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Tour de France 2015: percurso e lusos da 102ª edição

A prova rainha do ciclismo mundial está a chegar. O 102º Tour de France estará entre nós de 4 a 26 de Julho, naquela que promete ser uma das edições mais emocionantes dos últimos anos. A razão prende-se com o luxuoso pelotão que irá percorrer 3360 quilómetros de Utrecht a Paris, onde nos magníficos Champs-Élysées se conhecerá o vencedor de 2015. Alberto Contador (TCS), Chris Froome (SKY), Nairo Quintana (MOV) e Vincenzo Nibali (AST) são os máximos favoritos ao maillot jaune, mas as surpresas sempre sucedem no decorrer de uma grande volta e esta, provavelmente, não será excepção na luta pelo pódio. Maior é a expectativa pelo desafio que o campeão espanhol e recente vencedor do Giro d’Itália traz nos pedais. Contador quer alcançar a dupla vitória Giro-Tour no mesmo ano, nesta que transparece ser uma edição de dureza extrema e de escaladas colossais nas duas últimas semanas. Na luta pelos lugares cimeiros da geral, há que ter em conta os nomes de Rui Costa (LAM), Joaquim ‘Purito’ Rodríguez (KAT), Tejay van Garderen (BMC), Thibaut Pinot (FDJ), Jean-Christophe Peraud e Romain Bardet (ALM).


PERCURSO
É a 21ª vez que a Grande Boucle parte fora de solo francês. Pela 6ª vez na sua história, a Holanda recebe o começo desta importante prova, sendo este ano na estreante cidade de Utrecht com um curto contra-relógio individual de 13,8 km. No dia seguinte continua em asfalto holandês até entrar na Bélgica à 3ª etapa, que terá como aliciante a primeira chegada em alto bem conhecida dos ‘classicómanos’, o Mur de Huy da Flèche Wallonne [1,3km a 9,6% e máxima de 13%]. Ao quarto dia partem da belga Seraing para entrar em França naquela que será a primeira chegada francesa de 2015 em Cambrai, num final de etapa que revive a rainha das clássicas Paris-Roubaix com 7 sectores de pavé num total de 13,3 km, que podem fazer alguns ciclistas tremer na geral e não apenas no empedrado. Seguem-se três etapas propícias para os sprinters mostrarem as suas qualidades nas metas de Amiens Métropole, Le Havre e Fougères, já que na 8ª etapa vivem nova chegada em alto no Mûr de Bretagne [2km a 6,9% e máxima de 10%], conhecido como Alpe d’Huez de Britanny e já escalado em 2011. A primeira semana termina com um contra-relógio por equipas à 9ª etapa, 28 km de Vannes a Plumelec num terreno montanhoso com a subida final de Cadoudal [1,7km a 6,2% e máxima de 7,2%].

Finalizada a primeira semana do Tour, eis que chega a alta montanha! A 10ª etapa leva os heróis do pelotão a embrenhar-se nos Pirenéus até à chegada a 1610m de altitude de La Pierre-Saint-Martin [15,3km a 7,4% e máxima de 10,8%]. Mas o espectáculo mais emocionante dos trepadores e favoritos à geral deverá ser mais tenso na 11ª etapa, que parte de Pau até Cauterets e, entre seis subidas categorizadas, destacam-se Col d’Aspin [12km a 6,5% e máxima de 9,5%] logo seguido do famoso Tourmalet [17,1km a 7,3% e máxima de 10%]. A dureza pirenaica continua no dia seguinte com mais quatro subidas categorizadas e chegada a Plateau de Beille [15,8km a 7,9% e máxima de 9,5%]. Nesta segunda semana destaque para a chegada da 14ª etapa a Mende, que esconde a 1500m da meta a 2ª categoria de Côte de la Croix Neuve [3km a 10,1%], e a 16ª etapa com final em Gap onde Portugal já foi feliz vencedor através de Sérgio Paulinho (TCS) em 2010 e Rui Costa (LAM) em 2013, ano em que se sagrou Campeão do Mundo. Para alcançar a vitória este dia em Gap, terá que se ter em conta os longos 201 km de percurso e as duas subidas de 2ª categoria já em plenos Alpes de Col de Cabre [9,1km a 4,6%] e Col de Manse [8,9km a 5,6%].

