Nos anos
recentes do ciclismo, Portugal parecia estar a passar por uma fase de
adormecimento no interesse dos olhares internacionais. Mesmo conquistando
resultados importantes, nada parecia atrair a atenção para o cantinho da Península
Ibérica. Até que num belo dia de Setembro deste ano, Rui Costa decidiu culminar
a brilhante época de vitórias com o título de Campeão do Mundo de Estrada. O que
muitos ‘lá fora’ não acreditavam ser possível, muitas vozes ‘cá dentro’ gritavam
como sendo uma hipótese muito real o vencedor do Tour de Suisse e de etapas do
Tour de France ser capaz de alcançar. Foi então que o feito histórico de Rui
Costa, a vestir o arco-íris e a beijar o ouro mundial, elevou o ciclismo luso
para um patamar jamais alcançado, mas nem por isso parco em episódios notáveis.
Para traçar
a nossa história e perceber como chegámos até aqui, por vezes os olhares
internacionais deparam-se com os difíceis momentos por que passámos e perdem-se
em memórias menos positivas, esquecendo haver muito mais para além dessa
estrada. Percorremos com os heróis lusos inúmeras provas estrangeiras, o Tour,
o Giro e a Vuelta, Campeonatos do Mundo e da Europa, sem esquecer os Jogos
Olímpicos. Tivemos Joaquim Agostinho a derrubar etapas no Tour, até o mítico
Alpe d’Huez em 1979, também na Vuelta deixou a sua marca em etapas e em ambas
as provas marcou presença no pódio. Igualmente Acácio da Silva triunfou nas
grandes voltas e chegou a vestir o maillot
jaune do Tour e a maglia rosa do
Giro, no qual fez do Etna a sua etapa inesquecível de 1989.
Num palmarés
infindável de vitórias nas mais importantes corridas internacionais,
encontramos muitos nomes lusitanos mostrando a real dimensão do valor do
ciclismo nacional. Não é de hoje, é de sempre. Desde Alves Barbosa a brilhar
numa etapa da Vuelta de 1961, passando por Paulo Ferreira e o seu triunfo numa
etapa do Tour de 1984, lembrando ainda, entre outros tantos rostos, o de José
Azevedo e a sólida carreira construída enquanto ciclista profissional,
culminando como um dos directores desportivos de renome em equipas do
WorldTour, nomeadamente a RadioShack e no próximo ano estreando-se na Katusha.
Escassos
mas gloriosos são os ciclistas medalhados. O ouro de Cândido Barbosa no Europeu
sub-23 de 1996; o ouro de Sérgio Paulinho na prova de rampa em cadetes nas Jornadas
Olímpicas da Juventude e o bronze em contra-relógio no Mundial de 2002; a prata
de Nelson Oliveira no contra-relógio do Mundial sub-23 em 2003 e em 2010 o bronze
no contra-relógio e a prata em linha no Europeu sub-23. Memórias que contam
ainda com o bronze de Rafael Reis no Europeu de Juniores e a vitória no contra-relógio
dos Jogos Olímpicos da Juventude em 2010. E é precisamente nos Jogos Olímpicos
que reside o momento para muitos visto como o mais memorável de todos, a prata
olímpica de Sérgio Paulinho em Atenas em 2004, corredor que fez o pelotão
internacional render-se ao seu talento de gregário e ainda nos brindou com a
vitória de uma etapa no Tour de France.
Como é
notório, Portugal não se reduz a um ou dois momentos importantes no ciclismo
internacional e, actualmente, encontramos nos escalões de formação corredores que
unem a estrada e a pista no seu plano de crescimento como atletas e acabam a glorificar
o país com o brilho da prata no Europeu de Pista e o brilho do bronze no
Mundial de Pista, falamos dos juniores Rui Oliveira e Ivo Oliveira. O que estes
dois jovens alcançaram este ano é de suma importância para um país que quer
crescer em pista e cimentar o trabalho em estrada. Acima de tudo, demonstra que
o passado é memorável, o presente glorioso e o futuro bastante prometedor. Brindemos ao ciclismo português!
(escrito em português de acordo com a antiga ortografia)
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