O 97º Giro d’Itália viveu os seus três primeiros dias na Irlanda sob intensa chuva e
frio. O pelotão ansiava pela entrada em território italiano, o que sucedeu ao
quinto dia de prova, após o primeiro dia de descanso. Quanto à chuva… essa continuou
a acompanhar os heróis do asfalto, provocando a neutralização de uma etapa
quase por completo, várias quedas e múltiplos abandonos. Mas ninguém disse que
a Corsa Rosa ia ser fácil, nunca o
foi nas 96 edições anteriores.
Cadel Evans (Foto www.gazzetta.it/Giroditalia/2014/it) |
De sul
para norte, a ‘bota italiana’ começou a ser pedalada em Giovinazzo, local da partida
para os 112 km da 4ª etapa com chegada a Bari. Sem fugas nem ataques, sempre
compacto e com muita conversa à mistura, o pelotão decidiu neutralizar a
jornada pela perigosidade do asfalto molhado, chegando ao acordo possível com a
organização de apenas disputar a meta. Ainda assim, na preparação do sprint
final, as quedas sucederam-se mostrando que o pelotão tinha razão sobre as
condições de corrida. A vitória coube a Nacer Bouhanni (FDJ), a sua primeira
conquista no Giro e sem o adversário mais perigoso em prova. O vencedor de duas
etapas anteriores, Marcel Kittel (GIA), abandonava a prova ainda antes de cruzar
os céus rumo a Itália, devido a febre.
A maglia rosa permaneceu em Michael
Matthews (OGE), seguindo-se a primeira jornada de média montanha, que serviu
para medir o pulso -ou melhor, as pernas-, dos favoritos à geral. De Taranto a
Viggiano pedalaram-se 203 km com uma fuga de 11 corredores a terminar a 14 km
do final. Gianluca Brambilla (OPQ) ainda tentou abrilhantar o seu palmarés com
uma vitória numa grande volta, mas a Katusha de ‘Purito’ foi impiedosa na
perseguição, lucrando não o espanhol com o fim deste intento a 1,4 km do final,
mas sim Diego Ulissi (LAM), que a 200m saltou do grupo onde se mantinham os
favoritos para agarrar a vitória da 5ª etapa. Mostrando-se em plena forma,
Cadel Evans (BMC) cruzou em segundo a linha, buscando as bonificações. Matthews
(OGE) não tremeu e defendeu a liderança rosa por mais um dia.
Chegados
à 6ª etapa, mais um contratempo para ser resolvido. Em consequência de um
desmoronamento na localidade de Polla, os 247 km transformaram-se em 257 km,
fazendo desta a etapa mais longa do Giro, vivida em fuga até 12 km da meta por
Fedi (NRI), Bandiera (AND), Zardini (BAR) e Torres (COL). À partida de Sassano,
ninguém pensaria nesta etapa como sendo decisiva para alguns favoritos.
Precisamente antes da subida final da 2ª categoria de Montecassino, duas quedas
levaram inúmeros corredores ao solo e a maioria do pelotão a ficar atrasada,
destacando-se na frente um pequeno grupo com Evans (BMC) e o líder Matthews
(OGE). O favorito à geral terminou em terceiro, acedendo uma vez mais às
bonificações da meta. O maglia rosa
venceu a jornada, conservando uma vez mais a camisola tão desejada. A queda
tornar-se-ia decisiva para alguns corredores que abandonaram ainda nesse dia o
Giro, como o caso de, entre outros, Brajkovic (AST), Villella (CAN) e a Katusha
a ser devastada sem Caruso, Vicioso e o líder Joaquim Rodríguez. O sonho rosa
terminava assim para ‘Purito’.
Outros
continuavam no sonho rosa e na 7ª etapa Bouhanni (FDJ) foi novamente feliz na
meta, conquistando a sua segunda vitória na chegada a Foligno, depois de 211 km
pedalados desde a partida em Frosinone e batendo a concorrência renhida de
Nizzolo (TFR) e Mezgec (GIA). E Matthews (OGE)? Bem, continuava de rosa!
