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Como os corredores mais jovens estão a lidar com a pandemia



Para alguns dos corredores do pelotão nacional, 2020 marca um importante momento nas suas vidas profissionais. Este é o ano de estreia no pelotão profissional, ao ingressarem em equipas do escalão continental. No entanto, aquela que deveria ser uma época de realização de um sonho transformou-se numa época repleta de dúvidas com o surgimento do novo coronavírus. A COVID-19 e, mais recentemente, a declaração de Estado de Emergência em Portugal levaram a mudanças de hábitos e de rotinas de todas as pessoas e os corredores não são uma excepção.

Por essa razão, quisemos ouvir os mais jovens das equipas continentais lusas, nomeadamente os seis corredores nascidos no ano de 2001 e que se estrearam esta época no pelotão profissional. Afonso Eulálio (Feirense), André Domingues (Kelly/InOutbuild/UDO), Diogo Almeida (Efapel), João Macedo (LA Alumínios/LA Sport), Pedro Silva (Rádio Popular-Boavista) e Rafael Gouveia (LA Alumínios/LA Sport) responderam às seguintes questões:

1- Como estás a lidar com a nova realidade causada pela pandemia COVID-19?
2- Em que zona do país te encontras e como estão as pessoas a viver esta situação?
3- Tens mantido a rotina dos treinos, como os realizas?
4- Esta é a tua primeira época numa equipa profissional. Quais eram as tuas expectativas/objectivos para este ano, mudaram com o surgimento do novo coronavírus?


AFONSO EULÁLIO (Feirense)

1- “Ainda me encontro a estudar e, apesar de a escola ter fechado, continuo a ter aulas em casa.
É totalmente diferente do que estou habituado e acabo por passar um dia inteiro em frente ao computador a fazer trabalhos. Posso dizer que tenho mais trabalho agora do que quando tinha aulas na escola.”

2- “Vivo numa aldeia nos arredores da Figueira da Foz e há cerca de uma semana as pessoas viviam normalmente a sua vida. Penso que só agora, que o número de infectados aumentou bastante e apareceram os primeiros casos de mortes, as pessoas acabaram por ganhar medo e penso até que andam ‘descontroladas’. Claro que estamos a viver um momento bastante difícil com a probabilidade de vir a piorar.”

3- “Neste momento, estou com uma lesão no joelho e andava maioritariamente a fazer algum trabalho de ‘core’ para não ficar com uma vida sedentária nem parar por completo. Agora vai ser mais difícil a recuperação, pois muitos sítios encontram-se fechados e com outras prioridades.”

4- “Na minha primeira época numa equipa profissional, tinha como objectivo maioritário ganhar experiência, pois sou um menino ao lado de muitos ciclistas, que lá andam há alguns anos, e também só em júnior de 2° ano fiz uma época a correr em Estrada. Além de ganhar experiência, gostava de poder conseguir integrar algumas fugas. É totalmente diferente fazer uma prova na fuga e no pelotão. Contudo, os objetivos acabaram por mudar um pouco, pois não se sabe ao certo quando tudo isto irá acabar e não há um objectivo ao certo para o qual treinar, acabando por se perder de certa forma a motivação.”
 
Afonso Eulálio

ANDRÉ DOMINGUES (Kelly/InOutbuild/UDO)

1- “De facto, a COVID-19 demonstrou ser um vírus bastante perigoso e há que ter sempre cuidado. Evito sair de casa e só o faço mesmo para treinar, sempre sozinho e evitando parar, por exemplo, em cafés, etc.”

2- “Na minha zona, em Leiria, acho que as pessoas ainda não perceberam o perigo. Digo isto, porque se olhar pela janela há sempre gente na rua, se bem que cada vez menos, e também porque até agora não tinha sido identificado nenhum caso cá, só mesmo hoje numa zona aqui perto de Leiria.”

3- “Sim, treino de forma igual, mas com alguma precaução.”

4- “Até agora, apesar de apenas ter realizado duas corridas, está tudo a correr bem. Relativamente aos meus objectivos, eles mantêm-se: tentar evoluir e aprender ao máximo. Os resultados são uma consequência. Claro que fico triste por não ter corridas para mostrar o meu valor, mas não fico desmotivado. Aliás, é uma boa oportunidade para treinar e estar ainda melhor preparado para as futuras corridas.”
 
