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Mariana Líbano na Soltec Team em 2023: “Gostava de fazer a Vuelta, é uma corrida com que sempre sonhei”

Aos 18 anos de idade, ainda no escalão júnior, Mariana Líbano tornou-se num dos nomes mais sonantes do pelotão português feminino. Esta época, na vertente de Estrada correu pela VeloPerformance/JS Campinense sagrando-se vencedora da primeira edição da Volta a Portugal Feminina Sub-19, campeã nacional de contra-relógio, vice-campeã nacional de fundo e foi segunda na Taça de Portugal. Na vertente de BTT correu pela equipa Guilhabreu BTT e sagrou-se campeã nacional de XCO (cross country olímpico) e XCC (cross country curto), conquistou a Taça de Portugal de XCO e com a Selecção Nacional triunfou na prova Superprestígio em Caparroso, Espanha.
 
O Cycling & Thoughts entrevistou Mariana Líbano, que em 2023, naquele que será o seu primeiro ano de sub-23, ruma ao pelotão internacional pela equipa continental espanhola Soltec.
 
Mariana Líbano na performance que a levou ao título nacional de contra-relógio em 2022 (foto: Helena Dias)

Cycling & Thoughts: Esta foi a tua melhor época de sempre?
Mariana Líbano: “Penso que todas as épocas foram boas, porque aprendi sempre e não contam só os resultados. É mais importante criar amizades e aprender com várias pessoas, talvez muito mais importante do que os resultados.”
 
C&T: Começaste no ciclismo com que idade?
ML: “Comecei com sete anos numa equipa de BTT, porque não sabia andar de bicicleta. Um workshop foi à minha escola, a minha mãe conhecia o dono da equipa ADSL e falaram sobre ninguém conseguir pôr-me a andar de bicicleta. Depois fui até à escola de ciclismo, fiz alguns amigos e continuei lá, porque tinha um bom ambiente.”
 
C&T: O que é que te atrai nas vertentes de BTT – XCO e XCC?
ML: “Adoro fazer XCO pela adrenalina e porque sempre que treino não é como um treino obrigatório. Vou para as descidas com amigos e treino apenas técnica. Os treinos de séries e os mais exigentes faço em Estrada. Mas gosto de ambas as vertentes.”
 
C&T: Vais continuar a apostar nas duas vertentes?
ML: “Não, no próximo ano quero focar-me mais em Estrada. Não sei se posso dizer que aprendi a gostar mais de Estrada, mas sinto que gosto mais de fazer esses treinos exigentes, nas montanhas que tenho perto de casa.”
 
C&T: És uma das pioneiras da Volta a Portugal Feminina. Terminaste a primeira edição de 2021 no 10.º lugar. Em 2022, acabaste a última etapa a chorar. O que aconteceu?
ML: Foi uma etapa difícil. Tinha tido um mau dia na etapa anterior, porque não me alimentei bem, e estava com esperança que o último dia corresse bem. Era o circuito do Europeu e eu tinha trauma com o Europeu de 2021, que não me correu bem, e estava com receio de fazer aquele circuito. Queria mostrar que estava bem para disputar o Europeu. Estava bem mentalmente, só que a bicicleta decidiu não colaborar comigo. Não parti o desviador nem nada, apenas deixou de funcionar. Depois (da Volta) tive de mudar todos os componentes da bicicleta. Sempre que tentava pedalar, aquilo bloqueava. Tive a ajuda do professor (José Luís) Algarra e do mecânico da Selecção, que ainda tentaram resolver e consegui fazer mais meia volta, só que depois bloqueou de novo e não dava para pedalar. Emprestaram-me uma bicicleta, que não estava adaptada ao meu tamanho, mas para mim estava óptima para poder acabar a corrida. Sinceramente, nem sei como me deixaram continuar na corrida, porque quando me deram a bicicleta eu estava atrás da ambulância. Tive de passar a ambulância e consegui chegar dois grupos à frente. Quando estava mesmo a chegar à meta, a corrente daquela bicicleta saiu, não entrava e tive de passar a meta a correr. Não foi de todo um resultado para o qual trabalhei. Acho que foi por isso que chorei. Foi o calor do momento.”
 
