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Pelotão luso, em busca dos talentos escondidos (2)

Dar o melhor na profissão que escolheram, mesmo que isso implique trabalhar em prol de vitórias alheias, em parte construídas ao sabor das suas pedaladas. Esta é a história de muitos ciclistas do pelotão, donos de um talento comprovado, mas que, aos olhos da maioria do público, vivem na sombra dos seus líderes. A eles o Cycling & Thoughts dedicou um primeiro artigo no início deste ano, regressando agora com “Pelotão luso, em busca dos talentos escondidos”, debruçando-nos nesta segunda edição sobre António CarvalhoFrederico Figueiredo e Ricardo Vale.

Recuando à primeira edição, falámos de Joaquim Silva, que após três épocas na W52-FC Porto irá rumar à equipa Pro Continental Caja Rural-Seguros RGA; Pedro Paulinho, que deixa Loulé para correr na Efapel; e David Rodrigues, que irá permanecer pela quarta época na RP-Boavista, tendo ganho este ano o Grande Prémio de Mortágua, num renhido sprint com Joaquim Silva.


António Carvalho [entrevista/perfil de 2015]


António Carvalho, de 28 anos, cumprirá a quarta temporada na W52-FC Porto, uma equipa onde tem deixado a marca como um dos melhores ciclistas do pelotão nacional, ou não tivesse ele fortes raízes familiares no ciclismo. Neto de Alberto Carvalho, antigo ciclista do Porto, e sobrinho de Fernando Carvalho, vencedor da Volta a Portugal de 1990, também António já deixou a sua assinatura nas mais importantes provas nacionais, vencendo a Volta a Portugal do Futuro de 2013 e coroando-se rei da montanha na Volta a Portugal de 2014.

Entrando muito cedo para a escola do tio, realizou grande parte da sua formação na Escola de Ciclismo Fernando Carvalho, para a qual entrou em 1998, no escalão de iniciados, permanecendo até 2008, apenas com o interregno do ano de 2002, quando viveu uma temporada no futebol. Em 2009 passou pelo espanhol Clube Ciclista Cidade de Lugo, regressando ao pelotão nacional no ano seguinte, pela equipa de Mortágua, onde ficou de 2010 a 2012.

O salto a profissional foi dado com a LA Alumínios-Antarte, onde esteve em 2013 e 2014, entrando em 2015 na estrutura actualmente designada W52-FC Porto. Na esquadra azul e branca fechou por duas vezes em 6º a Volta a Portugal (2017 e 2015), comprovando que tem as aptidões necessárias para alcançar o que muitos esperam de si: sagrar-se vencedor da prova rainha. Não é somente o público aficionado que vê António Carvalho como um futuro vencedor da Volta. Também companheiros de equipa prognosticaram esse marco na carreira do ciclista luso, como o ex-companheiro galego Delio Fernández (Delko Marseille Provence KTM).

Esta época voltou a distinguir-se pelo trabalho exímio e incondicional em prol da equipa, bem como pelos resultados individuais conquistados, nomeadamente sexto no Campeonato Nacional de Fundo, no Grande Prémio JN e na Volta a Portugal, sétimo na Vuelta a Castilla y León e na Volta a Albergaria.

Frederico Figueiredo


Frederico Figueiredo, de 26 anos, permanece em 2018 na equipa Sporting-Tavira. Chegado esta época à esquadra verde e branca, impôs-se como um dos elementos fundamentais na obtenção de bons resultados, à imagem do que construiu nas equipas por onde passou anteriormente.

Terceiro na geral do Troféu Joaquim Agostinho, quinto no Campeonato Nacional de Fundo e na Vuelta a Castilla y León, sexto no Grande Prémio Abimota, oitavo na Clássica da Arrábida, nono na Clássica Aldeias do Xisto e décimo no Grande Prémio Beiras e Serra da Estrela, podia ter somado uma grande prestação na Volta a Portugal, não fossem as quedas que o obrigaram a desistir. Tendo Rinaldo Nocentini e Alejandro Marque como líderes, trabalhou em prol da equipa, somando a esse trabalho resultados notáveis a nível individual.

O percurso no ciclismo iniciou-se em 2007 na equipa Manuquímica-Ferrinda-GDLousa, onde permaneceu durante três anos até passar para o Clube de Ciclismo José Maria Nicolau em 2010 e 2011, terminando os anos de formação sub-23 na equipa Liberty Seguros do Sport Ciclismo S. João de Ver, nos anos de 2012 e 2013. A passagem a profissional fez-se em 2014 pela RP-Boavista, mudando de cores em 2017 com a equipa Sporting-Tavira, uma mudança que acabou por ir ao encontro do seu coração leonino.

Se a nível nacional tem conseguido marcar o seu nome no pelotão, também o conseguiu internacionalmente ao ser 14º nos Mundiais de sub-23 (2013), no ano em que venceu a montanha na Vuelta a Madrid. Para além do sucesso obtido em provas espanholas, destacou-se ainda em França, onde correu por três vezes a Route du Sud, alcançando o melhor resultado em 2015 com um 9º lugar.

Ricardo Vale


Ricardo Vale, de 25 anos, terminou esta época uma ligação de cinco anos com a RP-Boavista. Em 2018, pedala na novíssima Vito-Feirense-BlackJack, sob o comando de Joaquim Andrade, seu director em sub-23 na equipa Maia.

Com valor comprovado desde as camadas de formação, ingressou em júnior na Silva & Vinha/ADR Ases de Penafiel em 2009, saindo no primeiro ano de sub-23 para o Bicicó Clube de Ciclismo, em 2011. O ano de 2012 viveu-o na Maia, entrando ainda em sub-23 para a equipa continental RP-Boavista, onde permaneceu de 2013 até ao final da presente época.

O ano de 2017 revelou-se inglório para Ricardo Vale, visto ter sofrido uma queda, que o impossibilitou de correr a maior parte do ano. Ao embater violentamente com o joelho, sofreu uma tendinite do tendão rotuliano e uma grave bursite no joelho.

Apesar da época em baixa, a nova equipa do pelotão Vito-Feirense-BlackJack não deixou fugir o talento conhecido do jovem corredor, que nos escalões de júnior e sub-23 foi escolha assídua para integrar a Selecção Nacional nas mais importantes corridas internacionais. Desde as clássicas Paris-Roubaix Júnior e Liège-Bastogne-Liège Sub-23, aos Campeonatos Europeus e Mundiais Sub-23, passando também pela presença no Tour de l’Avenir (Volta a França do Futuro), recaindo o destaque para o 24º lugar em Roubaix, 12º no Europeu Sub-23 de Ankara, na Turquia, e 19º no Europeu Sub-23 em Nyon, na Suíça. Correu a sua primeira Volta a Portugal em 2012, com as cores da Selecção, ano em que se destacou em 8º da geral na Volta a Portugal do Futuro.

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