Para quem o
conhece de perto, Joni Brandão é descrito como um ganhador nato. Aos 25 anos, o
ciclista luso ganhou a liderança bicéfala da Efapel juntamente com o galego
Alejandro Marque na abordagem à Volta a Portugal. A dupla fechou em 2º e 3º da
geral, com Brandão a consolidar fortemente o título de possível vencedor nos
anos vindouros.
Joni Brandão é
um ciclista discreto aos olhares estranhos, mas flamejante na estrada.
Sobressai pela forma aguerrida e destemida com que se entrega às corridas, o
oposto ao ar reservado fora da bicicleta. Descrito por quem o conhece como
tendo um carácter forte e directo, reservado com quem não conhece, capaz de
virar o mundo do avesso se é alvo de algum atropelo injusto na sua profissão. Um
talento bruto para quem os êxitos alcançados não caíram do céu, mas foram sim
fruto de uma vontade própria bastante demarcada. Embora companheiro, esta forte
personalidade faz sobressair a essência de liderança que brota a cada pedalada.
Nem todos os ciclistas emanam esta força de líder, Joni Brandão transmite essa energia
mesmo à distância.
A Volta a
Portugal dá aos ciclistas uma dimensão totalmente diferente das restantes
provas. Por ser a rainha das competições nacionais, quem brilha no seu palco
converte-se numa estrela resplandecente do pelotão. Uma etapa conquistada a
duros golpes de pedal, uma combatividade enaltecida pela luta por uma fuga, a
abnegação do trabalho devotado à equipa ou a batalha diária pela vitória da
amarela são alguns dos factores que podem incendiar os olhares dos espectadores
perante um determinado corredor. Na 77ª edição, os olhares fixaram-se no 2º lugar
do pódio: Joni Brandão viu o factor da luta pela geral trazer sobre si uma
expectativa elevada.
O ano de 2011
marca a última vez que um português conquistou a prova mais importante do
calendário e, a cada ano que passa, a busca por um sucessor de Ricardo Mestre (Team
Tavira) na vitória da camisola amarela torna-se mais latejante no coração dos
portugueses. Os triunfos de Blanco, Marque e Veloso encerram em si um pedaço
lusitano, pois há muito que estes galegos arrebataram o coração dos fãs lusos
pela sua entrega ao ciclismo nacional. Contudo, a busca por um novo herói luso,
capaz de tomar para si a Volta, é incessante e Joni Brandão deixou na Volta de
2014 a notória promessa de ser capaz deste notável feito ao finalizar em 4º
numa edição em muito semelhante à de 2015, com Gustavo Veloso e a equipa de Sobrado
W52-Quinta da Lixa a mostrar-se imbatível perante os adversários.
Entre esses adversários,
Joni Brandão sobressaiu pelas excepcionais qualidades demonstradas na luta pela
geral. Os últimos anos têm revelado que para conquistar a Volta é necessário
unir dois factores cruciais: superar com brilhantismo as míticas jornadas de
montanha não descurando o papel relevante que o contra-relógio individual toma
na luta pelo lugar mais desejado do pódio.
Olhando às
duas últimas edições, a montanha correu-lhe de feição com o pódio sempre presente. No
Alto da Torre foi 2º em 2014 e 3º este ano. Na Sra. da Graça inverteu os lugares
sendo 3º no ano transacto e 2º em 2015, cruzando este ano a linha nos
calcanhares do companheiro de equipa Filipe Cardoso. Provou estar ao mais alto
nível na estreante Serra do Larouco ao finalizar em 2014 em 10º e este ano em 4º
lugar. Esteve ainda na discussão de mais etapas, mostrando que as jornadas
mais duras são o terreno propício para exibir as suas qualidades de trepador,
fazendo frente a investidas de adversários e apresentando fortes contra-ataques
que o levam à quase vitória na meta.
Contudo, os
últimos vencedores da Volta têm-se revelado exímios especialistas no outro
factor fundamental para a vitória da geral. O contra-relógio tem marcado o
tempo que distancia os corredores de chegarem ao almejado troféu. Longe de ser
a sua especialidade, Joni Brandão mostrou este ano uma vontade ainda maior de
querer anular esse factor desfavorável ao cumprimento do seu objectivo,
perdendo 1m24s para Gustavo Veloso em comparação aos 2m27s perdidos em 2014. Embora
contra-relógios diferentes, de quilometragem e terreno distinto, reflectiram no
jovem luso uma melhoria significativa quando o sonho da amarela está mais perto
de ser alcançado. Em 2015, o troféu ficou à distância de 2m12s, tempo que ditou
a distância do seu 2º lugar para Veloso na geral da Volta a Portugal.
Nunca como no
presente ano esteve tão próximo de alcançar a vitória mais ambicionada de todas
pelos ciclistas do pelotão nacional. Muitos pedalam uma vida inteira sem
conseguir tal feito. Joni Brandão impõe-se como um sério candidato, não só pelo
desempenho relevante nas recentes edições como também pelo trilho pedalado
desde as camadas mais jovens.
Formou-se em
São João de Ver e neste clube de Santa Maria da Feira começou a sentir o sabor
dos triunfos já em juvenil no ano de 2003. Mais tarde, ganhou em 2006 o Prémio
Revelação em juniores. De escalão em escalão foi tomando forma um ciclista com
qualidades de ganhador, luzindo em sub-23 o bronze nos Campeonatos Nacionais de
fundo de 2010, ano em que segurou o 2º lugar na Volta a Portugal do Futuro e viveu
a Volta a Portugal entre os profissionais pela Selecção Nacional. No ano
seguinte consolidou o trabalho de formação feito até então alcançando o brilho
da importante vitória na Volta a Portugal do Futuro, sendo novamente chamado à Selecção
para estar presente na Volta dos profissionais.
O valor era
indiscutível e do estrangeiro surgiu a oportunidade de correr na Burgos BH, saindo
de Portugal em 2012 para a equipa espanhola, uma experiência que recordamos não ter sido do seu total agrado, como nos disse Joni Brandão numa curta entrevista no início de 2013, ano de regresso ao pelotão nacional pela Efapel
onde permanece até aos dias de hoje. Na equipa continental lusitana já alcançou em 2013 o título de campeão nacional de fundo frente ao internacional Tiago Machado (Katusha), temporada na qual finalizou na
6ª posição o Tour de Azerbaidjan. Em 2014 voltou a estar em destaque nos
Nacionais sendo 5º na prova de fundo e de contra-relógio. Destacou-se ainda pelo referido 4º lugar na Volta a Portugal e também pelo 8º
lugar na Klasika Primavera Amorebieta.
Em 2015, afirmou-se
em diversas corridas: vencedor da Volta ao Alto Tâmega, 2º no Campeonato
Nacional de fundo, apenas superado por Rui Costa (Lampre-Merida), 2º na Volta a Portugal, 4º no Grande Prémio Jornal de
Notícias, 4º no Grande Prémio Beira Baixa, contando ainda a nível internacional
com o 8º lugar na Vuelta a Madrid e fechando o mês de Agosto no 3º lugar do
Ranking APCP Ciclista do Ano. O caminho de Joni Brandão tem sido pedalado de
forma consistente, revelando um forte potencial para rumar a uma equipa
internacional, quem sabe na próxima temporada.
Joni Brandão na Pista da Malveira (© Helena Dias) |
Joni Brandão no Circuito da Malveira (© Helena Dias) |
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(escrito em português de acordo com a
antiga ortografia)
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