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Reflexão… deve o ciclismo continuar a implorar pela atenção da imprensa escrita?



Nas últimas décadas, o ciclismo desapareceu das primeiras páginas dos jornais portugueses. A razão? O que vende é o futebol e a imprensa dá ao seu público o que ele quer. Esta premissa perdura há muito tempo, passando de boca em boca como explicação irrefutável para que mais nenhuma (ou quase nenhuma) modalidade ocupe lugar de destaque num jornal diário desportivo ou generalista.

A pergunta impõe-se: os jornais, inclusive as revistas, não vendiam inúmeros exemplares quando o ciclismo preenchia maioritariamente a capa? Nessa época, o futebol já era visto como o desporto rei. Contudo, havia espaço para todas as modalidades, todas eram respeitadas por igual. A importância do momento vivido era destacado, fosse qual fosse a modalidade em causa.

Como se pode tomar a referida premissa como verdade absoluta se não alteram por uma vez a rotina jornalística? Nem com a segunda vitória histórica alcançada por Rui Costa no Tour de Suisse a realidade mudou. Só podemos chegar a uma conclusão… Actualmente, os jornais 'vivem ao sabor de uma força maior', que apenas corresponde aos interesses de alguns e não ao interesse e gosto de todos. E o último episódio desta história teve lugar dias atrás, quando o jornal 'A Bola' deu quase toda a primeira página à vitória de Michelle Brito frente a Maria Sharapova, não sendo uma final mas sim uma ronda do torneio de Wimbledon. Sim, é um feito histórico. Não foi maior o de Rui Costa ou as medalhas alcançadas pelos atletas da canoagem? O ténis, como o futebol, move montanhas que o ciclismo parece não mover. 

No passado, a 'Flama' era o ícone nas revistas, que não prescindia de preencher as suas capas com esta modalidade. Nos jornais era difícil perceber, entre os generalistas, qual dava maior destaque ao ciclismo nacional. 'Diário de Notícias', 'Jornal de Notícias', o saudoso 'A Capital', entre outros... todos espelhavam na primeira página os feitos dos ciclistas portugueses, tanto nas estradas lusas como além-fronteiras. Hoje em dia podemos contar com alguns jornais locais e regionais, que ainda resplandecem o ciclismo nas suas primeiras páginas. E sempre podemos ter algumas boas surpresas, que fazem acender a esperança... folhear o semanário 'Expresso' e encontrar um destaque como o que foi dado a Rui Costa logo nas primeiras páginas. Não fez capa, é certo. Mas também não foi arremessado para as últimas páginas após uma série de notícias de futebol. Além do mais, este é um jornal de referência nacional, importante factor para esta reflexão.

No entanto, a pergunta permanece... deve o ciclismo continuar a implorar pela atenção da imprensa escrita? 

(escrito em português de acordo com a antiga ortografia)

Comentários

  1. Eu concordo que deve haver espaço para todos os desportos e o Rui deveria ter feito capa quando ganhou a Volta à Suíça, mas compreende-se totalmente a capa da Michelle e a não-capa do Rui Costa.
    Para quem está dentro do ténis (como é o meu caso) dá para ter noção do tamanho da vitória da portuguesa. Ela não ganhou só à nº 2 do mundo na 2ª ronda do maior torneio do mundo (Wimbledon). A Michelle bateu a MARCA Sharapova que é uma das marcas desportivas mais sonantes do planeta, ao nível de vários futebolistas de classe mundial. O ténis não "move mais montanhas" do que o ciclismo, não pensem isso, simplesmente este feito, a nível mediático e não desportivo, esteve acima de qualquer outro feito nas restantes modalidades.
    Mas volto a referir que concordo que as outras modalidades também mereciam ter destaque.

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  2. Eu sigo as duas modalidades com grande atenção, ténis é o desporto que me prende quando nao há ciclismo para ver, mas não concordo que o "vencer uma marca" seja mais importante que uma competição desportiva de tal importância como é a Volta à Suiça.
    Não gosto do que o desporto e a imprensa desportiva se está a tornar, só há destaque às modalidades que gerem dinheiro. E quanto mais destaque existe, mais dinheiro gerem. É errado e a essencia do desporto vai desaparecendo...

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  3. Pois muito bem, o Rui não venceu o número dois é claro pois venceu a pedido do público e não jornalista o n. 1 a ser o melhor atleta se 2012.
    É atualmente o n10 da uci, ho mas o que isso intessa...
    É um ser humano excelente, bom filho, boa pessoa, solidário, humilde, carinhoso, há e acima de tudo honesto.
    Pois reparem eu organizei um evento solidário em que outras personalidades estiveram presentes e a convite, o Rui apadrinhou a causa e o evento e sabem que mais, foi o único que exigiu doar os 5€ de igual forma aos que pagaram para estar a ser solidários e poderem pedalar a seu lado.
    È a primeira vez que falo nisso, se calhar se exigisse cache para as entrevistas anteriormente dadas teriam mais respeito por ele. Não tenho nada contra a Michelle mas teve um protagonismo diferente, a meu ver injusto. Assim como os atletas de canoagem modalidade que representei durante anos em alta competição.

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  4. Mais um excelente artigo Helena. Pois lá está a velha questão da imprensa e o ciclismo...
    Na minha opunião trata-se de u ma questão de mentalidades de quem está à frente das redacções... A actual geração cresceu e formou-se a falar de futebol, afinal até é um meio que envolve muito dinheiro (e aqui ja dava para mais uma longa conversa...) e os OCS deixaram-se acomodar... Infelizmente para as outras modalidades. A esperança é que mudem essas mentalidades, porque o publico continua a gostar de ciclismo....

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