Avançar para o conteúdo principal

Rui Costa, o novo papel do campeão do mundo

Rui Costa (UAE Team Emirates) completou a sua 14.ª participação numa Grande Volta, a segunda no Giro d’Italia. No seu novo papel de gregário de luxo, o campeão do mundo de Florença foi o principal escudeiro de João Almeida na tentativa deste alcançar o pódio na mais dura e bela corrida do mundo, objectivo que esteve bem perto de ser alcançado não fosse a Covid-19 ter afastado o jovem luso da Corsa Rosa a quatro etapas do final, quando se posicionava no quarto lugar da classificação geral e na liderança da camisola branca de melhor jovem.
 
Rui Costa no Giro d'Italia 2022 (foto: Sprint Cycling Agency/UAE Team Emirates)

Desde 2009 a integrar o pelotão internacional, cedo Rui Costa despoletou para as vitórias ao conquistar nesse mesmo ano a prova por etapas 4 Jours de Dunkerque, em França. A partir de então, o corredor natural da Póvoa de Varzim viu crescer a sua popularidade, fruto dos feitos alcançados ao longo de mais de uma década ao serviço de equipas do WorldTour, o mais alto escalão do ciclismo. Caisse d’Epargne (2009-2010), Movistar Team (2011-2013), Lampre-Merida (2014-2016) e pelo sexto ano consecutivo na UAE Team Emirates (2017-2022), Rui Costa viveu o ponto mais alto da sua carreira em 2013 ao vestir a mais desejada de todas as camisolas, a camisola arco-íris de símbolo de campeão do mundo, feito nunca antes alcançado por um ciclista português.
 
Entretanto, foi preenchendo o palmarés de conquistas inesquecíveis como as três etapas no Tour de France, a vitória por três vezes do Tour de Suisse, o GP de Montréal, a Klasika de Amorebieta e o Abu Dhabi Tour, sublinhando apenas algumas das 27 vitórias enquanto corredor profissional. O último triunfo remonta a 2020, quando se sagrou campeão nacional de fundo pela segunda vez na sua carreira, contando igualmente com dois títulos nacionais em contra-relógio.
 
Rui Costa a resguardar João Almeida no Giro d'Italia 2022 (foto: Sprint Cycling Agency/UAE Team Emirates)

Desde então, o papel do campeão do mundo mudou, renascendo um Rui Costa talhado para guardião-mor dos líderes da UAE Team Emirates nas Grandes Voltas. Em 2021, vimo-lo representar esse papel de forma exemplar no Tour de France ao lado de Tadej Pogacar, apoiando o jovem líder esloveno nos mais duros contextos da prova, de onde saiu vencedor. Seja a impor um ritmo elevado na frente do pelotão, a fim de dizimar um a um os principais adversários, seja a posicionar o líder no pelotão, para evitar infortúnios ou quedas, a arte de ser o principal escudeiro em Grandes Voltas não é para qualquer ciclista executar com tamanha mestria.
 
Reconhecido pela sua qualidade na média montanha e a hábil leitura que faz das corridas, Rui Costa executou o papel na perfeição no Tour do ano passado e este ano estava de igual modo a fazê-lo no Giro. Em competições como estas, onde a pressão e a obrigatoriedade de um bom resultado estão presentes a cada quilómetro, não é fácil manter a cabeça fria e a mente focada nos objectivos, contornando todos os obstáculos que vão surgindo no decorrer de três semanas de prova. Além de olhar por si, pelo seu bem-estar físico e mental, tem de resguardar as forças do seu líder para os momentos decisivos e diluir quaisquer eventuais fraquezas que possam surgir nesse percurso rumo ao objectivo máximo da equipa.
 
Aos 35 anos de idade, Rui Costa continua a ser o garante de bons resultados para uma esquadra WorldTour, somando ao novo papel de gregário a contínua conquista de pódios, como fez no início da época com o terceiro lugar alcançado no Saudi Tour e no Tour of Oman.

Comentários

  1. Concordo totalmente com o que está escrito sobre o "NOSSO CAMPEÃO"-é assim que lhe uso chamar,umgrande desportista,um profissional,dos mais inteligentes que já apareceram,e,no fundo um HOMEM exemplar,umexemplo para a sua profissão,pela leitura que faz das corridas a cada momento e pelo exemplo que transmite aos colegas.

    ResponderEliminar

Enviar um comentário

Artigos Mais Lidos

Apresentação Liberty Seguros/Feira/KTM 2014

Esta quinta-feira, a Biblioteca Municipal de Sta. Maria da Feira recebeu a apresentação do 6º GP Liberty Seguros/Volta às Terras de Sta. Maria e das equipas de formação Liberty Seguros/Feira/KTM do Sport Ciclismo S. João de Ver. Entre as personalidades presentes destacaram-se os patrocinadores das equipas, nomeadamente a Liberty Seguros, a KTM e a Câmara Municipal de Sta. Maria da Feira. Também não faltaram antigos corredores da casa, actualmente a pedalar no pelotão profissional nacional, entre outros o campeão nacional Joni Brandão, César Fonte, Edgar Pinto, Frederico Figueiredo, Mário Costa, Rafael Silva e o internacional André Cardoso. Nem o campeão do mundo Rui Costa faltou à chamada de um dos directores desportivos mais acarinhados no país, Manuel Correia, deixando em vídeo uma mensagem sentida de agradecimento pelo seu percurso e aprendizagem no clube. Precisamente de Manuel Correia surgiu o momento mais marcante da cerimónia, aquando do seu anúncio de fim de ciclo

Os velódromos de Portugal

Velódromo de Palhavã (© Arquivo Municipal de Lisboa) Em Portugal, o ciclismo já foi considerado o desporto da moda entre as elites. Para chegarmos a esse momento da história, temos de recuar ao tempo da monarquia, até finais do século XIX, para encontrar o primeiro velódromo em território nacional, o Velódromo do Clube de Caçadores do Porto , na Quinta de Salgueiros, não sendo a sua data totalmente precisa, já que a informação a seu respeito é muito escassa. Em alguns relatos, a sua inauguração data de 1883, enquanto noutros data de 1893.

Entrevista a Isabel Fernandes: “África leva-nos a colocar em causa as nossas prioridades de Primeiro Mundo”

O ciclismo apareceu na vida profissional de Isabel Fernandes em 1987 para não mais sair. De comissária estagiária em 1989, chegou ao patamar de comissária internacional dez anos depois, realizando diversas funções na modalidade ao longo dos anos, nomeadamente intérprete e relações públicas de equipas, membro da APCP (Associação Portuguesa de Ciclistas Profissionais) e da organização de várias provas como os Campeonatos da Europa e do Mundo, em Lisboa.