Por vezes, sou criticada por ver
no ciclismo português uma grandiosidade inexistente. Nos últimos quatro dias
estive a viver in loco o 5º GP
Liberty Seguros/Volta às Terras de Santa Maria. Foi a primeira vez que vivi por
dentro uma corrida. A minha opinião mudou?...
Cheguei a Santa Maria da Feira
sem criar expectativas sobre como se iriam desenrolar os dias. Quis ir de mente
aberta e tentar perceber se a minha visão estava assim tão errada. Na verdade, o
que vi nestes dias só aumentou a admiração sentida por todos os heróis do pelotão,
do primeiro ao último classificado, dos elites aos sub-23.
1 etapa... a beleza do
contra-relógio por equipas, a perfeição de uma Efapel/Glassdrive a trabalhar em
conjunto para a vitória da jornada. Acompanhar de mota as esquadras na estrada
é uma sensação indescritível. Tem-se a perfeita noção das dificuldades de uma
etapa como esta. Não muito praticado no país, o contra-relógio por equipas
requer um treino muito específico, uma simbiose perfeita entre cada companheiro
que algumas equipas conseguiram demonstrar, outras nem tanto.
2 etapa... alta velocidade e
vento num dia em que muitos esperavam um sprint e, no final, a fuga teve êxito na
subida ao Castelo de
Montemor-o-Velho. Maravilhoso trabalho de Lluis Mas e Raúl Alarcón no desfecho
da jornada, o primeiro a brilhar na meta e o segundo com a camisola amarela.
3 etapa... talvez o dia mais
nervoso na estrada com muitas curvas, subidas e descidas, o líder Raúl Alarcón
a furar e a equipa a trabalhar a todo o gás para devolvê-lo ao pelotão. No
carro do líder pude sentir toda a adrenalina existente na ténue linha entre a vitória e a derrota. O final foi sorridente para o líder do
Louletano/Dunas Douradas e igualmente para Délio Fernández, que conquistou a
etapa após um salto inteligente do pelotão nos momentos finais.
4 etapa... lindíssimo cenário do Circuito
do Castelo, repleto de aficionados no pavé
final e com direito a um troço de sterrato.
Perfeito para o desfecho do Grande Prémio e ainda mais inesquecível pela
vitória da etapa de César Fonte. Após algumas tentativas de atacar no
pelotão, arrebata a linha de meta entre os aplausos de todos quantos esperavam
um triunfo luso. Mas um pouco luso é já o galego Délio Fernández, pela forma
como tem vindo a abraçar o ciclismo português e abraçou a vitória final desta
Volta.
No meio de todas as emoções ficam
na memória momentos particulares, extra corrida, mas que enriquecem a
experiência de viver por uns dias neste mundo luso das bicis... O beijo
apaixonado entre um jovem ciclista e a menina do pódio. Conhecer o ídolo de sempre, Marco Chagas, que me fez enamorar deste desporto e chegar mesmo a entrevistá-lo. Estar ao
lado do pelotão ao longo das etapas e na última viver um pouco de Paris-Roubaix
à portuguesa. A simpatia de um comissário a descrever as bonitas paisagens por
onde o pelotão ia pedalando. Viver uma etapa no carro do líder. Falar com
ciclistas que admiro desde há muito como Samuel Caldeira, Rui Sousa, Filipe
Cardoso e, claro, Sérgio Ribeiro, além de jovens talentos que espero ver
brilhar muito mais como Leonel Coutinho, Frederico Figueiredo, António Barbio e Rafael Reis.
Querer entrevistar Hélder Ferreira e não ter tempo para o fazer. Passar ao lado
de Pedro Paulinho e não conseguir pedir para tirar uma foto com ele (esta minha
timidez...) ou até ser envergonhada pelo ‘Senhor’ speaker da Volta... Tudo fez
parte de um sonho vivido ao longo de quatro dias, que jamais esquecerei. O
ciclismo português está vivo e recomenda-se. É grandioso pelos seus ciclistas e
por todos aqueles que trabalham para pôr na estrada cada corrida. Ainda mais
grandioso foi este Grande Prémio, que fez questão de lembrar e homenagear
grandes glórias do passado: Onofre Tavares, Alves Barbosa, Mário Silva e
Joaquim Andrade.
E tudo na companhia de uma equipa
extraordinária, a Pedaleo. Jesús, Mabi, Pablo e Jorge... Muito trabalho foi
realizado e a paixão pelo ciclismo faz esquecer qualquer noite mal dormida
ou o nervoso sentido no momento das entrevistas. E, claro, sempre teremos o
vinho verde, a Super Bock e o chá de camomila! Parabéns a todos os vencedores!
Highlights e resumos alargados das quatro etapas, fotografias e crónicas... Tudo em www.pedaleo.com
De facto, uma visão idílica do ciclismo português atual... mas também confesso que é uma visão que vai fazendo falta. Nota-se paixão e isso é a verdadeira essência dos verdadeiros amantes da modalidade que, tal como eu, por vezes, entusiasmam-se com muito pouco.
ResponderEliminarAos meus olhos, o pouco torna-se muito quando sinto e vejo o quanto cada ciclista luta na estrada para se manter neste desporto. E a palavra que utiliza é a ideal... paixão, é o que me liga ao ciclismo. Há que desfrutar e valorizar o que de bom existe no nosso ciclismo. Obrigada por ler as minhas palavras!
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