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Frederico Figueiredo, tricampeão do Troféu Joaquim Agostinho: “É um marco muito importante na minha carreira”

Parece ter sido ontem que vimos pela primeira vez Frederico Figueiredo (Glassdrive-Q8-Anicolor) na nossa primeira incursão pelo Troféu Joaquim Agostinho, corria o ano de 2012 e era ainda sub-23 da equipa do Sport Ciclismo S. João de Ver. Nesse remoto ano, foi 23.º na classificação geral e o oitavo melhor jovem na prova. Passada uma década, aos 31 anos acaba de conquistar o Troféu pela terceira vez consecutiva na sua carreira, um feito que nenhum outro corredor conseguiu alcançar na mítica prova portuguesa.

Frederico Figueiredo prestou homenagem na estátua de Joaquim Agostinho (foto: Helena Dias)

Frederico Figueiredo aos 21 anos (à esquerda), ao lado de António Barbio no alto da Carvoeira, Troféu Joaquim Agostinho 2012 (foto: Helena Dias)

Frederico Figueiredo começou a deixar a sua marca na galeria de vencedores do Troféu Joaquim Agostinho em 2020, conquistando a camisola amarela pela equipa Atum General-Tavira-Maria Nova Hotel. No ano seguinte, mudou-se para a equipa Efapel, que este ano se designa Glassdrive-Q8-Anicolor, e com esta estrutura conquistou por duas vezes a camisola amarela, em 2021 e 2022.

Duas diferenças marcaram a vitória da presente 45.ª edição para as anteriores: a existência de um contra-relógio individual e o crescente nível do pelotão. Frederico Figueiredo conseguiu defender-se na especialidade de contra-relógio que não é a sua, perdendo no prólogo 23 segundos para Tiago Antunes (Efapel), que vestiu a camisola amarela durante dois dias. Ao terceiro dia, a amarela mudou de mãos para Daniel Freitas (Rádio Popular-Paredes-Boavista), partindo Frederico para a derradeira etapa a 16 segundos do primeiro lugar do pódio. Fazendo justiça à sua reconhecida qualidade enquanto trepador, num terreno inclinado bem ao seu jeito, foi rei no alto do Montejunto e conquistou a classificação geral por 46 segundos sobre o espanhol Joan Bou (Euskaltel-Euskadi) e 56 segundos sobre o português Tiago Antunes (Efapel).

Frederico Figueiredo foi rei no alto do Montejunto (foto: Helena Dias)

O Cycling & Thoughts conversou com Frederico Figueiredo, tricampeão do Troféu Joaquim Agostinho.

Cycling & Thoughts: Qual o significado de vencer o Troféu Joaquim Agostinho pela terceira vez, sendo o primeiro corredor a alcançá-lo na história da prova?

Frederico Figueiredo: “Já queria ganhar mal me disseram que podia bater o recorde. Fiquei logo com essa ideia de repetir a vitória. Para mim, é um marco muito importante na minha carreira ganhar uma corrida como o Troféu Joaquim Agostinho, que homenageia um grande ciclista e é uma corrida internacional importante no nosso calendário. No início da época, quando o Rúben Pereira [director desportivo] falou do calendário que eu pretendia, disse-lhe que queria repetir o Troféu Joaquim Agostinho. Perguntei acerca do percurso e quando vi que voltava a ter contra-relógio fiquei um bocadinho assustado, mas é algo que também tenho vindo a trabalhar.”

C&T: Este ano, o Troféu subiu de nível em termos de comunicação, qualidade do pelotão, equipas estrangeiras presentes e corredores que trouxeram. Sentiste isso?

FF: “Sim, tínhamos comentado exactamente isso a faltarem dois ou três meses para a corrida, que o Troféu estava a trabalhar muito bem a imagem, usava muito as redes sociais para divulgar a corrida. No início da época, estiveram na Volta ao Algarve a gravar entrevistas com os directores desportivos e alguns ciclistas. A nível de equipas, não me lembro de nos últimos anos termos tido um pelotão tão recheado de talento e de bons ciclistas, convidaram blocos fortes. Para nós, para mim em particular, é bom, pois dá mais valor à vitória. É importante também para a corrida a nível mediático, já que olhamos os jornais portugueses e vemos que não deram tanto destaque à corrida como deviam dar, porque nesta altura do ano temos o Tour e combater com o Tour não é possível.”

Frederico Figueiredo à partida para o contra-relógio (foto: Helena Dias)

C&T: O Troféu voltou a ter o contra-relógio no primeiro dia e, apesar de não ser a tua especialidade, conseguiste dar a volta à vantagem dos adversários e fazer a diferença no Montejunto.

