No final da época passada, o jornal desportivo O JOGO
intitulava um dos seus artigos no «Anuário de Ciclismo 2021»: “André Domingues tem muita
qualidade”. Natural de Pousos, Leiria, o ciclista de apenas 21 anos,
acabados de celebrar a 14 de Dezembro, viu-se arredado da competição desde o
final do mês de Janeiro de 2022, devido a problemas de saúde. André Domingues ainda conseguiu
estrear-se com as cores da ProTeam Burgos BH, mas na terceira prova do
Challenge de Mallorca, o Trofeo Andratx, não conseguiu resistir ao que o corpo
lhe pedia há muito tempo, para parar, acabando por desistir antes de chegar à
linha de meta.
Com o início de 2022, chegou o sonho de correr num nível
acima ao que pedalava em Portugal. A ProTeam espanhola Burgos BH abriu as
portas do sonho internacional a André
Domingues, após uma temporada de êxito na equipa continental Efapel, com a
qual venceu em 2021 a Volta a Portugal do Futuro, o Campeonato Nacional Rampa
Sub-23, a medalha de bronze no Campeonato Nacional de Fundo Sub-23, a camisola
da juventude no Grande Prémio Jornal de Notícias e no Grande Prémio Anicolor, vencendo
também neste último a camisola da montanha. Em termos de classificações gerais,
angariou o quarto lugar no Grande Prémio Anicolor, quinto no Campeonato
Nacional de Contra-relógio Sub-23, quinto na Clássica Viana do Castelo e oitavo
no Grande Prémio Jornal de Notícias.
O que prometia ser uma nova época desportiva ao mais alto
nível, e em provas internacionais nunca antes pedaladas, revelou-se um
autêntico calvário com muitas dúvidas na cabeça de André Domingues e poucas respostas por parte dos médicos. O Cycling
& Thoughts esteve à conversa com o jovem ciclista da Burgos BH para saber como tem vivido esta fase de incerteza.
Cycling &
Thoughts: Como surgiu a oportunidade de ingressar em 2022 na Burgos BH?
André Domingues: “O ano passado tive uma época muito feliz e antes da Volta a Portugal do Futuro, juntamente com o meu agente, surgiu a oportunidade. Um dos meus objectivos era sair de Portugal, porque ambiciono correr lá fora, e acabei por assinar contrato com a Burgos BH.”
C&T: Entretanto,
no início deste ano fizeste três corridas do Challenge de Mallorca, a última
das quais nem terminaste. O que aconteceu?
AD: “Exactamente, fiz três dias do Challenge. Foi um acumular. Já tinha tido os primeiros sintomas há bastante tempo, só que acabei por ignorá-los, porque as pessoas com quem tinha falado acerca disto disseram-me que seria só uma fase, nada de especial. Mesmo mais condicionado do que o habitual continuei a treinar com normalidade. Em Janeiro tive o estágio da equipa, treinei mais durante o estágio, e depois fui para o Challenge. Todas aquelas horas e a intensidade a mais fizeram com que piorasse de vez.”
C&T: Quais foram
os sintomas?
AD: “Principalmente cansaço e falta de força.”
C&T: Tiveste apoio
da equipa Burgos BH?
AD: “Sim, ao longo do ano. Acabei por ir a Espanha fazer exames e análises.”
C&T: Neste período,
a família foi bastante importante?
AD: “Muito mesmo. A família, a namorada [Leila Silva], os amigos. Não é fácil quando está tudo a correr bem e de repente começa a correr mal.”
C&T: Psicologicamente,
como lidaste com o facto de passar de grande promessa do ciclismo a não
conseguir correr?
AD: “Não foi nada fácil. Faz praticamente um ano que estou parado. No início não foi difícil, porque pensei que fosse só cansaço e que ia voltar rapidamente, uma questão de um ou dois meses. A fase mais difícil foi na altura do verão, porque o tempo passava e o problema não se resolvia. Saber que não posso sequer treinar, fazer a minha vida normal, muito menos competir, é muito difícil. Eu sempre ambicionei muito, trabalho para isso, e ver que não sou capaz de chegar aos meus objectivos, muito menos trabalhar para eles, não é fácil. Nestes últimos tempos acabei por me adaptar.”
