José Mendes (Bora-Argon18)
chegou a Braga sem favoritismos. Para a prova de fundo dos Campeonatos
Nacionais, os focos não incidiam sobre o vice-campeão nacional de
contra-relógio. 4h50m06s foi o tempo necessário para superar favoritismos, as
onze subidas do Bom Jesus e do Sameiro, resistir ao ataque do
campeão nacional de contra-relógio Nelson Oliveira (Movistar Team),
contra-atacar na derradeira escalada e vencer com 18s de vantagem a prova que
dá direito a envergar a cobiçada camisola com as cores nacionais e levá-la às mais
importantes provas do ciclismo mundial.
Natural de Guimarães, José
Mendes (24/Abril/1985) conquistou o seu primeiro título nacional aos 31 anos, precisamente
em terreno montanhoso propício às suas características. Trepador de elevada
qualidade, distinguiu-se nas equipas onde escreveu a sua carreira pela forma
como se entrega ao papel de apoio à equipa, ao mesmo tempo que não descura a
procura de assinaláveis resultados individuais.
Profissional desde
2008, tudo começou cerca de 10 anos antes quando participou pela primeira vez
numa prova de ciclismo no ano de 1997, precisamente em Guimarães, berço da
Nação e do talento de José Mendes. O gosto pelo ciclismo depressa se tornou
numa paixão levando-o a ingressar no Centro Ciclista de Pevidém, a sua primeira
equipa onde viveu os três anos de juvenil, rumando no escalão de cadetes à
equipa ASC/Guilhabreu, posteriormente denominada ASC/União Ciclista de Vila do
Conde, onde permaneceu até 2006.
O ano seguinte marcaria
de forma definitiva os caminhos de José Mendes no ciclismo. Ao ingressar na
equipa do SL Benfica, conquistou nesse mesmo ano de 2007 a mais importante
prova nacional do escalão de sub-23, a Volta a Portugal do Futuro. Uma prova
que então se desenhava entre um prólogo e cinco etapas, José Mendes agarrou a
geral por 9s sobre César Fonte, actual profissional da Rádio Popular-Boavista. Recuando
no tempo e recordando essa corrida, a vitória começou a ser traçada logo no
prólogo, um contra-relógio individual em Reguengos de Monsaraz que venceu ao
superar por 1s nada menos do que o então companheiro de equipa Rui Costa
(Lampre-Merida). Acabou por perder a liderança no final da primeira etapa,
recuperando o comando da prova no final da terceira jornada em Ansião,
guardando essa mesma liderança até ao culminar da 15ª edição da Volta do
Futuro, fazendo a festa da vitória em Pinhel.
O seu percurso no pelotão
nacional fez-se por dois anos no Benfica, passando em 2009 para a também já extinta
Liberty Seguros. Aqui permaneceu apenas uma temporada, passando em 2010 para a
LA-Rota dos Móveis, equipa à qual regressou em 2012 na denominada LA
Alumínios-Antarte, após estar no ano de 2011 na polaca CCC Polsat-Polkowice. O ano de
2013 marcou em definitivo o regresso de José Mendes ao estrangeiro pela alemã
Team NetApp-Endura, actualmente designada Bora-Argon18.
De carácter low-profile, José Mendes passa da
discrição pessoal à ousadia imposta em marcantes performances. Na equipa alemã tem
protagonizado inesquecíveis momentos, batendo-se com os mais sonantes nomes do
pelotão internacional. Em 2013, destacou-se no pelotão do Amgen Tour of California
numa demonstração de força na dureza do Mount Diablo. Nessa famosa escalada
americana, digladiou-se com nomes como Janier Acevedo, Van Garderen, Michael
Rogers ou Francisco Mancebo, terminando nessa chegada em 9º lugar na vitória do
então companheiro Leopold König. No mesmo ano desfez as duras rampas do
Angliru, em plena Vuelta a España, arrecadando um 7º lugar nessa chegada ganha
por Kenny Elissonde, batendo-se com Chris Horner, Valverde e Nibali. A
qualidade demonstrada na temporada de estreia pela esquadra profissional
continental marcou o início de uma bela caminhada que dura até ao presente ano.
Com a actualmente
designada Bora-Argon18 entrou no mundo dos Grand
Tours. Tudo começou na Vuelta a España de 2013, onde alcançou o seu melhor
resultado individual em corridas de três semanas, obtendo um 22º lugar na geral.
Nos dois anos seguintes, participou no Tour de France ficando em 124º (2014) e
140º (2015) da geral. Nunca tendo participado no Giro d’Italia, em 2016 não
regressa ao Tour, mas sim aos palcos da Vuelta, onde já deixou assinalado o seu
talento no asfalto espanhol. Para além das grandes voltas, José Mendes já pedalou
nas famosas clássicas, obtendo como melhor resultado um 23º lugar na Liège-Bastogne-Liège
do ano passado.
No longo percurso
profissional, José Mendes pontuou o palmarés de resultados que demonstram a
qualidade enquanto ciclista. No primeiro ano de profissional, em 2008 destacou-se em 9º no Tour
de Luxembourg e 10º na Vuelta a Chihuahua; em 2009 foi 3º no Circuit de
Lorraine e também 3º no Campeonato Nacional de contra-relógio; em 2010 alcançou
a vitória da terceira etapa do Troféu Joaquim Agostinho, a medalha de prata no
Campeonato Nacional de contra-relógio e 4º na Volta ao Alentejo; em 2011 foi 11º
no Tour de Langkawi; em 2012 terminou em 6º o Troféu Joaquim Agostinho; em 2013
foi 11º no Presidential Tour of Turkey, 15º na Settimana Coppi e Bartali e 23º no Tirreno-Adriatico; em
2014 foi 7º na Vuelta a Murcia; em 2015 alcançou os seus melhores resultados
vencendo o contra-relógio por equipas no Giro del Trentino, prova que finalizou
em 6º da geral, e ainda 3º no Campeonato Nacional de contra-relógio, 5º no
Criterium International e na Coppa Bernocchi, 11º no Tour de l’Ain, 16º Volta
ao Algarve e 23º na Liège-Bastogne-Liège.
Chegado a 2016, José
Mendes alcançou até ao momento a vitória no Campeonato Nacional de fundo e a
prata na prova de contra-relógio, contando ainda com o 6º lugar no Tour of Norway
e 7º no Tour de Slovénie. Um percurso que ainda tem muita história a ser
escrita pelo novo campeão nacional lusitano.
Mais um belíssimo trabalho. Parabéns.
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