Avançar para o conteúdo principal

Entrevista a Rúben Guerreiro: “Temos ciclistas muito fortes para ganhar qualquer corrida”


Pela segunda vez na sua carreira, Rúben Guerreiro vive o sonho americano. Em sub-23, entrou para o pelotão internacional pela porta da norte-americana Axeon Hagens Berman e, em 2020, assinou contrato por dois anos com a EF Pro Cycling, a terceira equipa do escalão WorldTour com maior número de vitórias esta temporada. O corredor de 25 anos falou connosco sobre a carreira no mais alto escalão do ciclismo profissional, o momento actual de paragem das competições, como mantém a forma física e o delinear de novos objectivos.

Este é o quarto ano no WorldTour. Como descreves o percurso traçado até ao momento?

“Estes últimos três anos foram positivos, com altos e baixos, mas o mais importante é que tenho vindo a evoluir de ano para ano e sinto que o continuo a fazer.”

Trek-Segafredo, Katusha-Alpecin e actualmente na EF Pro Cycling, o que tens aprendido ao integrar esquadras tão importantes do pelotão internacional?

“Todos os anos foram diferentes. Passei dois anos na Trek com alguns problemas físicos e não consegui atingir o meu maior nível. Aprendi a correr com grandes líderes e a ganhar experiência, tinha as minhas oportunidades, mas queria fazer uma Grande Volta. Depois ingressei na Katusha com objectivo de ter mais liberdade. O ano acabou por correr bem, com a boa forma na segunda parte da época. A equipa não estava bem, mas estava muito focado e as coisas saíram. Foram duas equipas importantes para mim, ajudaram-me a crescer como ciclista e como pessoa.”

Qual o momento que mais te marcou nestes anos no WorldTour?

“O momento que mais me marcou nestes últimos três anos foi, sem dúvida, a realização de uma Grande Volta, a Volta a Espanha. Foi um grande desafio com as três semanas de competição. Estava muito expectante para saber como é que o meu corpo iria reagir a tanta carga física e psicológica, acabou por correr bem e foi a corrida que mais gostei de fazer até hoje.”

Vens de um bom ano de 2019, no qual estiveste perto de vencer uma etapa na tua primeira grande volta, a Vuelta a España, na qual terminaste em 17º da geral. Que recordações mais fortes tens dessa Vuelta?

“Tinha o objectivo de ganhar uma etapa e queria mesmo muito fazê-lo. Então, praticamente todos os dias partia para a desejada etapa e assim ficaram muito boas memórias, mas a etapa que não vou esquecer é a sétima, a que fiquei em quarto lugar. Nesse dia fiz de tudo para ganhar, atacava por todos os lados e arrisquei muito no piso molhado, estava com muita confiança. No final, perdi por muito pouco e fiquei com uma ‘espinha cravada na garganta’.”

Começaste a época de 2020 em França, no Tour de La Provence. Como correu?

“Foi uma corrida de preparação para mim. Treinei muito bem no inverno, mas não estava com ritmo competitivo. Estive ao serviço da equipa desde o primeiro dia, mas mesmo assim fiquei satisfeito com as sensações que tive de dia para dia, principalmente na exigente chegada ao Mont Ventoux.”

Agora a competição encontra-se parada. Como estás a ver toda a situação do novo coronavírus?

“É uma situação difícil para todos. Sentimos falta das corridas, mas a saúde de todos é, sem dúvida, o mais importante.”

Acreditas que se irá realizar alguma das três Grandes Voltas ou as principais Clássicas do WorldTour?

“Neste momento, realmente não sabemos o que vai acontecer. Para bem do ciclismo era importante que se realizassem. Esperamos voltar a correr o mais rápido possível, mas só quando for seguro para todos.”

Como é o teu dia-a-dia? Como manténs a forma física?

“Aqui em Portugal ainda nos é permitido treinar na rua, mas estou a tentar fazê-lo o mínimo possível e o máximo de tempo nos rolos. Tenho feito muito trabalho de força e estou mais focado noutros temas como a nutrição, alongamentos, mobilidade, coisas que nem sempre tenho muito tempo para fazer durante a época.”

Que expectativas/objectivos manténs para este ano?

“Com este problema, não consigo sequer pensar nos objectivos em corridas, porque não sabemos se vão realizar-se. Vou cuidar-me ao máximo e trabalhar a minha condição física para quando tudo recomeçar novamente e aí sim traçar objectivos.”

Tens contrato de dois anos com a EF Pro Cycling. O que gostarias mais de alcançar com a equipa americana?

“Ainda é tudo novo para mim. Só fiz uma corrida e dois estágios. As primeiras impressões são muito boas, é uma estrutura muito bem organizada e pensada. Temos ciclistas muito fortes para ganhar qualquer corrida do calendário, tal como aconteceu no início do ano. Somos das equipas com maior número de vitórias.”

Rúben Guerreiro (© Equipa EF Pro Cycling)


 -----English Version-----

Interview with Rúben Guerreiro: “We have very strong riders to win any race”

For the second time in his career, Rúben Guerreiro is living the American dream. In U23 he entered the international peloton by the door of the American Axeon Hagens Berman and in 2020 he signed a two-year contract with EF Pro Cycling, the third team in the WorldTour with the highest number of victories this season. The 25-year-old rider spoke to us about his career at the highest level of professional cycling, the non-competition current situation, how he maintains his form and the outlining of new goals.

This is your fourth year at the WorldTour. How do you describe your career so far?

