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Gustavo Veloso: “Em Portugal nasci como ciclista e parece que também terminarei a minha carreira”

Gustavo Veloso apresenta-se forte no início de temporada. O ciclista galego da equipa lusa W52-Quinta da Lixa chegou em Maio à liderança do Ranking APCP ‘Ciclista do Ano’, pontuando o seu palmarés de pódios e vitórias. Entre os resultados mais notáveis destaca-se o triunfo do contra-relógio, camisola dos pontos e a geral da Volta à Bairrada, a terceira etapa da Volta ao Alto Tâmega e ainda o segundo lugar no Grande Prémio Beira Baixa, onde alcançou dois segundos lugares em duas das três etapas.

O vencedor da Volta a Portugal 2014 transmite jovialidade no seu pedalar apesar dos seus 35 anos de idade. Com o passar dos anos, converteu-se num corredor que garante bons resultados à sua equipa, um líder que acima de tudo é um companheiro, um ciclista de trabalho se for necessário apoiar um colega, um experiente atleta com vontade de passar a sua sabedoria aos mais jovens.

Na entrevista que se segue, Gustavo Veloso fala-nos do que vem vivendo na presente temporada, olha um pouco ao passado, revela a sua preparação face à Volta a Portugal e um pouco mais. 
Gustavo Veloso (foto João Fonseca)
P.- Como estás a viver este começo vitorioso de temporada?

G.V.- Bem, quando as coisas correm bem tudo é mais fácil.

P.- Tens alcançado bons resultados nas novas corridas do calendário luso. Qual gostaste mais e o que destacas do teu desempenho e da equipa?

G.V.- Todas são importantes, serviram-me para ver como está a minha condição física e em terrenos diferentes. Quiçá por ser a primeira, o crono da Bairrada soube-me muito bem. A equipa esteve sempre bem. Este ano há novos companheiros, que se adaptaram rápido à filosofia da equipa, trabalho em equipa, companheirismo e disciplina. São grandes profissionais e quando chegam os resultados todos fazem parte deles.

P.- Vais chegar à Volta a Portugal com vitórias e melhores resultados que o ano passado. Vê-lo como um ponto a mais na confiança para defender o título alcançado em 2014?

G.V.- Vejo-o como uma recompensa ao trabalho de toda a equipa e como um ponto de referência para saber onde estamos face à Volta. Ganhar agora não assegura ganhar em Agosto, mas ajuda sim continuar a trabalhar com motivação para chegar em condições de disputar a vitória.

P.- De momento, sentes a W52-Quinta da Lixa como a equipa mais forte do pelotão português?

G.V.- Não penso que sejamos a mais forte, há várias estruturas tão forte como a W52-Quinta da Lixa-Jetclass. Por isso os pequenos detalhes podem fazer a diferença. O Nuno [Ribeiro] consegue manter a equipa unida e isso é muito importante, as dificuldades que todos conseguimos superar fazem-nos estar mais unidos.

P.- A tua preparação foi igual à de outros anos ou mudaste algo esta pré-temporada? Revela-nos um pouco sobre a tua preparação.

G.V.- A base da minha preparação é muito parecida, começo o ano tranquilo trabalhando sempre a pensar chegar a 100% à Volta. Este ano consegui começar com algum kg a menos em Fevereiro e isso ajuda aos bons resultados. Agora estou a 1800m de altitude concentrado para acabar de perder algum kg a mais e fazer treinos de maior qualidade. Aqui sou ciclista 24h por dia e em casa também tenho muitas outras responsabilidades, que me impedem de o ser. Com a família é mais complicado descansar, mas também tenho a sorte do meu trabalho ser compreendido em casa. Agora, não só eu me esforço estando aqui, como também a minha família se sacrifica para que eu possa concentrar-me a sós com a bicicleta nos próximos dois meses. Por trás do esforço de cada desportista há sempre pessoas esforçando-se e ajudando. Por outro lado, as emoções também têm o seu papel. A nível de treino, este ano estou a trabalhar mais as intensidades altas, que eram o meu ponto fraco. Ao que parece está a resultar bem e espero que em Agosto na Volta me ajude a alcançar o meu objectivo.

P.- Em 2004 deixaste o pelotão português para voltar em 2013. Fizeste a tua já longa carreira entre equipas lusas e espanholas. Qual foi para ti a temporada mais importante, um momento que não esqueces, a equipa e o companheiro que mais te marcaram?

G.V.- Uff, já são muitos anos… Por sorte, guardo muito boas lembranças, companheiros e momentos inesquecíveis. Fazer parte da Xacobeo Galicia participando em grandes corridas foi um sonho tornado realidade. A minha melhor temporada foi 2008, um ponto de viragem na minha carreira e na minha mentalidade. Ganhar a Volta a Cataluña fez-me ver que podia conseguir grandes resultados, que antes nem me passavam pela cabeça. É-me impossível nomear apenas um companheiro, desde 2001 até hoje sempre estive rodeado de boas pessoas e grandes companheiros, em cada equipa tive dois ou três que me marcaram e com quem aprendi tudo o que sei. Hoje sou eu o veterano que tenta transmitir aos mais jovens o que aprendi.

P.- Que significado tem para ti correr no pelotão português?

G.V.- Para mim, Portugal é a minha segunda casa. Sinto-me muitas vezes mais valorizado aqui do que no meu próprio país, onde se não corres numa grande equipa não contas para a maioria. Em Portugal nasci como ciclista e parece que também terminarei a minha carreira. Só posso estar agradecido às equipas portuguesas e aos portugueses por me abrirem as portas de suas casas e fazerem-se sentir como se estivesse na minha. Obrigado!!!

P.- Com 35 anos, continuas no ciclismo com o mesmo entusiasmo de quando começaste a pedalar profissionalmente?

G.V.- Tive diferentes momentos, do mais alto ao mais baixo. Agora vejo isto de outra forma, desfruto muito e continuo com muito entusiasmo, porque aprendi a ver o bom disto deixando o que é mau para trás. Agora, corro sem tanta pressão e desfruto muito.

P.- Ao longo dos anos, mudou alguma coisa no modo como olhas este desporto a nível profissional?

G.V.- Sim. Aprendi que se não se desfruta o que se faz, não vale a pena tanto esforço.

P.- Qual é o teu maior sonho no mundo do ciclismo?

G.V.- Retirar-me quando eu decidir.

P.- Pelas dificuldades que o ciclismo enfrenta, o que dirias aos jovens que sonham ser ciclistas profissionais e ganhar como tu a Volta a Portugal ou outra importante corrida?

G.V.- Que desfrutem do que fazem, que marquem objectivos ao seu alcance e tenham um plano B se não chegarem onde querem, porque a vida de ciclista são poucos anos e depois a vida continua. Que se formem o melhor possível para quando chegar o momento de virar a página do ciclismo.

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Entrevista em castelhano, aqui
Por Helena Dias | APCP

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