá de satélite ao Centro Mundial de Ciclismo da UCI, em Aigle. A abertura
de um centro satélite na China, no qual promissores atletas serão apoiados e
financiados pela Wanda Sports, representa um enorme impulso para o nosso
desporto. O centro incluirá uma pista interior de competição internacional de
250m, uma pista de BMX e um circuito de estrada, com os mais talentosos jovens
corredores a serem seleccionados para passarem tempo no Centro Mundial de
Ciclismo da UCI. Este é um enorme passo para o ciclismo na região.”
“Wanda
Sports irá também organizar as primeiras três edições (2017, 2018 e 2019) dos
novos Campeonatos do Mundo de Ciclismo Urbano no final de Outubro. Este emocionante
evento reúne Moutain Bike Cross-Country Eliminator, Trials e BMX Freestyle
Park, inspirando toda uma nova geração de fãs de ciclismo urbano.”
“Depois
das primeiras edições bem sucedidas da Gala de Ciclismo UCI, organizada em Abu
Dhabi, esta comemoração de ciclismo irá deslocar-se para a China em 2017, tendo
lugar na cidade montanhosa de Guilin, local da chegada da última etapa do Tour
of Guangxi. Este acordo mostra o que é possível e como gostamos de trabalhar
com os nossos parceiros de uma forma ampla e criativa. É por isso que quando entregamos
os nossos grandes eventos, também queremos ver claramente os planos de legado
ligados a esses eventos. Por tal, gostaria de ver este tipo de parcerias
espelhadas por outros territórios.”
Uma das questões
bastante abordadas nos meios de comunicação, que tomou conta de várias linhas
nos principais sites internacionais de ciclismo, foi a concessão das TUEs –
Therapeuthic Use Exemption (Isenção de Uso Terapêutico). Brian Cookson abordou
o tema: “A primeira coisa a dizer é que a
UCI reforçou o seu processo de avaliação de TUE em Junho de 2014, durante o
primeiro ano da minha presidência. Esta mudança pôs em prática uma Comissão de TUE
mais robusta e independente de três pessoas, composta por peritos independentes,
que exige unanimidade antes de sancionar qualquer pedido de TUE. Este é um
padrão mais elevado do que o exigido pelas normas internacionais. O número de
TUEs que a UCI sancionou nos anos recentes está a diminuir – de 31 em 2013 para
13 no último ano. Nós sempre partilhamos os detalhes das TUEs concedidas com a
WADA, o que acrescenta outro nível de escrutínio.”
Sobre as mudanças que
estão a ser implementadas no ciclismo profissional masculino de estrada,
Cookson realça: “Congratulo-me, após
muitos anos, de termos encontrado uma forma de tornar o WorldTour
verdadeiramente global. Para 2017, podemos esperar uma temporada que nos leva a
mais continentes e países do que nunca, da Califórnia à China passando pelo
Médio Oriente.”
Entre as mudanças, Cookson
assinalou a questão da protecção dos corredores. “A segurança do ciclista é extremamente importante para todos nós e experienciámos
alguns trágicos incidentes no início do ano. Estamos a trabalhar arduamente com
todas as partes interessadas – organizadores de corridas, equipas e ciclistas –
para fazer tudo o que podermos para prevenir tais incidentes no futuro. Em 2016,
introduzimos regulamentos mais rigorosos que regem a conduta de todos os
condutores de veículos e motociclistas numa corrida de estrada, com as
violações a serem encaminhadas para a Comissão Disciplinar da UCI. Para garantir
que não há zonas cinzentas, iremos publicar brevemente um guia Caravana de
Corrida [Race Caravan], detalhando
todos os regulamentos relevantes de segurança, incluindo a posição dos veículos
durante uma corrida. Os ciclistas também têm um papel na sua própria segurança
e introduzimos novos regulamentos a clarificar exactamente quando os atletas
têm de parar nas passagens de nível. Esta regra foi rigorosamente aplicada em
2016, resultando na desqualificação de alguns ciclistas. A restante questão da
segurança abordada em 2016 foi a respeitante às condições de clima extremo, com
a introdução do novo Protocolo de Clima Extremo.”