“These last three years have been positive, with ups and downs but the most important thing is that I have been evolving from year to year and I feel that I continue to do it.”

Trek-Segafredo, Katusha-Alpecin and currently at EF Pro Cycling, what have you learned from integrating such important squads in the international peloton?

“Every year was different. I spent two years in Trek with some physical problems and I couldn't reach my highest level. I learned to ride with great leaders and to gain experience. I had my opportunities but I wanted to ride a Grand Tour. Then I joined Katusha with the objective to have more freedom. The year went well with good form in the second part of the season. The team wasn’t going well but I was very focused and things went well. They were two important teams for me, which helped me to grow as a cyclist and as a person.”

What was the most remarkable moment for you these years at the WorldTour?

“The most remarkable moment in the last three years was undoubtedly riding a Grand Tour, the Vuelta a España. It was a great challenge with three weeks of competition. I was very expectant to know how my body would react to such a physical and psychological demand. It ended up going well and it was the race I most enjoyed doing until today.”

You are coming from a good 2019 year, in which you were close to winning a stage in your first Grand Tour, the Vuelta a España, which you finished 17th in the overall. What strongest memorie do you have of that Vuelta?

“I had the objective of winning a stage and I really wanted to do it. So basically I went every day to the desired stage and I only have good memories, but the stage that I will not forget is the 7th, the one that was in 4th place. That day I did everything to win, I attacked from all sides and I took a chance on the wet floor, I was very confident. In the end, I lost for almost nothing and I stayed with a ‘thorn in my side’.”

 You started the 2020 season in France at the Tour de La Provence. How did it go?

“It was a training race for me. I trained very well in the winter but I had no competitive rythm. I was working for the team since the first day, but even so I was satisfied with the sensations I had from day to day, mainly in the demanding arrival at the Mont Ventoux.”

The competition is now stopped. How are you seeing the whole situation of the new coronavirus?

“It’s a difficult situation for everyone. We miss the races, but everyone's health is undoubtedly the most important.”

Do you believe that any of the three Grand Tours or the main Classics of the WorldTour will take place?

“At this moment we don't really know what’s going to happen. For the sake of cycling it would be important that they took place. We hope to ride again as soon as possible, but only when it is safe for everyone.”

How did your day changed with this new reality? How do you maintain your physical shape?

“Here in Portugal we are still allowed to train on the road, but I am trying to do it as minimal as possible, and the maximum time on rollers. I've been doing a lot of strength work and I'm more focused on other topics like nutrition, stretching, mobility, things I don't always have much time to do during the season.”

What expectations/goals do you maintain for this year?

“With this problem I can't even think about the goals in races, because we don't know if they will take place. I will take care of myself to the maximum and work on my physical condition for when everything starts over again and then set goals.”

You have a two year contract with EF Pro Cycling. What would you like the most to achieve with the American team?

“This is all new for me. I only did one race and two training camps with the team. The first impressions are very good, it’s a very well organized and thought out structure. We have very strong riders to win any race of the calendar as it happened at the beginning of the year. We are one of the most winning teams by now.”


Comentários

Artigos Mais Lidos

Apresentação Liberty Seguros/Feira/KTM 2014

Esta quinta-feira, a Biblioteca Municipal de Sta. Maria da Feira recebeu a apresentação do 6º GP Liberty Seguros/Volta às Terras de Sta. Maria e das equipas de formação Liberty Seguros/Feira/KTM do Sport Ciclismo S. João de Ver. Entre as personalidades presentes destacaram-se os patrocinadores das equipas, nomeadamente a Liberty Seguros, a KTM e a Câmara Municipal de Sta. Maria da Feira. Também não faltaram antigos corredores da casa, actualmente a pedalar no pelotão profissional nacional, entre outros o campeão nacional Joni Brandão, César Fonte, Edgar Pinto, Frederico Figueiredo, Mário Costa, Rafael Silva e o internacional André Cardoso. Nem o campeão do mundo Rui Costa faltou à chamada de um dos directores desportivos mais acarinhados no país, Manuel Correia, deixando em vídeo uma mensagem sentida de agradecimento pelo seu percurso e aprendizagem no clube. Precisamente de Manuel Correia surgiu o momento mais marcante da cerimónia, aquando do seu anúncio de fim de ciclo

Os velódromos de Portugal

Velódromo de Palhavã (© Arquivo Municipal de Lisboa) Em Portugal, o ciclismo já foi considerado o desporto da moda entre as elites. Para chegarmos a esse momento da história, temos de recuar ao tempo da monarquia, até finais do século XIX, para encontrar o primeiro velódromo em território nacional, o Velódromo do Clube de Caçadores do Porto , na Quinta de Salgueiros, não sendo a sua data totalmente precisa, já que a informação a seu respeito é muito escassa. Em alguns relatos, a sua inauguração data de 1883, enquanto noutros data de 1893.

Entrevista a Isabel Fernandes: “África leva-nos a colocar em causa as nossas prioridades de Primeiro Mundo”

O ciclismo apareceu na vida profissional de Isabel Fernandes em 1987 para não mais sair. De comissária estagiária em 1989, chegou ao patamar de comissária internacional dez anos depois, realizando diversas funções na modalidade ao longo dos anos, nomeadamente intérprete e relações públicas de equipas, membro da APCP (Associação Portuguesa de Ciclistas Profissionais) e da organização de várias provas como os Campeonatos da Europa e do Mundo, em Lisboa.