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Quatro conclusões do Memorial Bruno Neves


No sábado, disputou-se mais uma prova do calendário nacional, o Memorial Bruno Neves. O espanhol Antonio Angulo venceu a 11ª edição com toda a determinação, numa prova onde a Efapel se destacou em grande medida com dois lugares no pódio, três no Top 10, a conquista da camisola amarela, duas camisolas secundárias e o triunfo por equipas.

» Fotos 11º Memorial Bruno Neves, AQUI!



1. O regresso vitorioso de Antonio Angulo ao pelotão luso

O ano de 2019 marcou o regresso do ciclista espanhol Antonio Angulo ao pelotão luso pela Efapel, após integrar a LA Alumínios-Metalusa-Blackjack em 2017, numa notável época com a vitória da Volta à Bairrada e o segundo lugar alcançado na Taça de Portugal, que ainda chegou a liderar. Este sábado, ergueu os braços para a primeira vitória do ano no Memorial Bruno Neves, após integrar a fuga do dia, formada às primeiras pedaladas da exigente jornada de 146 quilómetros. Antes, já tinha dado sinais da sua boa forma em Espanha, ao terminar entre os primeiros da geral na Vuelta a Castilla y León (13º) e na Vuelta Aragón (17º).

Contudo, não se pense que em 2018 não viveu vitórias, muito pelo contrário. Nesse ano de interregno do escalão continental, agarrou a oportunidade de correr na equipa espanhola Rias Baixas, com a qual arrecadou triunfos em etapas da Volta a Galicia, Volta a Coruña, Vuelta a Alicante e Vuelta a Cantabria, entre outros.

Aos 27 anos, é com a portuguesa Efapel que ‘Chava’ Angulo, como é conhecido em homenagem ao seu ídolo ‘Chava Jiménez’ (Banesto), dá continuidade ao seu trajecto no ciclismo profissional, destacando-se como um corredor que une ao trabalho realizado em prol da equipa a versatilidade de passar bem a média montanha e ser forte em chegadas ao sprint de pequenos grupos.



2. Efapel em força no Memorial e na época de 2019

Na numerosa fuga, que marcou o decorrer e a decisão do Memorial Bruno Neves, a Efapel conseguiu introduzir três corredores capazes de discutir a vitória da jornada. Antonio Angulo, Joni Brandão e Bruno Silva mantiveram uma sintonia, que os levou a conquistar três lugares entre os dez primeiros da geral: em primeiro Angulo, em segundo Brandão, também vencedor da camisola dos sprints, e no sétimo lugar Bruno Silva, vencedor da camisola da montanha. A estas conquistas juntou-se ainda a vitória no colectivo, de uma equipa que se tem revelado de uma forte coesão na estrada e com importantes vitóriasalcançadas em início de época.

Ao triunfo de Antonio Angulo no Memorial Bruno Neves, somam-se as vitórias de Joni Brandão na Clássica Aldeias do Xisto e em etapas no Troféu O Jogo e no Grande Prémio Internacional Beiras e Serra da Estrela. Quatro importantes vitórias, às quais se somam quatro triunfos em classificações secundárias e três por equipas. Os resultados obtidos até ao presente momento da época revelam uma promissora consistência colectiva, que pode fazer a diferença naquela que é a grande prova do ano para qualquer equipa lusa, a Volta a Portugal, já que é com os olhos postos na prova rainha que se trabalha todo o ano.



3. Passados 11 anos, o pelotão continua a render homenagem a Bruno Neves

Desde o seu falecimento, a 11 de Maio de 2008, a família do ciclista Bruno Neves eterniza o seu nome e o seu legado nesta corrida, para além da própria escola de ciclismo criada nesse ano. No decurso do Memorial, consegue-se perceber o sentimento que esta prova alberga em si, não só pela transparente emoção no rosto dos familiares de Bruno Neves, mas também pela forma como os ciclistas abraçam a corrida e a expressão facial e corporal com que vivem a subida ao pódio.