A terceira semana continua com o pelotão a pedalar um sobe e desce inesgotável, assinalando-se a 18ª etapa entre Gap e Saint-Jean-de-Maurienne pelas suas sete subidas categorizadas, entre elas Col de Glandon a 1924m de altitude [21,7km a 5,1% e máxima de 11%] logo seguida de Lacets de Montvernier [3,4km a 8,2%] a 10 km da meta. O que vem nos dois dias seguintes é demolidor! Partindo de Saint-Jean-de-Maurienne, a 19ª etapa esconde na sua curta quilometragem, 138 km, três arrebatadoras escaladas até à chegada em alto de La Toussuire [18km a 6,1% e máxima de 9%], nomeadamente Col du Chaussy [15,4km a 6,3%], Col de la Croix de Fer [22,4km a 6,9% e máxima de 10%] e Col du Mollard [5,7km a 6,8%]. A 20ª e penúltima etapa despede-se dos Alpes ao longo de 110,5 km entre Modane e o mítico em Alpe d’Huez [13,8km a 8,1% e máxima de 11,5%], que foi do carismático ciclista português Joaquim Agostinho em 1979. Para vencer nesse cume a 1850m de altitude, o herói do dia terá de ter superado uma das subidas do dia anterior mas por outra via, Col de la Croix de Fer [29km a 5,2% e máxima de 10%], e não o Col du Galibier como inicialmente programado. Ao último dia vive-se a consagração do vencedor e o emocionante final nos Campos Elísios parisienses.

ETAPAS
[perfis de etapas no final]
Et1 - 13,8 km Utrecht / Utrecht [CRI]
Et2 - 166 km Utrecht / Zélande
Et3 - 159,5 km Anvers / Huy
Et4 - 223,5 km Seraing / Cambrai [Pavé]
Et5 - 189,5 km Arras Communauté Urbaine / Amiens Métropole
Et6 - 191,5 km Abbeville / Le Havre
Et7 - 190,5 km Livarot / Fougères
Et8 - 181,5 km Rennes / Mûr-de-Bretagne
Et9 - 28 km Vannes / Plumelec [CRE]
Descanso - Pau
Et10 - 167 km Tarbes / La Pierre-Saint-Martin
Et11 - 188 km Pau / Cauterets - Vallée de Saint-Savin
Et12 - 195 km Lannemezan / Plateau de Beille
Et13 - 198,5 km Muret / Rodez
Et14 - 178,5 km Rodez / Mende
Et15 - 183 km Mende / Valence
Et16 - 201 km Bourg-de-Péage / Gap
Descanso - Gap
Et17 - 161 km Digne-les-Bains / Pra Loup
Et18 - 186,5 km Gap / Saint-Jean-de-Maurienne
Et19 - 138 km Saint-Jean-de-Maurienne / La Toussuire - Les Sybelles
Et20 - 110,5 km Modane Valfréjus / Alpe d’Huez
Et21 - 109,5 km Sèvres - Grand Paris Seine Ouest / Paris Champs-Élysées

PORTUGUESES NO TOUR
Em 2015, o Tour de France contará com os pedais de quatro heróis lusos. Pela segunda vez na sua carreira José Mendes (30 anos) integra o pelotão na equipa alemã Bora-Argon18. Tiago Machado (29 anos) regressa ao Tour após a estreia marcante de 2014, tendo na equipa russa Katusha o director desportivo José Azevedo. Na italiana Lampre-Merida, Nelson Oliveira (26 anos) será pela segunda vez consecutiva um soldado fundamental no apoio ao líder Rui Costa (28 anos), que soma a sétima participação.