FF: “No contra-relógio tentei defender-me da melhor maneira. Não era um percurso que se adaptasse muito a mim, porque estava muito vento, muito perigoso e não quis arriscar tudo a faltar um mês para a Volta a Portugal, mas tentei sempre dar o meu melhor. Quando terminei, vi que não tinha perdido muito tempo para os rivais mais directos e isso motivou-me. Encarei a corrida da melhor maneira e tinha que ir em busca dos segundos que tinha perdido. Tentei logo no dia a seguir na chegada ao Sobral de Monte Agraço, onde ganhei seis segundos, e no último dia era uma subida ao meu jeito. Já a conhecia do ano passado, mas nunca tinha ganho no alto do Montejunto, ganhei este ano. Aproveitei um bocadinho o trabalho do Joan Bou [Euskaltel-Euskadi], que sabia estar muito forte. Tínhamos falado no início da corrida e ele disse que também vinha à Volta a Portugal, que ainda não tinha feito nenhum estágio de altitude, mas que se encontrava bem, porque vinha de um período de quase um mês de corridas. Sabia que era importante aproveitar o trabalho dele e foi assim. Logo no início da parte dura ele arrancou e eu, a faltarem 500 ou 600 metros da parte dura da subida, arranquei e tentei fazer a diferença nessa parte mais inclinada, que é a parte que me favorece mais. Depois, tentei manter o ritmo. Acabei por ter um bocadinho de sorte por lá atrás não ter havido um entendimento tão rápido e organizado e eu tentei manter sempre o meu ritmo. Penso que o ano passado estava mais forte, mesmo a nível de tempos andou-se mais rápido o ano passado, talvez por o Troféu ter sido 15 dias mais tarde, mais perto da Volta a Portugal.”

Frederico Figueiredo, Joan Bou e Tiago Antunes ocuparam os lugares do pódio (foto: Helena Dias)

C&T: Além do Troféu Joaquim Agostinho, este ano ganhaste a Clássica Aldeias do Xisto e a Volta a Albergaria. A Glassdrive-Q8-Anicolor é a equipa mais vitoriosa, tal como no ano passado. O vosso segredo passa pelo individual ou o colectivo?

FF: “Temos um grande grupo e penso que esse é o segredo de tudo. Vemos um Rafael Reis, que voltou ao nível que tinha nos contra-relógios, mas não é uma coisa nova, pois foi sempre um ciclista que andou muito nos contra-relógios desde as camadas jovens. Temos jovens, que entram na equipa e deparam-se com muitas condições a nível de bicicletas e de tudo o que engloba uma equipa de ciclismo, e parece que dão um salto de qualidade. Eles já têm essa qualidade, mas mudando para uma equipa que lhes mete mais responsabilidade em cima, parece que têm um clique maior. E temos ciclistas para todo o tipo de terreno. O Luís Mendonça, que é um todo-terreno, pode ganhar em qualquer percurso, e eu nas subidas, como nas corridas que ganhei este ano com chegadas em alto. Temos um bloco muito forte, num misto de juventude e ciclistas mais velhos, e esse tem sido o segredo da nossa equipa.”

C&T: Este mês de Julho vamos ter três corridas em Portugal [GP do Douro, GP Anicolor e GP Mortágua]. Quais irás fazer?

FF: “Em princípio só irei fazer as corridas de um dia, Anicolor e Mortágua, e também a Vuelta a Castilla y Léon, de dois dias.”

C&T: Depois chega a Volta a Portugal. O que podemos esperar de ti e da Glassdrive-Q8-Anicolor?

FF: “Nós partimos para a Volta a Portugal com um líder definido, que é o Mauricio Moreira. Todos na equipa sabemos disso e é com essa mentalidade que partimos. A época dele não está a ser a melhor, porque desde o início do ano já deu três vezes positivo por Covid-19, a última vez há cerca de um mês, e pelo meio teve um problema no joelho, mas penso que devemos dar-lhe um voto de confiança, porque é um ciclista com muita qualidade e certamente irá estar na luta pela Volta a Portugal. Quanto a mim, vou querer ser útil a tudo o que me pedirem na equipa, tal como o ano passado, que fui um ciclista de trabalho e ainda acabei por ficar em quinto na classificação geral. É isso que podem esperar de mim.”

Frederico Figueiredo festejou com o filho no pódio a conquista do Troféu (foto: Helena Dias)

C&T: Guardas o sonho de um dia vencer a Volta a Portugal?

FF: “Perguntar a um ciclista português se gostava de ganhar a Volta a Portugal, claro que todos têm esse sonho. Eu tinha o sonho de conquistar três vezes o Troféu Joaquim Agostinho, agora esse sonho já está alcançado. Tenho o sonho de um dia poder ser campeão nacional e claro que a Volta a Portugal também é uma corrida sempre presente. Gostava de ganhar, mas é como disse à equipa em relação ao Troféu Joaquim Agostinho, se ganhar três vezes ganhei, se não ganhar não vem nenhum mal ao mundo. O que interessa é fazermos o nosso trabalho e, no final, se conseguirmos atingir esses objectivos melhor, mas claro que gostava muito de um dia poder ganhar a Volta a Portugal.”

Frederico Figueiredo no final da etapa em Torres Vedras (foto: Helena Dias)

Resultados de Frederico Figueiredo em 2022:

CG Clássica Aldeias do Xisto
CG Volta a Albergaria
CG Troféu Joaquim Agostinho
Et3 Troféu Joaquim Agostinho
Montanha Clássica Primavera
Montanha Troféu Joaquim Agostinho
Pontos Troféu Joaquim Agostinho
Et1 Troféu Joaquim Agostinho
Et4 GP O Jogo
CG GP O Jogo
Taça de Portugal Elite
Et5 Volta ao Algarve
Et2 Troféu Joaquim Agostinho
10º Et2 GP O Jogo

Vitórias Glassdrive-Q8-Anicolor em 2022:
10 Classificações Secundárias
7 Etapas
6 Classificações Gerais
4 Classificações por Equipas
1 Jogos do Mediterrâneo Contra-relógio
1 Campeonato Nacional Elite Contra-relógio
1 Campeonato Nacional Sub-23 Fundo
1 Taça de Portugal Sub-23


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