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Seguir no pelotão aos 28 anos


Ao olhar a constituição das Equipas Continentais portuguesas, tendo em conta a Regra UCI dos 28 anos, conclui-se que esta regra está a ser cumprida ao limite exigido. Todas as equipas, à excepção da Carmim-Tavira, têm apenas menos um ciclista maior de 27 anos comparativamente aos ciclistas abaixo dessa idade.

Todos os anos, coloca-se o problema de saber se os corredores com mais experiência no pelotão nacional vão poder continuar a fazer da sua paixão a sua profissão. Esta questão leva a dois pontos de vista. Se, por um lado, os mais jovens necessitam de uma oportunidade para se integrar no pelotão continental e esta regra assim o permite, por outro lado, não é possível fechar os olhos à realidade dos corredores com 28 anos estarem na melhor fase da carreira ciclista. Tanto no pelotão nacional como no pelotão internacional, os corredores têm maior rendimento nesta idade e não é por acaso que, por exemplo, as grandes Voltas no ano passado foram ganhas por Bradley Wiggins (28/04/1980), Alberto Contador (06/12/1982) e Ryder Hesjedal (09/12/1980). Se olharmos ao nosso país, temos o maior exemplo de todos com David Blanco (03/03/1975) e a vitória da Volta a Portugal. Também poderiam ser enumeradas várias corridas de um dia.


O pelotão necessita de juventude do mesmo modo que precisa de experiência. Se os mais jovens têm uma “pequena” alternativa de permanecer por mais algum tempo nas Equipas de Clube Sub-23 ou, melhor hipótese, conseguir uma oportunidade no estrangeiro, os mais experientes dificilmente têm essa linha no horizonte. É um facto que Portugal importa corredores nesta faixa etária, mas também é um facto que, rara a excepção, não consegue exportar senão jovens ciclistas, tirando o caso de corredores que fazem parte do pelotão internacional há um ou mais anos.

Em 2013, o acréscimo de mais duas Equipas Continentais colmatou um pouco este problema, mas com a sempre referida crise em que o país parece cair mais profundamente, é uma incógnita saber se para o ano existirá um número igual de esquadras neste escalão. Relativamente às equipas sub-23, é notória a sua escassez. Apenas quatro. É um número muito reduzido para o talento que o país possui e que necessita ser valorizado interna e externamente. Talvez aí resida um ponto a ser trabalhado num futuro próximo... proporcionar condições aos Clubes de formarem Equipas Sub-23 para dar continuidade à formação que exercem com os seus jovens. Em consonância com este ponto, igualmente fundamental seria rever a regra UCI, que pode ter como consequência na realidade portuguesa o afastamento de grandes nomes do pelotão nacional, simplesmente porque as equipas têm de ser constituídas maioritariamente por corredores com idade inferior a 28 anos. 

Não se pode esquecer o facto das Equipas Continentais terem sido criadas como parte integrante do projecto inicial do ProTour, a fim de serem equipas de formação. Tanto em Portugal como noutros países com recursos económicos mais deficitários, esta foi a forma encontrada para continuar a ter ciclismo profissional a baixo custo. Se no nosso país, como em França e Espanha, estas equipas estão regulamentadas, na maioria continuam a ser equipas amadoras, porque têm as designadas Equipas Continentais Profissionais, para as quais é necessário dispor de condições financeiras que países como Portugal não têm, como é fácil adivinhar pela conjuntura económica em que vivemos. Relativamente às Equipas de Clube, essas sim de formação, deveriam ter um calendário próprio, a fim de disputar as provas de igual para igual e ter um crescimento mais sustentado enquanto atletas.

O pelotão nacional tem algo singular. Ao longo dos anos tem conseguido adaptar-se a todas as mudanças, boas ou más. No entanto, há que lutar pela melhoria das condições oferecidas aos ciclistas e não deixar de lado a preocupação quanto à sua continuidade na profissão que escolheram e que tudo fazem para enaltecer, tanto dentro do país como além-fronteiras. Há que promover a formação dos jovens e dar aos ciclistas profissionais a possibilidade de ter uma maior longevidade nas suas carreiras.

[Foto: 2ª etapa Troféu Joaquim Agostinho 2012]
(escrito em português de acordo com a antiga ortografia)

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