Também o ciclismo de
pista foi alvo de novos regulamentos, assinalados por Brian Cookson: “Há mudanças muito emocionantes, que estamos
já a ver na actual Taça do Mundo de Ciclismo de Pista Tissot e que também serão
apresentadas nos Campeonatos do Mundo, em Abril. Uma das mudanças
significativas, que resulta de uma consulta extensa, é a redução do número de
corridas no Omnium de seis para quatro, com o evento a ser agora realizado num
dia em vez de dois. A introdução do Madison feminino é outro grande passo,
trazendo perfeita paridade entre homens e mulheres nos eventos de pista. As mudanças
na regulamentação estão a fazer o ciclismo de pista muito mais atractivo para o
espectador e estou muito animado com o futuro da disciplina Olímpica, que
estará de volta aos holofotes com as próximas duas etapas da Taça do Mundo de
Pista em Cali e Los Angeles.”
A Presidência de Brian
Cookson tem-se focado igualmente no desenvolvimento e crescimento do ciclismo
feminino. “2016 foi um ano inovador com a
introdução do UCI Women’s WorldTour, transmissão televisiva ao vivo de mais de
metade das corridas e aumento da exposição nas redes sociais: a conta Twitter
@UCIWomensCycling tem actualmente mais de 20.000 seguidores, enquanto a conta
Instagram UCI Women’s Cycling triplicou a sua base de fãs para perto de 35.000
em apenas seis meses. Há boas notícias para 2017 com as corridas elite
femininas a irem a novas cidades e regiões da Europa, China e EUA. O UCI Women’s
WorldTour 2017 verá a adição de duas corridas por etapas e de duas corridas de
um dia, aumentando o número total de dias de competição em mais de 30%. O calendário
alargado reflecte o significativo progresso feito para reforçar o perfil e o
profissionalismo do ciclismo feminino e estabelecer o seu estatuto como
desporto principal. Estou determinado a continuar a puxar pelo profissionalismo
do ciclismo feminino.”
No fecho da entrevista,
Cookson abordou as prioridades da UCI e do ciclismo para 2017. “Estou muito animado com o futuro e com 2017
em particular. Ambos os WorldTours masculino e feminino irão levar os pelotões
a novas corridas e novos territórios. Veremos novos eventos na China e os
Campeonatos do Mundo de Pista serão realizados em Hong Kong no próximo mês de
Abril, sendo apenas a segunda vez na história do ciclismo de pista que a Ásia
recebe este evento. O primeiro foi em Maebashi, Japão, em 1990. Também teremos
os Campeonatos de Mundo de Estrada, que serão realizados na bonita cidade de
Bergen, na Noruega, e contará com 12 corridas durante 9 dias, vários eventos de
participação em massa e um grande programa cultural.”
“Estou
ansioso por chegar a mais e mais pessoas à medida que expandimos a família de
ciclismo. O crescimento na nossa base de fãs tem sido excepcional e actualmente
temos um alcance nas redes sociais de 1.6 milhões de pessoas, em comparação com
quase nada há três anos atrás. Em 2017, iremos crescer muito mais.”
“Aguardo
com expectativa um ano durante o qual iremos continuar a construir sobre a já muito
melhorada imagem UCI, alcançar mais e mais pessoas em todo o mundo e fazer
crescer a nossa família do ciclismo. O ciclismo está a crescer e continuará em
2017. Na UCI, temos o dever de fazer o que podermos para promover esse
crescimento e fazê-lo de forma transparente e justa, lidando de forma honesta e
justa com todas as partes envolvidas. E têm o meu compromisso absoluto que é
exactamente isso que continuaremos a fazer.”
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