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82ª Volta a Portugal: percurso, equipas e favoritos na opinião de Marco Chagas

A 82ª Volta a Portugal está na estrada entre os dias 4 e 15 de Agosto. Numa edição mais direccionada para trepadores com cinco finais em montanha, a ‘Portuguesa’ reúne um leque de 18 equipas, onde se destaca o regresso do escalão WorldTour com a espanhola Movistar Team, 19 anos depois da sua última participação, então designada Banesto. Lisboa é o palco eleito para o começo desta edição, que irá percorrer 1568 km até ao grande final em Viseu.
 
Para uma antevisão especializada sobre os principais destaques do percurso, as equipas e os favoritos à vitória da classificação geral, estivemos à conversa com Marco Chagas, o grande campeão português, detentor de quatro vitórias da camisola amarela (1982, 1983, 1985 e 1986) e mais de 20 vitórias em etapas na Volta a Portugal. Logo no primeiro ano em que disputou a Volta, com apenas 19 anos de idade, Marco Chagas terminou em 6º na geral e venceu três etapas. Em 2021, vai estar de novo a comentar diariamente a prova rainha na estação pública de televisão RTP, ao lado de Gonçalo Ventura, e na mota perto de toda a acção do pelotão estará o ex-ciclista profissional Hugo Sabido.
 
Marco Chagas a comentar a Volta a Portugal na RTP


O PERCURSO, na opinião de Marco Chagas

 
“O percurso deste ano tem muita dificuldade. Quanto a mim, tem dificuldade a mais. Se tivermos em conta o que tem sido a realidade da nossa Volta e das forças em presença, acho que esta Volta era muito boa para o director da corrida [Joaquim Gomes], quando era corredor, e podia ser interessante para mim também enquanto corredor, mas não é uma Volta acessível à maioria dos corredores presentes. É muito dura, muito desigual.”
 

AS ETAPAS, na opinião de Marco Chagas

 
- A PRIMEIRA PARTE (do prólogo à 4ª etapa)
 
“A Volta começa com um prólogo, que as pessoas podem pensar que não conta nada por ser de 5 quilómetros, mas não havendo bonificações alguns dos ciclistas, que têm a ideia de discutir a Volta, saem de Lisboa a perder já 20 a 30 segundos. Saem dali com esse problema para resolver, onde vão poder recuperar aquele tempo para os outros que, subindo tão bem como eles, andam melhor no contra-relógio. E não podemos esquecer que o último dia é também um contra-relógio, de 20 km. Não havendo bonificações, como tem acontecido nos últimos anos, a corrida fica entregue aos contra-relogistas e a duas dúzias de corredores, se calhar nem isso, que conseguem passar a Arrábida e chegar a Setúbal, na 1ª etapa. Ou seja, com dois dias de prova fica um lote de 15 a 20 ciclistas, e já estou a ser optimista, no qual dizemos que um deles ganha a Volta. Passamos Castelo Branco [2ª etapa], que se for um dia de calor amarrota a maioria dos corredores, nomeadamente os jovens que vêm das equipas estrangeiras e também os nossos, e a seguir vamos para a Torre [3ª etapa], onde ficam mais alguns. Depois temos a Guarda [4ª etapa], que também é dura. Ou seja, quando chegarmos ao dia de descanso, com esta dureza a Volta estará entregue a uma dúzia de corredores e estou a ser optimista!”
 
- A SEGUNDA PARTE (da 5ª à 10ª etapa)
 
“A Volta devia ter uma maior igualdade. Cinco chegadas em alto, num total de dez etapas, é muito. Mesmo as etapas que não são com chegada em alto, como é o caso de Bragança [7ª etapa, a mais longa], são muito duras. A chegada anterior a Fafe [6ª etapa] também é selectiva e sobra muito pouco tanto para os sprinters como também para os corredores mais completos, mas que não são tão bons trepadores. Estes vão ser muito penalizados. O facto de as chegadas darem bonificação – 10, 6 e 4 segundos – é muito importante para alterar as classificações e haver uma luta muito mais aberta entre os corredores, que foram penalizados no prólogo e que, eventualmente, podem ser penalizados nas chegadas em alto, mas que tentam nas outras chegadas alterar um bocadinho ou aproximar os números. Senão, nunca mudam os números, que vão do primeiro dia entre um grupo de corredores que chega sempre no mesmo registo. É o que tem sido o problema da Volta a Portugal nestes últimos tempos, agravado este ano pela dureza das cinco chegadas em alto – Torre [3ª etapa], Guarda [4ª etapa], Nossa Senhora da Assunção em Santo Tirso [5ª etapa], Larouco [8ª etapa] e Senhora da Graça [9ª etapa].”
 
“A Volta pode não ficar entregue antes do contra-relógio final, como aconteceu há dois anos com o João Rodrigues e o Joni Brandão, que chegaram ao último dia empatados, mas eram apenas os dois. Este ano, quando chegarmos ao dia de descanso, já retirámos 110 dos 126 corredores. Sobram poucos, o que não é bom, pois fica demasiado previsível. As forças são muito diferentes, mesmo entre formações portuguesas, e são maiores ainda em relação à maioria, para não dizer totalidade, das equipas que vêm de fora.”