André Domingues

DIOGO ALMEIDA (Efapel)

1- “Esta pandemia COVID-19 deixa qualquer pessoa insegura, nunca imaginei que o vírus tomasse estas dimensões.”

2- “Sou de Famalicão e, ao que me parece, a população está a seguir as recomendações dadas para que possamos voltar ao normal.”

3- “Tive que fazer algumas alterações na minha rotina de treinos optando pela realização de treinos nos rolos.”

4- “Estando numa equipa profissional, olhava para esta época com o intuito de obter mais conhecimento e com o objectivo de chegar na melhor forma aos Nacionais e à Volta a Portugal do Futuro, mas com a situação que se está a desenvolver no mundo, estes objectivos ficam suspensos, devido a não sabermos quando voltamos a competir.”
 
Diogo Almeida

JOÃO MACEDO (LA Alumínios/LA Sport)

1- “Estou a tentar manter a rotina que tinha antes como acordar à hora normal, manter o cuidado com a alimentação, aproveitar o tempo livre para fazer treino funcional e, acima de tudo, sair o menos possível de casa para evitar ser contagiado.”

2- “Vivo na zona de Coruche, em pleno Ribatejo, o que ainda me permite fazer alguma actividade física ao ar livre sem estar em contacto com ninguém. Aqui, no início destas medidas de quarentena, as pessoas não deram muita importância, mas com o passar dos dias têm vindo a tomar medidas e não se vê praticamente ninguém na rua.”

3-Apesar de tentar manter a rotina, ela é um pouco alterada, devido ao treino ser praticamente todo feito no rolo em casa, o que requer um pouco menos de tempo de duração. Se tiver um treino um pouco mais longo, opto por dividi-lo em duas partes, uma de manhã e outra de tarde. Nos dias de menor intensidade, opto por também fazer uma caminhada de curta duração quando possível.”

4 – “Num primeiro ano como profissional, acho que ninguém consegue saber bem até onde pode ir. Resta-me tentar evoluir de dia para dia, aprender com os mais experientes e deixar as coisas acontecerem com a sua naturalidade. Confesso que, quanto a objectivos, depois dos resultados da equipa o ano passado na Volta a Portugal do Futuro e eu não ter alinhado para a Volta a Portugal de Juniores por estar doente, este ano seria um bom resultado finalizar no pódio no meu primeiro ano de sub-23. Mesmo sabendo que esta pausa atípica a meio da época irá mudar algumas coisas, quando regressarmos à estrada não haverá grandes surpresas e os candidatos continuarão a ser os mesmos.”
 
João Macedo

PEDRO SILVA (Rádio Popular-Boavista)

1- “Esta é uma situação delicada. Tem sido bastante complicado e cansativo, devido à epidemia que se instalou e acabou por quebrar a minha rotina.”

2- “Vivo no norte do país, onde infelizmente o número de casos é o mais elevado. Em relação às pessoas com quem convivo diariamente, tentamos evitar o contacto e tento promover boas práticas como a higiene das mãos.”

3- “A única coisa que não se alterou foi a minha rotina dos treinos, sofreu sim umas ligeiras modificações. Agora treino sozinho ou faço rolos e voltei a fazer ginásio, este improvisado.”

4- “As minhas expectativas para este ano passavam por tentar ser o mais regular possível e ajudar os meus colegas de equipa. Agora, com esta situação, não sei como será o meu calendário, mas o objetivo passa sempre por dar o meu melhor em cada corrida em prol da equipa.”
 
Pedro Silva

RAFAEL GOUVEIA (LA Alumínios/LA Sport)

1- “Em relação à COVID-19, estou a lidar razoavelmente bem, tomando as devidas precauções.”

2- “Encontro-me na zona do Seixal. Em relação a como as pessoas vivem esta situação, não tenho grande informação, uma vez que não tenho tido contacto com ninguém.”

3- “Tenho mantido a rotina dos treinos, treinando essencialmente sozinho ou, por vezes, acompanhado com um atleta.”

4- “Os meus objectivos para este ano passavam por ganhar o máximo de experiência possível e ajudar a equipa ao máximo. Como é evidente, o aparecimento deste vírus tornou tudo mais difícil. Para além de algumas provas já terem sido anuladas, existem outras que forçosamente foram adiadas. Neste momento, espero que isto se resolva o mais rápido possível para que possamos continuar a nossa época sem qualquer problema.”
 
Rafael Gouveia

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