Novo dia
e a média montanha à espera do pelotão. A 8ª etapa levou os heróis de Foligno a
Montecopiolo, nada mais do que 179 km para Matthews (OGE) se despedir da maglia rosa e Cadel Evans (BMC) começar
a tornar o seu sonho realidade. De uma fuga inicial de 10 corredores, foi o
colombiano Arredondo (TFR) quem deu mais espectáculo neste dia, levando o seu
intento quase até ao final. Ainda passou as duas primeiras dificuldades do dia
na frente, Cippo Di Carpenga (km 143,4), por onde ‘Il Pirata’ Marco Pantani costumava
treinar, e Villaggio Del Lago (km 169,3). Ainda chegou à sua companhia Pierre
Rolland (EUC), mas o esforço de ambos acabou por ser inglório, pois do grupo
restrito do pelotão em perseguição sucederam-se os ataques nos últimos metros
da subida de Montecopiolo, com Diego Ulissi (LAM) a agarrar a segunda vitória
neste Giro e Evans (BMC) a assumir a liderança rosa.
Ainda
antes do segundo dia de descanso, o pelotão pedalou a 9ª etapa numa extensão de
172 km entre Lugo e a chegada à 2ª categoria de Sestola. Desta feita, da
numerosa fuga inicial de 13 corredores, a valentia maior coube a Pieter Weening
(OGE) e Davide Malacarne (EUC). A dupla conseguiu levar a bom porto o sonho da
fuga, logrando a vitória o holandês Weening, terminando em seguida o italiano
Malacarne. Entre o grupo dos favoritos, já sem ‘Purito’ (KAT) na batalha rosa,
destacou-se o ‘pequeno’ italiano Domenico Pozzovivo (ALM), pedalando um ataque
glorioso na última ascensão do dia, levando-o a escalar vários lugares na
geral, do 10º para o 4º lugar.
Terminada
a primeira fase do Giro, há que louvar a actuação da Orica-GreenEdge, que guardou por vários dias a liderança de Michael Matthews, o qual ainda venceu uma etapa a par de Weening, não esquecendo o triunfo do contra-relógio colectivo inicial. Cadel Evans (BMC) brilha de rosa, uma
liderança alcançada inteligentemente, com quase um minuto de vantagem para os
seus mais directos adversários. Além do bom começo no contra-relógio por
equipas, o veterano australiano buscou bonificações em duas etapas e, segundo a
segundo, foi guardando o primeiro lugar com cuidado, sabendo que o perigo pode
espreitar a qualquer momento vindo de Rigoberto Urán (OPQ), Nairo Quintana
(MOV), Rafal Majka (TCS) ou até um outro corredor surpresa.
Tudo
pode acontecer a duas semanas e doze etapas do final. E a maior dureza montanhosa
ainda está por superar, bem como dois contra-relógios individuais, um deles em crono
escalada. Assim, o Top 3 da geral termina a primeira semana do Giro com Evans
(BMC) no 1º lugar, seguido de Urán (OPQ) em 2º (+57”) e Majka (TCS) em 3º
(+1:10”). Um pouco mais distante, mas sempre pronto a escalar para o pódio,
encontra-se o colombiano Quintana (MOV) na 9ª posição (+1:45”).
Quanto
ao único herói lusitano presente nesta 97ª edição, silenciosamente André
Cardoso (GRS) subiu na geral ao longo destas primeiras etapas vividas em
território italiano, esquecendo o desafortunado começo irlandês e ocupando
agora o 41º lugar da geral (+18:07”).
(escrito em português de acordo
com a antiga ortografia)
La più bella corsa del mondo!
ResponderEliminarGostei muito de a ouvir em directo no Eurosport!
Assim vamos deixando que se interiorize por aí que o mundo do ciclismo, mesmo sendo de homens, também interessa ao público feminino e que afinal, também percebemos um bocadinho de bicicletas! ;-)
Continue!
Filomena
http://ironmena.blogspot.pt/
Obrigada Filomena! Na realidade, o ciclismo tem vindo a sofrer uma mudança a par de outros desportos, deixando de ser um mundo somente de homens tanto a nível do comentário/jornalismo como também a nível de atletas, onde o talento feminino começa a chamar a atenção do público.
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