Avançar para o conteúdo principal

Giro d’Itália: 2ª semana da Corsa Rosa

A 2ª semana do 97º Giro d’Itália foi marcada pela mudança de líder, emoção q.b. e vitórias surpreendentes. Tudo numa semana em que se recordou Marco Pantani nas chegadas a Oropa e Montecampione, homenageando ‘Il Pirata’ 10 anos após a sua morte.
 
Rigoberto Urán (Foto www.gazzetta.it/Giroditalia/2014/it)

Revigorado após o 2º dia de descanso, o pelotão enfrentou na 10ª etapa um percurso não muito longo de 173 km entre Modena a Salsomaggiore Terme. Longe da dureza esperada mais para o final da semana, a sempre existente fuga fez-se pela dupla italiana Fedi (NRI) e Bandiera (AND), que viu o sonho terminar a 9 km da meta, onde Nacer Bouhanni (FDJ) conquistou a sua terceira vitória no Giro. Um poderoso sprint frente a Nizzolo (TFR) e o antigo maglia rosa Matthews (OGE), que abandonaria a prova antes de nascer o novo dia.

Cadel Evans (BMC) seguiu seguro de rosa para a 11ª etapa, já sem um dos companheiros no pelotão. Yannick Eljssen sofrera uma queda no dia anterior, reduzindo a armada da BMC a 8 unidades. Com tranquilidade percorreram os longos 249 km de Collecchio a Savona, onde a aventura de 14 corredores viu terminar a fuga antes do final da última dificuldade em Naso Di Gatto, momento eleito por Michael Rogers (TCS) para ganhar vantagem na descida, ainda a 24 km do final. O australiano da Tinkoff-Saxo chegaria à vitória em solitário na meta, triunfo sentido como uma lufada de ar fresco após o período de afastamento, desde o outono passado por controlar positivo a clembuterol, sendo absolvido pela UCI. Com 10s de vantagem triunfou sobre o pelotão, no qual Simon Geschke (GIA) fez 2º e Enrico Battaglin (BAR) 3º, já cheirando uma possível vitória.

Mas as expectativas concentravam-se na 12ª etapa. O tão aguardado contra-relógio individual levou os corredores a percorrerem 41,9 km de estrada perigosamente molhada entre Barbaresco e Barolo. O clima mostrava-se impiedoso com o Giro e todo o cuidado era pouco para os favoritos à geral não perderem tempo ou até conseguirem algum ganho relativamente ao líder Cadel Evans (BMC). O esforço individual ditou a perda da liderança, mesmo Evans fazendo o 3º melhor tempo… O colombiano Rigoberto Urán (OPQ) voou para a vitória da etapa em 57m34s, fazendo história no Giro. Pela primeira vez, um colombiano envergava a maglia rosa e o momento jamais será esquecido. Histórica poderia ter sido igualmente a terceira vitória de Diego Ulissi (LAM), mas o voo de Urán não permitiu, acabando o italiano por realizar o 2º melhor tempo a 1m17s, com Evans em 3º a 1m34s e descendo a 2º da geral. Este dia ficou marcado pela queda de Tobias Ludvigsson (GIA), levando-o a abandonar o Giro à imagem de Chris Anker Sorensen (TCS), que apesar de terminar a etapa do dia anterior de forma inacreditável massacrado pela queda, por conselho médico não partiu para o contra-relógio.

Em novo dono colombiano, a maglia rosa mostrava-se ao rubro, mostrando ser totalmente imprevisível o desfecho da 97ª edição. Antes da alta montanha surgir, a 13ª etapa esperava uma chegada ao sprint. O pelotão pedalou tranquilo desde Fossano até perto do final dos 157 km a marcar a linha de meta em Rivarolo Canavese. Tão tranquilo, que parece ter esquecido o sexteto em fuga. Subestimado o sonho da fuga, o final foi pedalado a todo o gás pelos comboios dos máximos favoritos ao sprint… mas era tarde demais e do sexteto restou um trio, onde o italiano Marco Canola (BAR) surpreendeu oferecendo a sua primeira vitória no Giro à ‘pequena’ Bardiani-CSF entre as grandes WorldTour, deixando em 2º Jackson Rodríguez (AND) e em 3º Angelo Tulik (EUC).