C&T: O teu
percurso no ciclismo tem sido sempre em crescendo. Começaste com que idade?
AD: “Antes de ir para o ciclismo, jogava ténis há cerca de sete anos, mas estava um bocado cansado, porque não tinha características físicas para conseguir chegar mais longe. É preciso uma estatura mais alta e ser-se um pouco mais forte. Por isso, acabei por tomar a decisão de sair do ténis e ir para o BTT, onde comecei com 13 ou 14 anos. Creio que na altura, o meu pai [Alexandre Domingues] ainda era director na Federação e sempre esteve ligado à parte do BTT. O meu irmão, mais novo do que eu, também praticava BTT. Penso que corri dois ou três anos no BTT, mas também não era o que mais gostava. Entretanto, tive a oportunidade de fazer a Volta a Portugal de Cadetes e os Campeonatos Nacionais e, apesar da falta de jeito, gostei bastante. A partir daí decidi deixar o BTT e passar para a Estrada, na Escola de Ciclismo Bruno Neves.”
C&T: Foi com essa
equipa que ganhaste a Volta a Portugal de Juniores em 2019?
AD: “Exactamente.”
C&T: No ano
seguinte ingressaste na Kelly/InOutBuild/UD Oliveirense?
AD: “Sim, em 2020. Não foi um ano fácil, por causa da Covid-19. Houve poucas corridas e nunca me foi dada a oportunidade de correr e logo no meu primeiro ano [de Sub-23]. Eu sabia que tinha capacidade de fazer aquilo que fiz o ano passado [em 2021 na Efapel]. Não tudo, mas sabia que tinha qualidade. Garanto que, se me tivessem dado mais oportunidades na Kelly, também podia ter feito uma época muito interessante. Até porque no final dessa mesma época ganhei o Campeonato Nacional de Rampa Sub-23, com um bom tempo em comparação com os elites.”
C&T: Na Efapel
tiveste um ano de 2021 glorioso com a vitória da Volta a Portugal do Futuro e
novamente o Nacional de Rampa Sub-23.
AD: “Senti-me muito bem. Sempre trabalhei para alcançar o que alcancei o ano passado.”
C&T: Depois surgiu
a oportunidade de ir para Espanha.
AD: “Se fosse por amor ficava cá. Adoro correr em Portugal, mas aqui não existe um Tour de França, nem uma Vuelta ou um Giro. As oportunidades lá fora são outras.”
C&T: Por onde
passa o teu futuro?
AD: “Eu continuo com o vínculo com a Burgos BH. Contudo, vou fazer uma pausa competitiva até este problema de saúde estar resolvido e estar totalmente recuperado. Assim que recuperar, voltarei!”
C&T: Em relação à
recuperação, os médicos já conseguiram colocar um prazo?
AD: “Mais ou menos. Os médicos já têm algumas suspeitas do que possa ser, mas não têm um diagnóstico final.”
C&T: Podemos contar
com o regresso de André Domingues à estrada?
AD: “Espero que sim! Às vezes, é complicado continuar a acreditar. A qualidade continua aqui, só preciso que isto se resolva. Passou praticamente um ano e ainda não está resolvido. Continuo a acreditar que vai ficar tudo bem e, quando isso acontecer, garanto que voltarei a cem por cento.”
André Domingues no Challenge de Mallorca (foto: Álvaro García) |
André Domingues: “O ano passado tive uma época muito feliz e antes da Volta a Portugal do Futuro, juntamente com o meu agente, surgiu a oportunidade. Um dos meus objectivos era sair de Portugal, porque ambiciono correr lá fora, e acabei por assinar contrato com a Burgos BH.”
