“Sabes se as equipas já estão todas fechadas? Até agora não recebi qualquer telefonema e não sei se irei continuar no ciclismo.” “¿Sabes si hay algún equipo portugués buscando corredores hacia la próxima temporada?” “I'm looking for an opportunity in the Portuguese cycling. Do you know of any opportunity?”
Não importa a nacionalidade ou a idade. Não importa se está há muito ou pouco tempo no ciclismo. No final de cada ano, a incerteza quanto ao futuro profissional abrange um sem número de ciclistas, sejam eles donos de experiência ou não. E o nosso telemóvel não pára de receber mensagens com pedidos de informação sobre uma qualquer oportunidade que possamos ter conhecimento.
Por inúmeras razões, os ciclistas vivem em cima de uma corda bamba durante os últimos meses do ano, como se de trapezistas se tratassem, mas sem rede de segurança. Lá do alto, vão paulatinamente vendo os lugares serem preenchidos, as equipas uma a uma a fechar os seus plantéis e o seu telemóvel continua sem tocar. A cada sinal de mensagem ou toque de chamada, as mãos correm para o telemóvel e o olhar desvanecesse assim que se apercebem de não ser a chamada ou mensagem tão aguardada.
Ao contrário de anos passados, actualmente os mais jovens tentam conciliar os estudos com o ciclismo, como forma de prevenir o futuro e ter na mão um plano B quando o plano A de uma carreira enquanto ciclista profissional simplesmente se gora.
Contudo, não são todos os que conseguem manter o equilíbrio entre os estudos e o desporto ao nível profissional, abraçando a 100% a carreira de ciclista, deixando-se levar muito mais pela paixão do que pela razão. Se no ano da tomada de decisão tudo corre bem, a escolha torna-se evidentemente positiva. Mas há casos em que o ano a nível desportivo não corre bem e o final de temporada traz consigo a má notícia da despensa da equipa e a não contratação por parte de qualquer outra.
Nesse momento, o vazio sentido é ainda maior do que para aqueles que mantiveram o plano B dos estudos, pois para uns há um segundo objectivo a perseguir, enquanto para outros o fim da carreira de ciclista se assemelha a um tirar de tapete sem aviso prévio.
No que toca aos ciclistas profissionais com alguns anos de carreira, a ausência de oportunidades é muitas vezes sentida como uma falta de consideração por todos os anos que se dedicaram à modalidade, prescindindo de boa parte da sua vida pessoal para treinar e estar em forma no cumprimento dos objectivos das respectivas equipas, a maioria desempenhando o papel de gregários.
Quantos trabalharam corrida após corrida para o seu líder chegar à vitória, dando espaço para o outro brilhar em detrimento do seu próprio brilho? Chegar ao final de uma época e não ver esse trabalho reconhecido, com uma renovação de contrato ou oportunidade numa outra equipa, é negativamente avassalador para si e para a sua família.
Há também o caso daqueles que se mantêm no pelotão ano após ano, sem grande retorno salarial, mas sempre com a esperança de ver no ano seguinte o seu trabalho condignamente reconhecido, não abandonando a modalidade pelo simples facto de sentirem que pelo ciclismo, por amor à bicicleta, todo o esforço vale a pena enquanto as portas não se fecharem por completo.
A derradeira esperança mora na última chamada, efectuada pelos próprios ciclistas, em busca de uma palavra definitiva por parte do director desportivo. Essa chamada termina quase sempre com um “já temos a equipa fechada”.
É vasta a lista de ciclistas que irão deixar o pelotão profissional português no final de 2018, tendo este blogue optado por não referir nomes, devido a poder sempre ficar em falta. Se gostariam de ver contado o vosso testemunho, não hesitem em contactar.
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