Disputar a corrida, lutar pela vitória, vestir com orgulho cada camisola ganha nesse dia e abraçar com real sentimento a mãe de Bruno é uma das melhores formas de não deixar esquecer o ciclista que vivia para ser feliz na bicicleta e que com um simples sorriso a todos cativava. Por vezes, uma vitória não é só mais um número que juntamos ao palmarés de um ciclista. É muito mais do que isso. É o relembrar a razão pela qual este desporto é tão especial. É mostrar o lado mais humano daqueles que olhamos como inquebráveis super-heróis, como fez ‘Chava’ Angulo.

Bruno Neves tinha apenas 26 anos quando um ataque cardíaco o levou em plena competição, tendo desenhado até então uma brilhante carreira desde as camadas de formação. No Memorial homenageia-se o brilhante ciclista e a pessoa que foi Bruno Neves.




4. A difícil tarefa dos ciclistas sub-23 das equipas de clube

O número é grandioso e, ao mesmo tempo, assustador: entre as equipas de clube portuguesas e espanholas presentes, 42 ciclistas sub-23 não terminaram o Memorial Bruno Neves. Este não é caso único. Desde o início da época, esta realidade tem sido uma constante nas provas nacionais disputadas com o pelotão continental.

Com escassíssimas oportunidades de disputar provas exclusivas ao seu escalão, e não tendo acesso a todas as provas do calendário português de estrada, os ciclistas sub-23 das equipas de clube vêem o seu ritmo competitivo ser totalmente díspar dos ciclistas das equipas continentais e continentais sub-25, sendo a continuidade em prova uma difícil tarefa e o abandono prematuro da prova o resultado que fica no papel e pode evidenciar no futuro uma alta taxa de abandono da modalidade em tenra idade, fruto da falta de motivação que este facto provoca nos jovens.

Revela-se premente a criação de mais corridas direccionadas ao escalão sub-23, nas quais se possa desenvolver uma correcta formação dos jovens ciclistas, tentando assim evitar a alta taxa de abandono que actualmente se verifica nas provas realizadas em conjunto com os corredores profissionais. É positivo para os jovens poderem correr conjuntamente com os profissionais, se a sua formação for complementada com provas direccionadas ao seu escalão.

Para além do abandono precoce da modalidade, que este factor pode gerar a curto prazo, também se coloca a questão dos patrocinadores das equipas de clube colocarem em causa a durabilidade dos projectos, dada a escassez de resultados obtidos. Dá que pensar sobre como se está a preparar o futuro da modalidade em Portugal, pois com uma escassa formação de jovens no presente, não haverá profissionais no amanhã.



Classificação Geral 11º Memorial Bruno Neves:
1º Antonio Angulo (Efapel) 3h18m24s
2º Joni Brandão (Efapel) a 21s
3º Luís Fernandes (Aviludo-Louletano) a 28s
4º César Fonte (W52-FC Porto) a 32s
5º Frederico Figueiredo (Sporting-Tavira) a 33s
6º Tiago Machado (Sporting-Tavira) a 1m01s
7º Bruno Silva (Efapel) a 1m26s
8º Pedro Miguel Lopes (UD Oliveirense/InOutbuild) a 1m46s
9º Joaquim Silva (W52-FC Porto) a 1m50s
10º Gaspar Gonçalves (Miranda-Mortágua) a 1m55s

Geral Juventude:
1º Pedro Miguel Lopes (UD Oliveirense/InOutbuild)
Geral Juventude Equipas de Clube:
1º Gabriel Silva (Aluminios Cortizo)
Geral Equipas:
1ª Efapel
Geral Montanha:
1º Bruno Silva (Efapel)
Geral Sprints:
1º Joni Brandão (Efapel)
Geral Metas Volantes:
1º Daniel Freitas (Miranda-Mortágua)




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