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Entrevista Amaro Antunes: "Neste momento estou simplesmente a ir dia-a-dia"


Ele é o único ciclista português no 102º Giro d’Italia. Aos 28 anos, Amaro Antunes está a disputar a sua primeira grande volta ao serviço da WorldTour CCC Team. Com uma primeira semana pedalada, já deixou para trás 1504,8 quilómetros e nove etapas, ocupando o sétimo lugar na classificação geral. Pela frente tem ainda 2074 quilómetros, 12 etapas e os mais duros dias de montanha. No primeiro dia de descanso, Amaro Antunes concedeu-nos uma entrevista, na qual reflecte os primeiros dias vividos na sua estreia na Corsa Rosa.

Amaro Antunes na sua estreia no Giro d'Italia (Foto: Chris Auld / CCC Team)

Como vês a tua prestação no Giro durante a primeira semana?

A.A.: “Para ser sincero, tem sido uma surpresa até para mim, pelos problemas que tive anteriormente. Estar praticamente na dúvida de vir ou não até à última hora e conseguir terminar a primeira semana no Top 10 é para mim um motivo de orgulho e, acima de tudo, é algo que me deixa muito motivado para o que aí vem.”

Vês-te como líder da CCC Team?

A.A.: “Neste momento, estou simplesmente a ir dia-a-dia, até porque a verdadeira montanha ainda não apareceu e estou também eu um pouco reticente e na expectativa para ver como o meu corpo reage. A paragem que fiz praticamente 15 dias antes de vir, na altura em que tinha de treinar mais, não sei se me irá afectar ou não. Para já, as sensações estão a ser bastante boas, melhor do que eu esperava. Falar do que ainda falta, não o faço, porque eu próprio não sei… posso chegar a um dia de montanha e estar bem ou simplesmente explodir. Daí eu próprio estar na expectativa. Depois de apanhar uma ou duas etapas de montanha, aí sim posso ter uma ideia do que posso fazer neste Giro.”

Até ao momento, qual foi o dia mais difícil neste Giro?

A.A.: “Acaba por ser não só um dia, mas uma semana dura, acima de tudo pela quilometragem. Têm sido etapas bastante longas. Se tivesse de eleger um dia, elegia o dia a seguir ao que andei em fuga, porque foi vivido a um ritmo frenético… quando se pensava que ia ser uma etapa aparentemente tranquila, foi uma etapa bastante dura da um ritmo frenético.”

Daqui para a frente, há alguma etapa que receies mais?

A.A.: “Para ser sincero, como sempre sou, apenas abro o livro para ver a etapa do dia seguinte. Ainda não reflecti naquilo que tenho em diante. Sei que há etapas muito duras, como a do Mortirolo [Etapa 16], que passa por Passo Gavia, mas para ser sincero ainda não me foquei muito nessas etapas, porque quero estar tranquilo, relaxado e ir dia-a-dia respondendo às sensações do corpo. Mas sempre na expectativa, como é óbvio. Tenho que ser realista, ciente do que posso fazer, e até chegar o dia D, o dia da alta montanha, aguardo com expectativa e com vontade de deixar tudo na estrada.”

Sobre o dia de descanso, como é passado?

A.A.: “Como amanhã é dia de etapa plana e, aparentemente, sem grandes dificuldades, fizemos menos treino. Já no segundo dia de descanso não será tão relaxado, porque teremos etapa de montanha a seguir. Mas hoje foi bastante tranquilo, um treino ligeiro de 1h30 e, depois, seguiu-se as massagens, comida e descansar para a nova etapa.”

Em relação ao ambiente do pelotão, quais as diferenças entre um pelotão da Volta a Portugal e do Giro d’Italia?

A.A.: “Na Volta a Portugal vive-se um ambiente mais familiar, ou seja, todas as equipas se conhecem, todos os atletas falam uns com os outros, mesmo nos momentos mais relaxados das etapas. Aqui vive-se mais a tensão, existe uma tensão redobrada e nos momentos decisivos das etapas ainda mais.”

E o ambiente na CCC Team?

A.A.: “É um ambiente normal, de trabalho, de profissionalismo. Vive-se muito a nível táctico as questões de corrida, todos os pequenos detalhes, desde onde tem de estar o massagista a dar água, o que poderá suceder, a visualização das etapas na televisão antes das mesmas iniciarem, ou seja, é um ambiente muito profissional, onde se tem tudo em conta para nada falhar. Quando regressamos das etapas, reflectimos sobre como foi o dia e aí termina a pressão, tentam que sejam momentos de relaxamento e de respirar fundo.”

A última etapa é um crono em Verona. Como te imaginas nesse dia?

A.A.: “É uma boa pergunta, acho que só mesmo em Verona conseguirei saber o desfecho. Para já, é o que tenho vindo a dizer, é uma incógnita para mim. O povo português está com uma enorme expectativa e tem-me dado um enorme apoio, mas há que esperar para ver. Uma coisa é certa, tudo farei e deixarei na estrada e em Verona veremos o que sucede.”

Sentes esse apoio do povo português aí em Itália?

A.A.: “Sim, bastante. Tenho estado um pouco estupefacto, porque somos um povo pequeno, mas grande ao mesmo tempo. Por exemplo, ontem, no contra-relógio, vi várias bandeiras portuguesas e com uma delas veio uma pessoa a correr a meu lado na parte final da etapa. Confesso que ver aquilo arrepiou-me bastante, é gratificante sentir esse carinho das pessoas.”