82ª VOLTA A PORTUGAL

Dia 4, 4ªfeira

Prólogo

Lisboa / Lisboa

5,4 km (CRI)

Dia 5, 5ªfeira

1ª Etapa

Torres Vedras / Setúbal

175,8 km

Dia 6, 6ªfeira

2ª Etapa

Ponte de Sor / Castelo Branco

162,1 km

Dia 7, sábado

3ª Etapa

Sertã / Torre

170,3 km

Dia 8, domingo

4ª Etapa

Belmonte / Guarda

181,6 km

Dia 9, 2ªfeira

Descanso

 

 

Dia 10, 3ªfeira

5ª Etapa

Águeda / Sra. da Assunção (St.º Tirso)

171,3 km

Dia 11, 4ªfeira

6ª Etapa

Viana do Castelo / Fafe

182,4 km

Dia 12, 5ª feira

7ª Etapa

Felgueiras / Bragança

193,2 km

Dia 13, 6ªfeira

8ª Etapa

Bragança / Serra do Larouco

160,7 km

Dia 14, sábado

9ª Etapa

Boticas / Sra. da Graça

145,5 km

Dia 15, domingo

10ª Etapa

Viseu / Viseu

20,3 km (CRI)

 

AS EQUIPAS PORTUGUESAS, na opinião de Marco Chagas

 
“Há um grande desnivelamento em relação às equipas portuguesas. Há uma equipa mais forte do que todas as outras, que se chama W52-FC Porto, e há uma outra equipa que tem tido argumentos e este ano voltou a apresentá-los ao longo da temporada, que se chama Efapel. Não vejo que haja em qualquer outra equipa argumentos para combater a W52-FC Porto, mesmo com a qualidade que tem a equipa de Manuel Correia, a Kelly-Simoldes-UDO, ou a equipa do Prof. José Santos, a Rádio Popular-Boavista.”
 
“Podia falar do Gustavo Veloso e do Alejandro Marque, que estão na Atum General-Tavira-Maria Nova Hotel, mas estão com 41 e 39 anos [respectivamente] e este percurso irá penalizá-los, pelo menos o Marque. É como o [Alejandro] Valverde, a qualidade está lá, mas já não têm a frescura nem a capacidade física para equilibrar as forças perante a força que vemos nas outras equipas, em particular a W52-FC Porto na Volta a Portugal. A Tavfer-Measindot-Mortágua, a LA Alumínios-LA Sport, sem o Sérgio Paulinho, ou a própria Antarte-Feirense e Louletano-Loulé Concelho não têm argumentos.”
 
“A força e os argumentos estão numa equipa que tem os vencedores da Volta a Portugal, quer seja com Raúl Alarcón ou sem [o corredor recorreu da sanção da UCI e o processo está em tribunal], porque tem o Amaro Antunes e o João Rodrigues mais o Jóni Brandão e ainda pode dar-se ao luxo de deixar em casa outro vencedor da Volta a Portugal, o Rui Vinhas, e o corredor que melhor andou ao longo de todo o ano, o campeão nacional José Neves, que é também quem melhor sobe dentro daquela equipa a par do Amaro Antunes. Isto diz bem das várias opções de escolha do director desportivo Nuno Ribeiro.”
 

AS EQUIPAS ESTRANGEIRAS, na opinião de Marco Chagas

 
“Confesso que, à semelhança do que aconteceu o ano passado, aquando da apresentação das equipas vejo qualidade em alguns corredores, mas as equipas estrangeiras podem fazer muito pouco na Volta. A própria Movistar Team, que é do escalão mais alto [WorldTour], traz um conjunto de corredores jovens bons, mas que muito dificilmente têm argumentos para estar na discussão com as equipas portuguesas. Penso que todas vêm com o objectivo definido de ganhar etapas, sabendo que a Volta a Portugal é a corrida de referência para os portugueses, o seu objectivo, onde as forças estão mais vincadas e mais notórias da parte de todas as equipas portuguesas, até mesmo as mais frágeis. Se ouvirmos o discurso dos corredores e dos directores desportivos das equipas estrangeiras passa essencialmente por virem para ganhar etapas, mas uma entrada no confronto directo com as equipas portuguesas pela vitória final não estou a ver quem. Até gostava muito de me enganar, era bom sinal, mas infelizmente não me parece que seja o caso.”
 