Mariana Líbano em lágrimas no fecho da Volta a Portugal Feminina de Elites 2022 (foto: Helena Dias)

C&T: Depois passa-se exactamente o contrário na primeira edição da Volta a Portugal Feminina Sub-19, a qual terminas a sorrir com a vitória da camisola amarela.
ML: “Na Volta Sub-19 senti que foi tudo muito mais… não sei se tranquilo é a melhor palavra para descrever, mas como eram ciclistas da minha idade a competir comigo, estava mais adaptada ao ambiente e não foi tão stressante. Como sempre, houve um bom convívio na minha equipa, sempre nos demos todas bem, foi óptimo. No hotel estávamos sempre tranquilas e só quando chegávamos à hora da corrida é que decidíamos o que fazer na etapa e trabalhávamos umas para as outras.”
 
C&T: O que significou ser a primeira vencedora da Volta a Portugal Feminina Sub-19?
ML: “Acho que ainda não tenho palavras para descrever qual foi o sentimento. Ainda passou muito pouco tempo para dizer, mas foi óptimo. Fiquei muito feliz.”
 
C&T: Quais as maiores diferenças entre a Volta a Portugal Feminina das Elites e a das Sub-19?
ML: “São corridas muito diferentes. Na Volta das Elites o ritmo foi de Campeonato da Europa, aquilo partiu-se sempre a fundo e não importava quem ficava para trás, o que importava era levar a etapa de uma forma não tranquila. Toda a gente tinha de sofrer, tanto as ciclistas que iam na frente como as que iam atrás. Na Volta das Sub-19 senti que foi muito mais tranquila, ninguém tentava muitos ataques. Eram quase sempre as mesmas a atacar e só tentavam mesmo nos prémios de montanha e metas volantes.”
 
C&T: Como surgiu a oportunidade de ingressar na equipa espanhola Soltec?
ML: “A equipa entrou em contacto comigo. Na altura fiquei muito feliz, porque estava quase em desespero por não arranjar uma boa equipa no estrangeiro. Já tinha conhecimento desta equipa, por causa da Sofia (Gomes) e também porque eles tinham feito a Vuelta e tinham a actual campeã olímpica (Anna Kiesenhofer). Fiquei muito contente quando falaram comigo. Ainda contactei com outras equipas, mas decidi ficar na Soltec, porque têm sido pessoas espectaculares e sinto que vai ser uma óptima época, mas muito dura. Ainda tenho muito para aprender e eles têm muito para me ensinar. Acho que vai ser uma boa relação de entreajuda entre colegas de equipa e directores. Espero adaptar-me bem à língua e à comida, entre outros aspectos.”
 
C&T: É um ponto positivo ter outra ciclista portuguesa na equipa, a Sofia Gomes?
ML: “Sim, fiquei muito feliz quando soube que a Sofia também ia estar na equipa. Aliás, nós em conversa soubemos antes de ser oficial, porque estávamos em dúvida sobre assinar e acabámos por descobrir que ambas estávamos na equipa. Ficámos muito contentes, porque tínhamos passado muito tempo juntas e temo-nos dado sempre muito bem.”
 
C&T: Que corridas esperas realizar?
ML: “Nós já temos um calendário, mas não temos as convocatórias. Sei que vou ter a minha primeira corrida no dia 29 de Janeiro, em Almeria (Women Cycling Pro Costa de Almería). Gostava de fazer a Vuelta, é uma corrida com que sempre sonhei, mas não sei se é bom fazê-la no meu primeiro ano de sub-23.”
 
C&T: Temos cada vez mais equipas estrangeiras a contratar ciclistas portuguesas. É possível chegarem ao WorldTour?
ML: “Acho que ainda falta alguma ambição em Portugal, mas é possível. Temos de ser incentivadas não só pela Selecção, que tem feito um óptimo trabalho, mas também pelos directores das equipas. Temos potencial, só temos de ser ambiciosas e disciplinadas.”
 
C&T: É possível o surgimento de equipas continentais femininas em Portugal?
ML: “Num futuro próximo é muito difícil termos uma equipa continental feminina em Portugal, devido à falta de patrocinadores e também pelo que tem vindo a acontecer no ciclismo português. Ou seja, não é problema das atletas femininas, mas sim de arranjar quem apoie e suporte uma equipa continental. No entanto, a qualidade está cá e pode ser possível, mas num futuro próximo é muito difícil.”

Mariana Líbano conquistou o título nacional de contra-relógio em 2022 (foto: Helena Dias)


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