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Daniel Viegas: “Strade Bianche foi uma das corridas mais difíceis da minha vida”

A equipa Eolo-Kometa, sediada em Itália, subiu em 2021 ao escalão ProTeam e no conjunto de 20 corredores brilha um jovem português. O ciclista Daniel Viegas, de 23 anos, faz parte da estrutura de Alberto Contador e Ivan Basso pelo quinto ano consecutivo. No passado dia 6 de Março, estreou-se na clássica Strade Bianche e foi esse o mote para o início da conversa do Cycling & Thoughts com Daniel Viegas.
 
Daniel Viegas no final de Strade Bianche (© Maurizio Borserini)

C&T: Como foi viver a estreia na Strade Bianche?
 
DV: “Foi um sonho concretizado. Vejo a corrida há muito tempo e estar ali com todos os campeões dá sempre um extra, nem que seja de força. Não cheguei no controlo, mas acabei a corrida e fico contente.”
 
C&T: Como vês a tua evolução desde a entrada na equipa em 2017?
 
DV: “A minha evolução tem sido muito boa, apesar dos resultados não o terem demonstrado. Tenho trabalhado mais pela equipa e quando a equipa tem subido, tenho subido sempre de escalão com ela. Se não tivesse correspondido ao que me pedem, tinha continuado nos escalões inferiores. Por isso, acho que tem sido positivo.”
 
C&T: É habitualmente destacada a tua forma extraordinária de trabalhar em prol da equipa. Consideras-te um corredor de trabalho ou gostarias de lutar por uma posição de liderança em algumas corridas?
 
DV: “Todos gostam de ganhar, mas tem que se ser realista e ver o estado de forma em que cada um está e daí tomar decisões. Se eu não tiver condições para ganhar e, por exemplo, disser à equipa que estou bem para ganhar e chegar a meia hora no final, a equipa não vai gostar. Mais vale ser realista e ser útil à equipa, também me dão muito valor por causa disso.”
 
C&T: A subida da Eolo-Kometa ao escalão ProTeam aumentou a motivação?
 
DV: “Claro que aumentou. As corridas são melhores… a minha primeira corrida foi logo na Strade Bianche, vamos correr outras como o Tirreno-Adriático, o Giro [d’Itália] e isso dá sempre uma motivação extra para continuar a trabalhar.”
 
C&T: De todas as competições em que participaste, qual a que destacas?
 
DV: “A que destaco mais é a que fiz agora, a Strade Bianche, em que estiveram muitos campeões. Também o Tour de l’Ain do ano passado, em que estiveram praticamente todos os corredores que iam tentar vencer a Volta a França, porque o percurso era o mesmo em várias etapas. Essas corridas foram extremamente duras, são um ‘abre-olhos’. O ano passado, a minha equipa era do escalão continental e, de repente, estávamos a correr com equipas que se estavam a preparar para correr a Volta a França, o que é uma diferença muito grande de andamento. Além disso, o Tour de l’Ain foi a minha primeira corrida depois do confinamento, estava com falta de ritmo, há quase três meses sem correr e isso nota-se muito mais numa equipa de um escalão inferior, porque se corre muito menos do que numa equipa WorldTour. Foi uma das corridas mais difíceis da minha vida, tal como a Strade Bianche.”
 
C&T: Em que terrenos sentes que és mais forte?
 
DV: “Sinto-me mais forte quando o terreno tem algumas subidas, como a Strade Bianche. Mas claro, posso estar mais confortável nesse terreno, mas se os adversários forem muito superiores, as minhas qualidades não se evidenciam tanto.”
 
C&T: Qual a tua corrida de sonho?
 
DV: “Talvez a Volta a França. É uma corrida que se vê todos os anos e onde toda a gente quer estar. Para mim, é uma das corridas mais importantes e que gostava de fazer.”
 
C&T: Quais as próximas corridas?
 
DV: “Em princípio, vou fazer o Giro di Sicilia [31/Março a 3/Abril], mas não sabem se irá realizar-se por causa do covid-19. Neste momento é a única corrida que tenho, porque ainda se estão a cancelar outras corridas e a equipa não quer fazer planos a longo-prazo.”
 
C&T: Como é fazer parte do projecto de dois dos maiores ciclistas do ciclismo mundial, Alberto Contador e Ivan Basso?
 
DV: “Os dois foram grandes atletas e, apesar de não estarem muito à vista na equipa, fazem um grande trabalho. Por exemplo, o Ivan Basso faz um grande trabalho em arranjar patrocínios para a equipa conseguir evoluir de um patamar para outro. Após o ‘ano do covid-19’, a equipa conseguir subir de escalão foi um trabalho muito bem feito por eles e só tenho de estar contente, eu e a equipa, pelo trabalho que fizeram, porque sem eles a equipa se calhar tinha acabado.”
 
C&T: Sentes que em Portugal é valorizada a tua presença numa das mais importantes equipas internacionais?
 
DV: “Não sei, as pessoas olham mais a quem ganha. Por exemplo, há dois ou três anos o João [Almeida] estava na Axeon e na Unieuro e ninguém falava nele, mas como começou a ganhar e a ficar bem classificado, agora falam dele. Isso é como se algum corredor português deixar de ganhar, deixam de falar dele. Quando se ganha as pessoas estão sempre lá, quando se perde não há tanto apoio. Isso não me incomoda.”
 
C&T: Devia ser mais valorizado o papel dos ciclistas que trabalham em prol de um líder?
 
DV: “É uma pergunta um pouco complicada, porque quem trabalha não tem tanta responsabilidade como quem ganha. Um corredor que está para ganhar recebe monetariamente muito mais do que um trabalhador, porque este não tem tanta responsabilidade. Mas onde tenho ido correr, as equipas estrangeiras dão muito valor a corredores como eu. Já em Portugal, parece que só interessa quem ganha a corrida e o resto é o resto.”
 
C&T: Tens o curso de hotelaria. No futuro, pretendes seguir carreira nessa área ou continuar a ser ciclista?
 
DV: “Sim, tenho o curso de hotelaria, mas só em caso de emergência. Não penso voltar à hotelaria. Estou focado no ciclismo e é só isso que quero fazer.”
 

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