AD: “Exactamente, fiz três dias do Challenge. Foi um acumular. Já tinha tido os primeiros sintomas há bastante tempo, só que acabei por ignorá-los, porque as pessoas com quem tinha falado acerca disto disseram-me que seria só uma fase, nada de especial. Mesmo mais condicionado do que o habitual continuei a treinar com normalidade. Em Janeiro tive o estágio da equipa, treinei mais durante o estágio, e depois fui para o Challenge. Todas aquelas horas e a intensidade a mais fizeram com que piorasse de vez.”
AD: “Principalmente cansaço e falta de força.”
AD: “Sim, ao longo do ano. Acabei por ir a Espanha fazer exames e análises.”
AD: “Muito mesmo. A família, a namorada [Leila Silva], os amigos. Não é fácil quando está tudo a correr bem e de repente começa a correr mal.”
AD: “Não foi nada fácil. Faz praticamente um ano que estou parado. No início não foi difícil, porque pensei que fosse só cansaço e que ia voltar rapidamente, uma questão de um ou dois meses. A fase mais difícil foi na altura do verão, porque o tempo passava e o problema não se resolvia. Saber que não posso sequer treinar, fazer a minha vida normal, muito menos competir, é muito difícil. Eu sempre ambicionei muito, trabalho para isso, e ver que não sou capaz de chegar aos meus objectivos, muito menos trabalhar para eles, não é fácil. Nestes últimos tempos acabei por me adaptar.”
AD: “Antes de ir para o ciclismo, jogava ténis há cerca de sete anos, mas estava um bocado cansado, porque não tinha características físicas para conseguir chegar mais longe. É preciso uma estatura mais alta e ser-se um pouco mais forte. Por isso, acabei por tomar a decisão de sair do ténis e ir para o BTT, onde comecei com 13 ou 14 anos. Creio que na altura, o meu pai [Alexandre Domingues] ainda era director na Federação e sempre esteve ligado à parte do BTT. O meu irmão, mais novo do que eu, também praticava BTT. Penso que corri dois ou três anos no BTT, mas também não era o que mais gostava. Entretanto, tive a oportunidade de fazer a Volta a Portugal de Cadetes e os Campeonatos Nacionais e, apesar da falta de jeito, gostei bastante. A partir daí decidi deixar o BTT e passar para a Estrada, na Escola de Ciclismo Bruno Neves.”
AD: “Exactamente.”
AD: “Sim, em 2020. Não foi um ano fácil, por causa da Covid-19. Houve poucas corridas e nunca me foi dada a oportunidade de correr e logo no meu primeiro ano [de Sub-23]. Eu sabia que tinha capacidade de fazer aquilo que fiz o ano passado [em 2021 na Efapel]. Não tudo, mas sabia que tinha qualidade. Garanto que, se me tivessem dado mais oportunidades na Kelly, também podia ter feito uma época muito interessante. Até porque no final dessa mesma época ganhei o Campeonato Nacional de Rampa Sub-23, com um bom tempo em comparação com os elites.”
AD: “Senti-me muito bem. Sempre trabalhei para alcançar o que alcancei o ano passado.”
André Domingues no final do Troféu Joaquim Agostinho 2021 com o seu então director-desportivo Rúben Pereira e o mecânico Joaquim Carvalho (foto: Helena Dias) |
AD: “Se fosse por amor ficava cá. Adoro correr em Portugal, mas aqui não existe um Tour de França, nem uma Vuelta ou um Giro. As oportunidades lá fora são outras.”
AD: “Eu continuo com o vínculo com a Burgos BH. Contudo, vou fazer uma pausa competitiva até este problema de saúde estar resolvido e estar totalmente recuperado. Assim que recuperar, voltarei!”
AD: “Mais ou menos. Os médicos já têm algumas suspeitas do que possa ser, mas não têm um diagnóstico final.”
AD: “Espero que sim! Às vezes, é complicado continuar a acreditar. A qualidade continua aqui, só preciso que isto se resolva. Passou praticamente um ano e ainda não está resolvido. Continuo a acreditar que vai ficar tudo bem e, quando isso acontecer, garanto que voltarei a cem por cento.”
Comentários
Enviar um comentário