Quem são para ti os principais favoritos à vitória do Giro?

A.A.: “Sem sombra de dúvidas, temos visto um Roglic bastante superior a todos os outros. Penso que acaba por ser o favorito. É óbvio que haverá mais atletas, como Simon Yates, Nibali, mas no meu entender Roglic poderá ser o vencedor, se não tiver um dia mau. O ano passado falávamos que Yates tinha o Giro garantido e, no entanto, a três etapas do fim houve aquele desfecho [a vitória de Chris Froome].”

Amaro Antunes terminou a primeira semana do Giro em 7º da geral (Foto: Chris Auld / CCC Team)



--English Version--

Amaro Antunes interview: "At this moment I am simply going day by day"

He’s the only Portuguese rider in the 102nd Giro d'Italia. At the age of 28, Amaro Antunes is riding his first Grand Tour for the WorldTour CCC Team. With a first week done, he has already left behind 1504,8 kilometers and nine stages, being seventh in the overall classification. Ahead he still has 2074 kilometers, 12 stages and the hardest mountain days. On the first rest day, Amaro Antunesgave us an interview, in which he talks about the first days at his debut in the Corsa Rosa.

How do you see your performance in the Giro during the first week?

A.A .: “To be honest, it has been a surprise even for me, for the problems I had before. To be practically in doubt to come or not until the last hour and to be able to finish the first week in the Top 10 for me it’s a reason of pride and, above all, something that leaves me very motivated for what is yet to come.”

Do you see yourself as the leader of the CCC Team?

A.A .: “At this moment I am simply going day by day, because the true mountain has not yet appeared and I am also a little reticent and looking forward to see how my body reacts. I stopped riding 15 days before I came here, just when I had to train more, and I don’t know if it will affect me or not. For now, the sensations are being pretty good, better than I expected. Talk about what is still ahead, that I don’t do, because I don’t know... I can reach a mountain day and be good or just explode. That's why I’m looking forward to see it myself. After riding one or two mountain stages, then I can have an idea of ​​what I can do in this Giro.”

So far, what has been the most difficult day in the Giro?

A.A .: “It’s not just one day, but a whole hard week, above all by the long distance in kilometers. It's been quite long stages. But if I had to choose one day, I would choose the day after what I was on the escapee, because it was ridden at a frenetic pace... when we thought it was going to be an apparently quiet stage, it was a rather hard stage with a frenetic pace.”

From now on, is there any stage you fear the most?

A.A .: “To be honest, as I always am, I only open the road book to see the next day's stage. I haven’t reflected on what is yet to come. I know there are very hard stages, like the Mortirolo [Stage 16], which passes through Passo Gavia, but to be honest I haven’t focused on those stages, because I want to be calm, relaxed and responding day by day to the sensations of the body. Of course, I’m always in expectation. I have to be realistic and aware of what I can do and until the D day comes, the day of the high mountain, I look forward to it and I want to leave everything on the road.”

About the rest day, how is it?

A.A .: “Since tomorrow is a flat stage day, and apparently without big difficulties, we did less training. But on the second rest day it will not be so relaxed, as next we will have a mountain stage. But today was quite quiet, a light training of 1h30 and then followed by the massages, food and some rest for tomorrow’s stage.”

About the atmosphere of the peloton, what are the differences between a peloton of the Volta a Portugal and the Giro d'Italia?

A.A .: “In the Volta a Portugal it’s a more familiar atmosphere, that is, all teams know each other, all athletes talk to each other, even in the most relaxed moments of the stages. Here we live 
more the tension, there is an intensified tension and in the decisive moments of the stages even more.”

What about the CCC Team atmosphere?

A.A .: “It’s a normal atmosphere of work, of professionalism. There is a lot of attention to the tactical issues of the race, all the small details, from where the staff has to be to give the water, the things that can happen, the visualization of the stages on television before the start. It’s a very professional atmosphere, where you have everything in count for nothing to fail. When we return from the stages, we reflect on how the day went and then the pressure ends, trying to be moments of relaxation and deep breathing.”

The last stage is a time trial in Verona. How do you imagine yourself that day?

A.A .: “That's a good question, I think we can only know the end in Verona. For now, that's what I've been saying, it's a mystery for me. The Portuguese fans have a huge expectation and have given me a lot of support, but we have to wait and see. One thing is certain, I will do everything and leave everything on the road and in Verona we will see what happens.”

Do you feel this support of the Portuguese fans in Italy?

A.A .: “Yes, quite a lot. I've been a bit astonished, because we are a small population, but big at the same time. For example, yesterday, at the time trial, I saw several Portuguese flags and with one of them came a person running next to me in the final part of the stage. I confess seeing that gives me goosebumps, it’s pleasing to feel this affection of people.”

In your opinion, who are the main favorites to win the Giro?

A.A .: “Without a doubt, we have seen one Roglic far superior to all the others. I think it turns out to be the favorite. Obviously there will be more riders such as Simon Yates, Nibali,
but in my opinion Roglic could be the winner if he does not have a bad day. Last year we said Yates had the Giro guaranteed and, in the end, three stages from the finish there was that outcome [Chris Froome victory].”


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