Ao longo das 101 edições, 30 ciclistas portugueses pedalaram a rainha das provas de ciclismo. Acácio da Silva foi o único português a vestir a amarela por quatro dias, em 1989 após vitória da 1ª etapa, tendo ganho três etapas no total das suas seis participações. Quem também ergueu os braços em vitórias de etapa foi Joaquim Agostinho por cinco vezes, Rui Costa três vezes, Sérgio Paulinho e Paulo Ferreira uma vez. Relembramos todos os seus nomes e feitos:

Joaquim Agostinho (13 participações): 1969-1975 / 1977-81 / 1983; melhor CG 3º em 1978/1979; vence 5 etapas - 1969 Et5 Nancy / Mulhouse e Et14 La Grande-Motte / Revel; 1973 Et16 CRI Bordeaux / Bordeaux; 1977 Et18 Voiron / Saint-Étienne; 1979 Et17 Les Menuires / Alpe d’Huez.
Sérgio Paulinho (7): 2007 / 2009-14; melhor CG 33º em 2009; vence 1 etapa - 2010 Et10 Chambéry / Gap.
Acácio da Silva (6): 1986-90 / 1992; melhor CG 61º em 1992; vence 3 etapas - 1987 Et3 Karlsruhe / Stuttgart; 1988 Et4 Le Mans / Évreux; 1989 Et1 Luxembourg / Luxembourg.
Rui Costa (6): 2009-14; melhor CG 18º em 2012; vence 3 etapas 2011 Et8 Aigure / Super-Besse Sancy; 2013 Et16 Vaison-la-Romaine / Gap e Et19 Le Bourg d’Oisans / Le Grand Bornand.
Fernando Mendes (5): 1972 / 1973 / 1975 / 1977 / 1981; melhor CG 18º em 1973.
José Azevedo (5): 2002-06; melhor CG 5º em 2004.
Alves Barbosa (4): 1956-58 / 1960; melhor CG 10º em 1956.
José Martins (4): 1973 / 1976-78; melhor CG 12º em 1976.
Orlando Rodrigues (4): 1996-98 / 2000; melhor CG 69º em 1996.
António Baptista (3): 1958-60 DNF.
Herculano de Oliveira (2): 1973 / 1974; melhor CG 45º em 1973.
Joaquim Andrade (2): 1972 / 1973; melhor CG 64º em 1973.
Marco Chagas (2): 1980 / 1984; melhor CG 41º em 1980.
Benedito Ferreira (1): 1984 DNF.
Carlos Marta (1): 1984 CG 122º.
Eduardo Correia (1): 1984 CG 118º.
Fernando Ferreira (1): 1975 CG 61º.
Firmino Bernardino (1): 1975 DNF.
Joaquim Carvalho (1): 1975 DNF.
José Amaro (1): 1975 CG 83º.
José Mendes (1): 2014 CG 124º.
José Sousa Cardoso (1): 1959 DNF.
José Xavier (1): 1984 CG 119º.
Manuel Cardoso (1): 2010 DNF.
Manuel Silva (1): 1975 DNF.
Manuel Zeferino (1): 1984 CG 94º.
Nelson Oliveira (1): 2014 CG 87º.
Paulo Ferreira (1): 1984 DNF; vence 1 etapa - 1984 Et5 Béthune / Cergy-Pontoise.
Ribeiro da Silva (1): 1957 CG 25º.
Tiago Machado (1): 2014 CG 72º.

Etapa 1
Etapa 2
Etapa 3
Etapa 4
Etapa 5
Etapa 6
Etapa 7
Etapa 8
Etapa 9
Etapa 10
Etapa 11
Etapa 12
Etapa 13
Etapa 14
Etapa 15
Etapa 16
Etapa 17
Etapa 18
Etapa 19
Etapa 20
Etapa 21
______
Perfis: www.letour.fr
(escrito em português de acordo com a antiga ortografia)

Comentários

  1. Hà muito sigo o seu trabalho que é sem dúvida feito com minúcia estudo e sobretudo de uma forma cuidada isenta e responsável.

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  2. Antonio Martos não é português. Nasceu em Guadalcázar (Cordoba) em 27 de Novembro de 1946, representou a Werner, Kas-Kaskol e Kas-Canpagnolo, participou em 5 Tours, 3 Vueltas e 2 Giros. Por esse motivo não pode integrar a lista de portugueses na Volta à França.

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    1. Muito obrigada pelo esclarecimento. Irei rectificar!

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