Henok Mulubrhan, de 19 anos, é um dos três jovens eritreus que actualmente integram o Centro Mundial de Ciclismo da UCI, em Aigle, Suíça. Aberto em 2002, este Centro abre anualmente as portas a muitos jovens que, como Henok, sonham em ser ciclistas profissionais. O caminho é árduo e sem facilidades, mas no horizonte têm exemplos de sucesso: o britânico Chris Froome (Team Ineos) e os eritreus Merhawi kudus (Astana), Natnael Berhane (Cofidis) e Daniel Teklehaimanot são quatro dos nomes mais conhecidos que passaram pelo Centro Mundial de Ciclismo. Também os portugueses estiveram em Aigle, Ivo Fernandes em 2006 e, mais recentemente, Tiago Antunes (SEG Racing Academy) em 2018.
Portugal irá inaugurar a 4 de Julho um Centro Satélite do Centro Mundial de Ciclismo da UCI, integrado nas infra-estruturas do Centro de Alto Rendimento, em Anadia. Henok Mulubrhan confidenciou-nos a fechar a entrevista: “Adoraria ir para Portugal”.
Henok Mulubrhan (Foto: Isabel Fernandes) |
A oportunidade de HenokMulubrhan ingressar no Centro Mundial de Ciclismo surgiu após dar nas vistas em provas no continente africano. “Depois de correr, em 2018, com a Selecção da Eritreia a Tropicale Amissa Bongo, no Gabão, e a Taça das Nações l’Espoir Blue Line, nos Camarões, a Isabel ajudou-me a contactar o Centro.” Isabel Fernandes, comissária UCI com vasta experiência nas provas africanas, transmitiu aos responsáveis do Centro a vontade do jovem eritreu integrar o projecto. O talento era visível, com cinco lugares nos dez primeiros das sete etapas no Gabão, fechando a prova em 4º na juventude e 16º na geral, mais a vitória de etapa e da camisola da montanha nos Camarões. E assim começou a aprendizagem de Henok no Centro em Aigle.
Henok Mulubrhan com Isabel Fernandes |
Mas o gosto pela bicicleta já tinha surgido na sua vida há mais tempo. “Desde pequeno, que sempre gostei muito de ciclismo e pedi ao meu pai para começar a andar de bicicleta. Aos 13 anos, iniciei-me no ciclismo”, contou-nos Henok.
Quando integrou o Centro da UCI, as diferenças entre os corredores eritreus e europeus tornaram-se evidentes ao seu olhar: “Vi grandes diferenças. Os corredores europeus têm já uma técnica, sabem como estar numa corrida e são mais fortes. Os eritreus chegam e têm de aprender tudo do início.”
Na opinião de Henok, a vivência em Aigle tem sido muito positiva. “No Centro tratam de nós, ensinam-nos bem o ciclismo e levam-nos a importantes corridas. Após as competições, reunimos para discutir como correu a prova, o que fizemos bem, o que fizemos mal e o que podemos melhorar. O foco está no processo de aprendizagem e o objectivo principal recai no melhoramento das nossas capacidades e não no resultado que fazemos na classificação geral.”
Entre as corridas que já disputou, “a que mais gostei foi “Ronde de l’Isard”, afirmou Henok de imediato. “Foi muito desafiante, com muito sobe e desce, o que ajudou a perceber a que tipos de terreno as pernas melhor se adaptam. As subidas são duras e ajudam-nos a aprender mais e melhor. É para isso que aqui estou.”
Os desafios que um jovem ciclista tem pela frente são enormes e Henok viveu um recentemente, correr a clássica Paris-Roubaix Espoir. Quando realizámos esta entrevista, estava a horas de cumprir este desafio e confessou-nos: “estou desejoso por correr esta difícil prova, que apenas conheço pela televisão.” Objectivo cumprido, Henok terminou Paris-Roubaix Espoir no 43º lugar, sendo um dos 95 jovens que terminaram a prova, 61 dos quais dentro do tempo limite.
Perguntámos ainda a Henokse tinha ídolos. Foi peremptório na resposta. “No ciclismo, Alberto Contador. Gosto de como ele ataca nas subidas e se mantém tanto tempo em pé na bicicleta. Mas o atleta que mais admiro é Cristiano Ronaldo, porque tenta sempre fazer mais e melhor para vencer, tem boa mentalidade para melhorar as suas capacidades.”
Sobre o seu futuro, Henokadiantou-nos: “Quero ser ciclista profissional. Vou estar no Centro Mundial de Ciclismo até Agosto deste ano, quando o visa expira, e depois terei de regressar à Eritreia, onde vivo com os meus pais. Lá tenho apenas a Selecção, com a qual corro algumas provas, e ocupo os meus dias com o treino de bicicleta e também gosto de ler livros.”
Henok Mulubrhan com a equipa do CMC (Foto: Isabel Fernandes) |
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