Não se pense que a Bardiani ficaria por aqui. Reforçada na sua auto-confiança, a armada italiana viria a conquistar a 14ª etapa. No primeiro desafio de alta montanha, o pelotão partiu de Agliè e atravessou 164 km montanhosos até à chegada de 1ª cat. em Oropa, recordando a escalada mítica de Pantani em 1999. Saltando para a actualidade, a dureza da jornada começou a sentir-se na 3ª cat. de La Serra (km 30,5), seguindo-se a 1ª cat. de Alpe Noveis (km 95), passando pela 2ª cat. de Bielmonte (km 122,4) e, por último, a escalada até à meta onde o Santuário de Oropa –Património da Unesco– servia de cenário idílico ao possível ataque à liderança de Urán (OPQ). A fuga tentada por 21 corredores parecia mostrar-se infrutífera, mas seria dela a vitória da jornada. Nem os ataques vindos do pelotão por Pierre Rolland (EUC), Ryder Hesjedal (GRS), entre outros, conseguiram enfraquecer quem seguia na frente. Contudo, testavam a força dos favoritos e nesse teste a AG2R foi exímia com Alexis Vuillermoz e Domenico Pozzovivo a dizimar o grupo já restrito. Pozzovivo ainda tentou fazer a diferença a 3,7 km do final, mas o ataque não produziu consequências de maior, cedendo Urán (OPQ) uns segundos na geral e Evans (BMC) aguentando ao seu ritmo o 2º lugar na geral. Apesar da animação entre este grupo, a vitória na meta caberia a um dos resistentes em fuga. O italiano Enrico Battaglin escreveria o seu nome no Giro, assegurando a segunda vitória consecutiva da Bardiani, com 7s sobre Dario Cataldo (SKY) e a 17s de Jarlinson Pantano (COL).

Antecedendo o 3º dia de descanso havia que superar a 15ª etapa, a segunda de alta montanha. Os 225 km iniciados em Valdengo escondiam na sua quase total planura a dureza do final em Plan di Montecampione, a 1ª cat. de 19,4 km de extensão, onde Marco Pantani venceu o Giro de 1998 num duelo inolvidável com Pavel Tonkov. A facilidade inicial propiciou uma fuga logo aos primeiros quilómetros. Entre os heróis da frente, Portugal vibrou com a actuação de André Cardoso (GRS). O corredor luso da Garmin-Sharp pedalou uma etapa heroica, faltando apenas a merecida vitória ao final. Lutou pelo sonho da fuga na parte plana e deu ainda mais luta no início da derradeira escalada. Montecampione viu cada um dos companheiros de fuga de André Cardoso ficar para trás, viu os favoritos à geral digladiar-se metro atrás metro de subida ultrapassada, viu os ataques de Rolland (EUC), a defesa da liderança de Urán (OPQ), a persistência de Evans (BMC)… Viu a supremacia de Fabio Aru (AST) a ultrapassar tudo e todos para a vitória aguerrida na meta, golpeando a perseguição de Fabio Duarte (COL) para o 2º lugar e de Nairo Quintana (MOV) para 3º, ambos a 21 e 22s do seu cruzar glorioso no alto. Montecampione viu verdadeiros campeões debaterem-se na sua dureza, mas também viu a heroicidade do português André Cardoso, que após batalhar pela possível vitória ainda disse presente quando o seu líder Ryder Hesjedal (GRS) precisou de apoio na escalada final.

Aliás, a Garmin-Sharp espelha bem a subtileza do Giro d’Itália, uma batalha imprevisível do princípio ao fim. Da queda vertiginosa do contra-relógio por equipas inicial, a armada americana não baixou os braços e elevou o líder Hesjedal a 11º da geral. Os 6m44s de distância para o maglia rosa Rigoberto Urán (OPQ), parecem de somenos importância quando olhamos ao esforço e trabalho de uma equipa, que vê ainda André Cardoso terminar a 2ª semana em 28º da geral (+30:24”).

