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Entrevista a Joni Brandão: “Queria muito ter ganho a Volta a Portugal”


A poucos meses de celebrar o 30º aniversário, Joni Brandão (Efapel) levou a discussão da 81ª Volta a Portugal Santander até ao último cruzar de linha na Avenida dos Aliados. Partiu de camisola amarela para o decisivo contra-relógio individual com o mesmo tempo de João Rodrigues (W52-FC Porto), que acabou por ganhar a prova rainha com 27s de vantagem. Repetiu o segundo lugar do pódio, alcançado já em 2018 e 2015, mostrando ao longo da época e na Volta a Portugal o melhor Joni de sempre, conseguindo o feito de levar a discussão entre duas equipas até ao último segundo da mais mediática prova lusa, algo que não sucedia desde 2012 com a vitória de David Blanco (Efapel-Glassdrive) por 22 segundos sobre Hugo Sabido (LA Alumínios-Antarte).


Com que sabor saíste da Volta a Portugal?

“Na altura, acabei por estar um pouco triste comigo mesmo, porque queria muito ter ganho a Volta a Portugal. A equipa trabalhou toda para mim. Sabíamos que a vitória era difícil e fizemos tudo o que estava ao nosso alcance, acabando inclusive por partir de camisola amarela para o contra-relógio no último dia. Estando empatado com o João Rodrigues, sabíamos que o contra-relógio ia ser decisivo. Tive aqueles cinco a dez minutos pós contra-relógio, que uma pessoa acaba por estar triste, mas depois uma pessoa tem de se conformar, porque o João foi mais forte, há que admitir isso. Foi um justo vencedor e, quanto a mim, tenho de continuar a trabalhar, continuar a lutar, a ver se um dia consigo vencer a Volta a Portugal.”

Teria feito diferença o contra-relógio não ter sido disputado no Porto, com todo aquele ambiente?

“Não. Quando estamos no Porto e o Porto tem uma equipa de ciclismo, claro que os adeptos estão todos a torcer por aquela equipa. Mas acabou por correr bem o contra-relógio e acho que também nos fazia falta ter uma chegada assim, ver todo aquele público, a estrada cheia de adeptos, foi também bastante emocionante para nós. E penso que não teve qualquer influência no resultado final.”


Estiveste perto de vencer várias etapas, em particular as mais duras (Torre, Sta. Quitéria e Sra. da Graça). Mostraste o melhor Joni dos últimos anos?

“Nós partimos para a Volta não com o objectivo de ganhar etapas. As etapas não tinham bonificações e fomos com o objectivo definido da vitória final e não de lutar por etapas. Programei as coisas para estar na minha melhor forma na Volta. Sei que tive uma época em que não tive muitos dias de competição até à Volta, mas tentei estar sempre quase no topo de forma nas competições em que estive presente. No GP Beiras fiz logo o primeiro pico, depois tentei no Grande Prémio JN, no Campeonato Nacional e depois a Volta a Portugal. Se calhar, abusei um pouco na programação da época, mas não fazia nada diferente, porque acabei por estar na mesma bem na Volta a Portugal. Acabou por existir um atleta mais forte do que eu, com uma equipa muito forte. Nós também estivemos fortes e demonstrámos isso na Volta, chegando a controlar duas etapas complicadas.”

És o ciclista mais vitorioso da época em Portugal, com seis vitórias (Clássica Aldeias do Xisto, etapa no GP Beiras, etapa no Troféu O Jogo e três etapas no Grande Prémio JN). Por vezes, tem-se a ideia que se o atleta não ganha a Volta significa que não fez nada na época. Tens essa ideia?

“Quem está de fora, quem não está por dentro do ciclismo, às vezes pensa que só temos uma competição durante o ano, a Volta a Portugal, e que andamos o ano todo de bicicleta tendo apenas essa competição. Durante o ano temos várias competições e todas são importantes para nós. Embora a Volta seja o que mais vende, o que toda a gente vê, porque passa na televisão, temos muitas outras competições nas quais as equipas apontam objectivos. Não podemos estar só à espera da Volta, porque por vezes programamos muito uma coisa e, por um motivo ou outro, podemos ter que falhar a competição ou não estar no nosso melhor. Se pudermos ganhar durante o ano, acabamos por ter algumas vitórias ou bons resultados, o que acaba por ser bom para as equipas.”



Este ano marcou o teu regresso à Efapel. Como vai ser em 2020?

“Para o ano continuo na Efapel, tenho contrato por mais uma temporada. Este ano, em termos de contrato, não tenho de estar a pensar se fico na mesma equipa, se tenho outras propostas ou não, o que acaba por ser menos uma dor de cabeça. Posso estar mais descansado e pensar já na próxima época.”

Ainda te passa pela cabeça vir a correr novamente no estrangeiro?

“Quando era mais novo, tinha sempre essa ideia, tinha a ilusão de correr numa equipa lá fora. Neste momento, acabo por estar bem em Portugal. Tenho outras vantagens de estar em Portugal, que não tinha se estivesse lá fora, e acabo por nem sequer pensar numa saída para uma equipa estrangeira. Actualmente, os jovens que passam para sub-23, e tiverem oportunidade de sair, fazem bem em agarrar essa oportunidade. Na minha altura, não tive oportunidade de ter as equipas satélite das grandes equipas, como existe actualmente, a recrutar os jovens corredores. Isso não aconteceu na minha geração. Quando saí, foi na altura em que o ciclismo atravessava uma crise. Actualmente, quem tiver a oportunidade de dar o salto para uma equipa satélite, para conseguir evoluir, deve fazê-lo. Essa é a idade para se pensar nisso. Eu já estou naquela idade em que só penso em estar bem em Portugal e dar o meu melhor, tentando ganhar o máximo possível de corridas.”



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