De ano para
ano, a paixão pelo ciclismo americano aumenta. Ciclistas, equipas, corridas...
tudo tem um je ne sais quoi que
cativa, emociona, empolga e faz vibrar de modo diferente. As emoções
experienciadas ao longo das corridas são brutais, de uma inigualável chama de
atracção, crescente edição após edição. Depois de se acompanhar estas provas
pela primeira vez, podemos afirmar que se fica viciado na forma despretensiosa
e descontraída de como são vividas, repetindo o ritual de acompanhar mais uma
edição, passem os anos que passarem.
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Amgen Tour of California (© Helena Dias) |
Apesar de nem
todas as competições serem possíveis de seguir através de imagens em directo, a
sua divulgação por escrito na rede social Twitter
e nos sites oficiais é realizada de modo tão cativante, quase nos levando a
sentir as mesmas sensações de quem está a vivê-las in loco, mesmo estando a milhares de quilómetros de distância da
luta no asfalto.
Apesar dessa
singularidade, todas têm a descontracção como ponto comum. Embora exista a
inevitável batalha pela vitória, não se sente a habitual tensão que se
experiencia nas corridas europeias, mas sim uma leveza no ambiente que envolve
o pelotão.
De todas
elas, uma arrebata o coração, não fosse ela intitulada de maior corrida
americana. Sem dúvida, o Amgen Tour of California é a corrida mais louca, bela
e cativante alguma vez vista. De edição para edição cresce a paixão pelo
percurso delineado e paisagens visitadas, pelo seu público sui generis e pelotão extremamente combativo e protagonista de
belíssimos espectáculos de ciclismo.
Das equipas WorldTour às formações Continentais
americanas, todas se batem na estrada com a mesma garra, do ciclista mais
consagrado ao jovem aspirante a brilhar em qualquer linha de meta. Neste ponto,
jamais esqueceremos as pedaladas de Jens Voigt, notável nas suas incansáveis e
emocionantes fugas pela glória, que conseguiu alcançar por duas vezes em etapas
na California, a última em Avila Beach em 2013, penúltimo ano como
profissional. Igualmente em fugas inesquecíveis, as performances do veterano
espanhol Francisco Mancebo (Skydive Dubai-Al Ahli Club), vencedor de uma etapa em Santa Rosa em 2009. E nos pedais lusitanos o carácter batalhador de Tiago Machado (Team Katusha), que nunca desiste por mais adversidades que enfrente e já chegou a brilhar em 4º e 9º da geral em 2014 e 2012 [27º CG em 2016].
De todas as vitórias
da camisola amarela Amgen, as duas últimas marcaram pela forma como o actual
campeão do mundo Peter Sagan (Tinkoff) demonstrou no terreno que era capaz de lutar
contra todas as probabilidades de não ser o vencedor final da edição de 2015 e o modo como Julian Alaphilippe (Etixx-Quick Step), em 2016, defendeu com unhas e dentes a sonhada camisola desde o final da terceira etapa, superando também ele expectativas no contra-relógio em Folsom e tornando-se no mais jovem vencedor do Amgen Tour of California, com 23 anos.
Das equipas americanas, sublinhamos o papel preponderante de garra e intervenção em fugas e em movimentos-chave de cada jornada, sobressaindo este ano em grande medida a Axeon Hagens
Berman, equipa com os ciclistas mais jovens do pelotão, três deles a finalizarem no pódio da juventude -Neilson Powless, Tao GeoGhegan Hart e o luso Rúben Guerreiro [13º CG em 2016].
Relativamente às paisagens californianas, elas conseguem pintar numa só etapa quadros do mais agreste e árido terreno até à
mais doce e verdejante floresta, de uma densidade digna de servir de cenário a
qualquer obra-prima de J. R. R. Tolkien. Definitivamente, queremos entrar pelo
ecrã e presenciar ao vivo toda esta envolvência. Nos terrenos planos assistimos
a sprints de suster a respiração desde a preparação dos companheiros até à derradeira pedalada de esforço por parte dos líderes mais velozes, culminando no êxtase da vitória. Em terrenos mais duros vivem-se reais
batalhas até ao limite das forças para derrubar impiedosos cumes como Mountain
High, Mount Baldi, o bem conhecido e dos mais apreciados pelo público Mount
Diablo ou a chegada emocionante de 2016 ao alto de Gibraltar Road, onde luziu Alaphilippe a vitória no cume da montanha.
Quanto ao
público nas estradas, dono de um 'frikismo' muito próprio, somente na
California podemos passar do Papa ao surfista, da matrafona aos capacetes com
chifres e outras tantas personagens, até à esvoaçante bandeira lado-a-lado dos corredores inspirando-os nas
mais duras subidas. Tudo é leve e original, trazendo à corrida ingredientes em
peso e quantidade certos para dar lugar a uma iguaria de requinte no mundo das
bicicletas. A somar a tudo isto, conta com a aplicação Tour Tracker, do melhor que já se inventou no ciclismo para o
acompanhamento mais completo possível de uma prova.
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Amgen Tour of California (© Helena Dias) |
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Amgen Tour of California (© Helena Dias) |
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Esta é a minha opinião e vale o que vale.Esta crónica transcreve de uma forma inteligente e apaixonada uma prova de ciclismo maravilhosa. Parabéns mesmo.
ResponderEliminarUm enorme e sincero obrigada pelas palavras, obrigada mesmo!
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