O que esperar da 3ª semana do Giro? Certamente, muita batalha entre os primeiros classificados. Tudo se mostra em aberto quanto à liderança histórica de Urán (OPQ), presa por 1m03s sobre o veterano Evans (BMC) e 1m50s do jovem Majka (TCS), nunca esquecendo a sempre temerária ameaça do conterrâneo colombiano Quintana (MOV) a 2m40s e os italianos à espreita Aru (AST) a 2m24s e Pozzovivo (ALM) a 2m42s. Tudo pode acontecer nas 6 derradeiras etapas, onde as chegadas a Val Martello/Martelltal (ET16), Rifugio Panarotta (Et18) e Monte Zoncolan (Et20), a par da crono-escalada de Cima Grappa (Et19), esperam ter um papel fundamental no desfecho da ‘più bella corsa del mondo’.

CG após 15ª etapa [by Helena Dias]

(escrito em português de acordo com a antiga ortografia)

Comentários

Artigos Mais Lidos

Apresentação Liberty Seguros/Feira/KTM 2014

Esta quinta-feira, a Biblioteca Municipal de Sta. Maria da Feira recebeu a apresentação do 6º GP Liberty Seguros/Volta às Terras de Sta. Maria e das equipas de formação Liberty Seguros/Feira/KTM do Sport Ciclismo S. João de Ver. Entre as personalidades presentes destacaram-se os patrocinadores das equipas, nomeadamente a Liberty Seguros, a KTM e a Câmara Municipal de Sta. Maria da Feira. Também não faltaram antigos corredores da casa, actualmente a pedalar no pelotão profissional nacional, entre outros o campeão nacional Joni Brandão, César Fonte, Edgar Pinto, Frederico Figueiredo, Mário Costa, Rafael Silva e o internacional André Cardoso. Nem o campeão do mundo Rui Costa faltou à chamada de um dos directores desportivos mais acarinhados no país, Manuel Correia, deixando em vídeo uma mensagem sentida de agradecimento pelo seu percurso e aprendizagem no clube. Precisamente de Manuel Correia surgiu o momento mais marcante da cerimónia, aquando do seu anúncio de fim de ciclo ...

Os velódromos de Portugal

Velódromo de Palhavã (© Arquivo Municipal de Lisboa) Em Portugal, o ciclismo já foi considerado o desporto da moda entre as elites. Para chegarmos a esse momento da história, temos de recuar ao tempo da monarquia, até finais do século XIX, para encontrar o primeiro velódromo em território nacional, o Velódromo do Clube de Caçadores do Porto , na Quinta de Salgueiros, não sendo a sua data totalmente precisa, já que a informação a seu respeito é muito escassa. Em alguns relatos, a sua inauguração data de 1883, enquanto noutros data de 1893.

A Volta é a Volta, não há volta a dar!

A Volta é a Volta e quanto a isso não há volta a dar. Luzes, câmara, acção. Dêem passagem ao colorido pelotão. Esta é a festa do ciclismo e das marcas a si associadas, tanto à prova como às equipas. É a oportunidade maior de visibilidade, completa e televisionada.   A Volta a Portugal vai na 84ª edição e, em tantos anos de existência, nunca conseguiu passar indiferente aos amantes de ciclismo. Nacionais ou estrangeiros, os adeptos da modalidade aguardam pela prova rainha lusa com o mesmo entusiasmo e algumas críticas à mistura. Mas assim são os grandes eventos, sempre a despertar paixões exacerbadas e uma multiplicidade de opiniões.   O ciclismo é o desporto de proximidade por excelência, que permite o contacto directo com os seus heróis para uma fotografia, uma palavra de ânimo, um pedido de bidon para guardar de recordação. A isto podemos assistir ao longo do ano, mas em particular no dia de visita à Volta a Portugal, na segunda etapa que ligou Abrantes a Vila Franca de Xira...