EQUIPAS 82ª VOLTA A PORTUGAL

WORLDTOUR

PROTEAM

CONTINENTAL

Movistar Team (ESP)

Bingoal Pauwels Sauces WB (BEL)

Antarte-Feirense (POR)

 

Burgos-BH (ESP)

Atum General-Tavira-Maria Nova Hotel (POR)

 

Caja Rural-Seguros RGA (ESP)

Efapel (POR)

 

Equipo Kern Pharma (ESP)

Israel Cycling Academy (ISR)

 

Euskaltel-Euskadi (ESP)

Kelly-Simoldes-UDO (POR)

 

Rally Cycling (EUA)

LA Alumínios-LA Sport (POR)

 

 

Louletano-Loulé Concelho (POR)

 

 

Rádio Popular-Boavista (POR)

 

 

Swift Carbon Pro Cycling (GBR)

 

 

Tavfer-Measindot-Mortágua (POR)

 

 

W52-FC Porto (POR)



OS FAVORITOS À VITÓRIA, na opinião de Marco Chagas
 
“No fundo, os protagonistas vão ser poucos, vão ser aqueles que já conhecemos, porque o percurso não dá grandes possibilidades a outros. O maior desafio é saber qual dos corredores da W52-FC Porto vai ganhar a Volta. Tem muito a ver com o decorrer dos primeiros dias. É fácil perceber logo após o prólogo e a chegada da primeira etapa a Setúbal. Os maiores candidatos são o Amaro Antunes, o João Rodrigues e o Joni Brandão. Qual a ordem? Bem, podemos guiar-nos pelo facto do Amaro ter ganho o ano passado, o João há dois anos, não sei. Uma coisa é certa, a força da equipa é muito grande. Nuno Ribeiro não prescinde dos corredores que são elementos-chave, que é o Ricardo Mestre, o Daniel Mestre e o Samuel Caldeira, depois os outros são todos vedetas. Quem é que temos para contrariar isto?”
 
“Da Efapel temos o António Carvalho e o Frederico Figueiredo, que foi terceiro o ano passado. O António precisava de ser mais regular, porque ele é fantástico, mas tem sempre um dia em que as coisas não lhe saem tão bem e acaba por deitar por terra a possibilidade de ganhar uma Volta, mas não quer dizer que não aconteça este ano.”
 
“O Gustavo Veloso [Atum General-Tavira-Maria Nova Hotel] seria sempre um candidato, se não tivesse 41 anos e se tivesse uma equipa à sua volta como quando estava na estrutura do Nuno Ribeiro, mas é sempre um corredor para fazer entre os primeiros lugares. Depois já sabemos que o João Benta [Rádio Popular-Boavista] vai fazer um bom lugar e pode haver um ou outro corredor das equipas portuguesas a fazer um lugar entre os 10 primeiros, mas confesso que acho que a Volta vai ser muito jogada entre as duas equipas, maioritariamente a W52-FC Porto e perceber qual a capacidade que a Efapel tem para enfrentá-la.”
 

OS JOVENS DA VOLTA, na opinião de Marco Chagas
 
“A Movistar traz um jovem porto-riquenho de 20 anos [Abner González], que pelo que me é dado perceber é um corredor com qualidade. Nesse confronto, que é tão desigual e onde temos visto nos últimos anos que o primeiro corredor do escalão sub-23 fica tão longe, dificilmente um corredor desses fará entre os cinco primeiros, eventualmente se fizer no quadro dos 10 melhores já é muito bom. A nossa Volta não é como a Volta a França ou outras corridas, onde vemos um corredor de 22 anos ser melhor do que todos os outros. Aqui não me parece que isso aconteça. Será uma luta distinta.”
 

O QUE FAZ FALTA MUDAR NA VOLTA, na opinião de Marco Chagas
 
“Nos moldes em que está, a Volta será sempre isto, ou seja, dificilmente mudará. Se a tirarmos do mês de Agosto, a importância dela cai a pique, principalmente para Portugal. Tirando o Tour, as outras corridas têm um acompanhamento residual, mesmo no local. À excepção do futebol, em que as pessoas se deslocam para ir a um estádio, não há enchentes em mais lado nenhum. Temos a Volta ao Algarve, que em fim-de-semana na chegada ao Malhão tem uma grande moldura humana, mas é dos apaixonados do ciclismo e não são precisos muitos para encher aquele espaço, que é uma subida pequena. Isso é uma questão que se coloca. Manter a Volta nos moldes em que está para ter esse retorno interno e ser o grande momento desportivo do verão português, como normalmente se diz, não pode mudar muito.”
 
“O que mudaria seria fazer uma Volta com um percurso diferente, que não repetisse aquilo que tem sido o figurino da Torre e da Senhora da Graça todos os anos, como se não tivéssemos mais subidas nem mais percursos. Sei bem as dificuldades que a organização da Volta a Portugal passa para organizá-la e teriam que ser criadas condições para a Volta sofrer uma alteração e mexer com o hábito de se saber se há mais ou menos chegadas em alto, sendo aquelas sempre repetidas. Na minha opinião, já são repetidas vezes demais.”
 
“Em relação ao figurino da Volta, teria que ter prémios mais aliciantes e subir no escalão para ser mais aliciante para as equipas que vêm de fora terem um retorno de pontuação para o ranking, que a nossa Volta não dá. Teria que ter retorno financeiro, que também não dá, porque quando olho para o livro de prova verifico que nos últimos anos uma passagem de montanha, seja ela de que categoria for, não dá um cêntimo ao vencedor, uma meta volante não dá um cêntimo ao vencedor, só as classificações finais é que têm retorno, à excepção da classificação das etapas. Isso não cativa ninguém e enquanto não for alterado não podemos dar grande volta à Volta.”


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